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Cordel-->Sexo, Somente Sexo -- 10/06/2002 - 12:49 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
SEXO, SOMENTE SEXO
(por Domingos Oliveira Medeiros)

Hoje quase tudo é sexo. Quase tudo que se fala. Quase tudo que se pensa. Quase tudo que se escreve. É sobre o sexual. Mas pouca gente se atreve. A falar do sexo em geral. Quando muito ouve e cala. Parece até uma praga. Mas nem tudo que se escreve. E nem tudo que se propaga. É a respeito do sexo. Do sexo dito integral. O assunto é complexo. E o assunto tem nexo. O sexo vai mais alem. Do que o ato sexual. Fala-se apenas do sexo. Como se isso fosse o final. O sexo como instinto. O sexo só animal. O sexo é bem distinto. Do sexo apenas carnal.

Exclui-se do sexo o amor. A sua parte sensual. Não se fala do musical. Não se ouve o cantor. E nem mesmo o professor. Do chamado sexo integral. De quem ensina a matéria. Com clareza e maestria. Dentro da geometria. Da geometria espacial. Falando do sexo total. Sexo do côncavo e do convexo. Desse sexo fala-se pouco. Ninguém se quer fica rouco. Talvez por ser mais complexo. Talvez por achá-lo anormal. E apelam para o erotismo. O erotismo banal. O erotismo oportunista. Do sexo neoliberal. E assim se fala bastante. Essa tem sido a constante. Mas não há sinceridade. Prá esclarecer a verdade. A falta de informação. Ajuda na confusão.

Fala-se sempre de outro sexo. Do sexo da era eletrônica. O sexo da pilha atômica. O sexo do vibrador. Do chicote violento. Do sofrimento e da dor. O sexo vaginal. E também o sexo anal. O sexo sem compromisso. O sexo pela via oral. O sexo da alegria. O sexo do Carnaval. O sexo que cabe recurso. Recurso judicial. O sexo transcendental. O sexo que faz o bem. E o sexo que se faz mal. Do sexo mais trivial, ao sexo premeditado. O sexo que aconteceu. O sexo da maternidade. O sexo de quem já nasceu. O sexo de quem morreu. O sexo de quem é mendigo. O sexo embaixo da ponte. O sexo feito pelo umbigo. O sexo de muita gente. O sexo em conta-corrente. O sexo no banco da praça.

O sexo da eleição. O sexo do presidente. O sexo do deputado. Do prefeito e do senador. O sexo sem fiador. O sexo do candidato. O sexo do devedor. O sexo da competição. O sexo de direito e de fato. O sexo de quem é honesto. O sexo sem ereção. O sexo de quem é ladrão. O sexo da corrupção. Que vive gozando a gente. O sexo bem diferente. O sexo que tumultua. O sexo da falcatrua. O sexo do imposto de renda. O sexo na repartição. O sexo por telefone. O sexo da sonegação. O sexo pelo pronome. O sexo da secretária. E o sexo do seu patrão.

O sexo do analfabeto. E o sexo do bem letrado. O sexo com a caneta. E o sexo do dedo afiado. O sexo sem rima e sem verso. O sexo desarmonizado. O sexo sem roupa ou rasgado. O sexo de quem trabalha. O sexo do engravatado. O sexo do ar condicionado. O sexo do perfumado. O sexo desajeitado. O sexo acalorado. E o sexo tradicional. O sexo bastante suado. O sexo papai e mamãe. O sexo arroz com feijão. O sexo feito na estrada. O sexo do caminhão. O sexo dentro do trem. E o sexo na estação.

O sexo de ano em ano. O sexo de nosso avô. O sexo que acontece. O sexo do desengano. O sexo dentro da água. E embaixo do cobertor. Sexo no seco e no molhado. Sexo na televisão. O sexo que é mostrado. O sexo monitorado. O sexo de quem é noivo. De quem já foi namorado. O sexo autorizado. O sexo de antigamente. O sexo de quem é casado. O sexo autorizado. O sexo de papel passado. O sexo abençoado. O sexo que engravida. O sexo que é bem transado. O sexo que é bem de vida. O sexo no feriado. O sexo que é bem cuidado.

E o sexo de muita gente. O sexo de fim de ano. O sexo chamado grupal. O sexo da economia. O sexo do desempregado. O sexo bem pechinchado. O sexo bem parcelado. O cheque com juro cobrado. O sexo do inadimplente. O sexo desperdiçado. O sexo de ambos os lados. O sexo de oposição. O sexo de quem está mandando. O sexo da situação. E tem o sexo escondido. O sexo que é puritano. O sexo pouco envolvido. O sexo do desengano. E o sexo do marasmo. O sexo sem orgasmo. O sexo como quem urina. O sexo que logo termina. O sexo iluminado.O sexo do vagalume. O sexo de quem tem asas. O sexo que é feito voando. Sexo no mundo da lua. Sexo com fantasia. Sexo em outro planeta. Sexo sem gravidade. Sexo no sol e na chuva. Sexo para a eternidade. Sexo com raio e trovão. Sexo do assustado. Sexo urbano e rural.

