Meu tio Benê era um sujeito muito curioso. Certo dia chegou na Vila de Água Doce um curandeiro e instalou-se numa tenda na entrada da cidade. O homem se dizia entendido em ervas, afirmava que fazia cura pela fitoterapia e sabia de outros assuntos misteriosos. Meu tio Benê foi lá conhecer as virtudes do homem e quase se deu mal.
O curandeiro tinha botado uma placa na porta com os seguintes dizeres: “Tira-se corcunda com limão”. Tudo era muito providencial. Desde criança o meu tio Benê padecia com uma cifose cervical na forma aparente de uma pequena porém centuada corcunda e sonhava em se livrar daquela doença um dia. Achava muito difícil que alguém pudesse curar a sua corcunda com um simples limão, mas por via das dúvidas foi conferir. Quando o tio Benê chegou na tenda, local onde se daria a suposta e prometida cura, havia dois outros homens esperando na fila pelo mesmo milagreiro. Um deles, o primeiro, era também corcunda como o tio Benê e o outro procurava algum outro tipo de cura, ou talvez tivesse ido lá por pura curiosidade. Não demorou muito para o primeiro paciente ser chamado. Entrou.
Foi muita sorte do meu tio Benê. Aquele paciente que chegara primeiro entrou e logo começou a gritar. Uma gritaria dos diabos. O homem dava gritos terríveis, parecia estar sob tortura. Tio Benê, assustadíssimo, subiu numa cadeira e olhou por cima do biombo. O corcunda estava sem a camisa, deitado de bruços, suportando o curandeiro cavalgando-lhe em cima qual incubo diabólico. O curandeiro aplicava fricções vigorosas nas costas do infeliz usando uma grande lixa de aço (uma grosa de tamanho respeitável) e desbastava as costas do pobre homem com vontade inusitada. Pelo visto, a cura estava sendo processada mediante a ação de uma lima de aço gigante e não com o suco de “limão”, a fruta cítrica famosa, conforme o meu tio esperava que fosse. O segundo paciente apavorou-se e deu no pé.
Creio que o Tio Benê também achou que não seria conveniente esperar pela estranha e dolorida terapia. Mineiro dos mais tradicionais, saiu correndo e exclamando: “Tá louco, sô!... prefiro mil vezes o Mengele...” Ainda hoje ele conta a todos a aventura incrível porque passou. Dá boas risadas com a história, mas tem gente na Vila de Água Doce que não acredita que esse fato aconteceu de verdade...