Meus micos
Minhas mais famosas mancadas, que foram várias e de se perder a conta, revelo aqui algumas. Certo dia, chegou na minha Vila de Água Doce uma mulher esquisita, seus lábios eram pintados com um baton vermelho vivo que lhe redesenhava a boca, alongando-a até quase às orelhas. A mulher aproximou-se de mim e me perguntou algo constrangedor: “Onde fica o puteiro da Vila, menino?” Se fosse “Coréia” ou “Zona” eu sabia onde ficava, mas “puteiro” era novidade para mim. Fiquei na dúvida e disse: “Um momento, moça!” E fui correndo perguntar pra minha mãe se ela sabia onde ficava o tal “puteiro” para dar a informação que a moça pedia. Levei uma surra dos diabos, só pra deixar de ser besta...
As minhas mancadas, como se verá, continuaram impávidas, acontecendo quase sempre numa Zona. Eu diria que era um santo, ou quase isso. Havia em Barra do Piraí, RJ, um local famoso pelas suas boates iluminadas, pelas mulheres completas que vinham de longe para exercerem ali, e tomar dos trouxas o seu rico dinheirinho. O meu, inclusive.
Era a famosa Ilha Joaquim Duarte. Certo dia fui lá e levei comigo o meu irmão, Vavá, para conhecer a Gaúcha, uma mulher nova no pedaço, linda e completa. Naquele tempo não era fácil de encontrar uma mulher assim, com tantas virtudes e competências. Quando lá chegamos, encontramos o Frederico, um amigo meu que estava de olho na Gaúcha. O Frederico queria propor casamento a ela, retirá-la da “vida”. Isso era comum naquele tempo e muitos amigos meus já tinham se casado com prostitutas e viviam felizes. Um outro amigo meu, o Chico, já tinha tirado uma da “vida” mas se deu mal. A mulher engordou como um hipopótamo, virou um bagulho de dar medo. Mas isto é outra história.
Tudo aconteceu muito rápido e eu não tive tempo de avisar ao Vavá da situação e ele acabou entrando numa saia justa terrível. O Frederico, ao ver meu irmão na Zona, ficou curioso e perguntou o que não devia: “Vavá, você veio aqui por causa de alguma mulher em especial?” O Vavá respondeu de pronto: “Sim. Vim por causa de uma tal Gaúcha, que dizem ser muito boa de cama, apertada e completíssima!...” O Frederico me revelara dias antes a sua pretensão, inclusive dissera que a casa já estava montada na cidade à espera da Gaúcha. Por culpa do Vavá, e também da minha língua grande, arrumei um inimigo para sempre. Mico terrível.
De outra feita, dei a maior mancada da minha vida. Fui visitar o amigo Gilson, um solteirão, sujeito metido a rico que tinha muitos enfeites na casa. Entrei e ele me ofereceu umas uvas que estavam em cima da mesa. As uvas eram de cera mas pareciam reais e apetitosas. Rei das mancadas, não podia recusar as uvas roxas e graúdas. Aceitei a sua oferta e grudei numa delas. Tentei arrancá-la do cacho mas estava difícil. Depois de umas tentativas inúteis, desisti. Foi um vexame total. Os outros micos maiores, se tiver coragem, depois eu conto.
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