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Humor-->Com quem você está? -- 19/02/2007 - 07:15 (Jader Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Com quem você está?

Durante a ditadura militar brasileira que se alongou por mais de vinte anos, desde 1964 até o início dos anos 80, os brasileiros vivíamos assustados. Qualquer atitude, por banal que fosse, era motivo para que o cidadão fosse levado a prestar esclarecimentos na delegacia mais próxima. Era um clima de medo e terror, todo mundo andava apavorado e aqui em Taubaté não foi diferente. Eu mesmo, apenas por manifestar-me a favor dos cursos gratuitos que a antiga U.R.S.S oferecia aos estudantes pobres da África e América Latina, acabei indo parar em cana. Certa noite, quando eu retornava da faculdade de Serviço Social, encontrei na porta da pensão da dona Pierina, onde eu morava, uma caravana de viaturas e vários meganhas fortemente armados a me aguardar. Mas isto é outra história.
Nesse tempo o meu amigo e enfermeiro, Ari Marques, pertencia à diretoria do Sindicato da sua categoria e era tido por todos como sendo um perigoso comunista. Mas o Ari era um sujeito legal, andava elegantemente vestido, usava um grosso terno escuro de listras de giz, sempre de gravata borboleta e chapéu coco. Às vezes o Ari se licenciava do sindicato e pegava um bico de vendedor em alguma distribuidora de remédio, ou mesmo num laboratório menor, aqueles que eram chamados na época de “laboratórios de porão” ou os famosos “B. O”.
Os propagandistas de laboratório fazíamos nosso ponto de encontro no Café Paris, na esquina da rua Duque de Caxias com a praça Dom Epaminondas, de onde esses profissionais saíam para visitar os médicos. O local era também o ponto preferido dos supervisores —perdigueiros que iam ali para encontrar e ferrar os seus comandados. Entre as sete e as oito horas da manhã o Paris Café fervia de fofocas. Era o Bundinha de ontem.
Certo dia o Ari chegou e se juntou ao grupo. Mais tarde chegava o Afonso, propagandista do Laboratório Roche. Esse Afonso era um homem formal, reconhecidamente de direita, e se fazia acompanhar por um cidadão muito elegante e desconhecido (depois descobrimos que o cara era o seu gerente de vendas), que usava os cabelos bem curtos e tinha aparência de militar graduado. O pessoal diminuiu o tom da voz e mudou de assunto. O Ari, por seu turno, tinha quase certeza de que aquele homem era um espião da ditadura militar que viera para prendê-lo. Em dado momento o Afonso quis saber com que laboratório o Ari estava trabalhando, e perguntou: “Ari, afinal, com quem você está?”
Desconfiado, o Ari ficou esperto. Entendeu que o Afonso estivesse querendo entregá-lo de bandeja ao desconhecido e procurou as palavras certas para responder. Mirou bem nos olhos do misterioso cidadão e respondeu ao Afonso: “No momento eu estou com as queridas Forças Armadas do meu país!... Aliás, sempre estive com as Forças Armadas!...” E saiu de fininho.
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