Sexo com violência. Sexo com morte e horror. Sexo com traição. Sexo infidelidade. Sexo com desamor. Sexo só por favor. Sexo e pedofilia. Sexo e pederastia. Sexo abuso infantil. Sexo turismo corrompido. Sexo comprado. Sexo vendido. Sexo que é puro eufemismo. Sexo pela internet. E pela revista. Sexo que corre na pista. Sexo que desfila na mídia. Sexo de traficante. Sexo de gente errante. Sexo que não edifica. Sexo do palestrante. Sexo no consultório. E até sexo no velório. Sexo por metro e por quilo. Sexo de quem não esquece. Sexo alimentação. Sexo de quem não merece. Porque só pensa naquilo.

Sexo sem educação. Sexo depois da bebida. Sexo da decepção. Sexo apenas por vício. Sexo como doença. Sexo só sensual. Sexo que é desavença. Sexo profissional. Sexo todo anormal. Sexo em qualquer lugar. Sexo dentro do micro. É o sexo virtual. Sexo no tapete. Sexo no matagal. Sexo em cima da hora. Sexo com a senhora. Sexo com a menina. O sexo que não se esquece. O sexo da primeira vez. O sexo que sangue derrama. O sexo de quem, acredita que ama.

E o sexo da vagabunda. O sexo que não se ensina. O sexo dentro do carro. O sexo em pé ou sentado. Sexo acocorado. Sexo por cima e por baixo. Sexo com roupa e sem roupa. Sexo sem pano de fundo. Sexo sem categoria. Sexo apenas rotundo. Sexo limpo. Sexo imundo. Sexo dentro do curral. Sexo mania. Sexo vegetal. Sexo com amor. Sexo com desafeto. Sexo hiper-normal. Sexo concreto. Sexo roubado ou tomado. Sexo estuprado. Sexo assassinado. Sexo condenado. Sexo consentido. Sexo vilipendiado. Sexo mentido. Sexo embutido. Sexo chorado. Sexo para reprodução. Sexo com tesão. Sexo por consideração.

Sexo com camisinha. Sexo sem proteção. Sexo bissexual. Sexo sem atração. Sexo com o mesmo sexo. Sexo com outro sexo. Heterossexual. Sexo que se imagina. Sexo sem a vagina. Sexo sem penetração. Sexo pelo olhar. Sexo sem gozo e sem graça. Sexo por tradição. Sexo como mentira. Sexo masturbação.

Sexo de afirmação. Sexo de eleição. Sexo de indeciso. Sexo de transexual. Sexo porque é preciso. Sexo de cirurgia. Sexo de transformação. Sexo que se afirma. Sexo de negação. Sexo forte. Sexo frágil. Sexo do elefante. Sexo da formiguinha. Sexo do hipopótamo. Sexo do beija-flor. E seja que bicho for. O sexo de quem se cura. O sexo do hospital. O sexo de quem trabalha. O sexo de quem produz. O sexo industrial. O sexo comercial.

Mas sexo não é só sexo. Sexo é mais que um gozo. Sexo não é ficar nervoso. Sexo é muito mais gostoso. Sexo é belo e formoso. Quando se faz com amor. E com responsabilidade. Pelo que dele gerou. Daquilo que se cativou. Sexo é amparo e carinho. Sexo é casal. Sexo é ninho. Sexo é proteção. Sexo é continuação. Sexo é amor e perdão. Sexo é reprodução. Sexo é nosso mundo. Sexo é vida, é população. Sexo é mais profundo. Sexo é nosso pai, nossa mãe. Sexo é nosso irmão. Sexo é coração. Sexo é família, sociedade. Sexo não tem idade. Sexo é perfeição. Sexo não é necessidade. Sexo é obrigação. Sexo não é liberdade infinita. Sexo é conclusão. Daquilo de onde viemos. Daquilo porque estamos. Daquilo porque seremos.

Por isso repito a premissa. Sexo não tem preguiça. Sexo não é linguiça. Que se enfia numa carne. Prá se comer bem assada. Sexo não é ginástica. Em cima de uma cama elástica. Sexo não é cirurgia. Sexo não depende de plástica. Sexo é afinidade de pele. Sexo não se repele. Sexo é tudo isso. Sexo faz bem, não faz mal. Sexo é mais que normal. Se feito com a mulher amada. Com respeito e consentido. Tudo acaba permitido. Depende só do casal.

Domingos Oliveira Medeiros
09 de junho de 2002



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