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Contos-->JOÃO TROVOADA - O HERÓ DO SERTÃO -- 11/03/2024 - 10:17 (Roosevelt Vieira Leite) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

JOÃO TROVOADA – O HERÓI DO SERTÃO

A história humana têm seus heróis e vilões. Às vezes até os vilões nos chamam a atenção e passamos a admira-los. O sertão é um cenário fértil para a imaginação popular. Ademais, o imaginário do povo abre a porta para a entrada de diversos tipos humanos, entre eles, está o herói sertanejo, ‘aquele homem que aceitou uma causa em favor do precisado’. Os heróis sempre existiram na mente das pessoas, mas, aqui, em Campos quem não se lembra de João Trovoada – o herói do sertão?

Os dias eram difíceis na antiga Vila de Campos. Para beber água a pessoa tinha de caminhar muito até encontrar um poço ou esperar o caminhão pipa. Algumas vezes antes do caminhão chegar, a água já tinha se ido pelo caminho, pois, o estado dos carros era muito precário. Havia também, e era muito útil, a carroça pipa; essa foi uma verdadeira heroína nos tempos de estiagem em Campos. Muitos foram os pais de familiar que alimentaram seus filhos com o dinheiro ganho com a ‘carroça pipa’.
Era o mês de outubro. O sertão nessa época do ano se enruga todo. A caatinga perde o verde e cede lugar primeiro ao marrom, depois ela vai se tornando cinza. É nessa época que o boi geme, e o carcará faz a festa. Campos tem sete meses de estiagem todo ano. Isso significa cerca de 210 dias sem chuva, ou com chuviscos espalhados aqui e ali. Os políticos sabem disso, mas, durante o tempo que passei no sertão nunca vi alguém do poder preparar o povo para seca.
- Ronaldo será que se você falar com o prefeito ele manda um carro pipa para nós lá no pau de colher?
- Sei não, Seu Anilton anda tão triste. Depois que descobriram a rapariga dele, ele quer descontar em todo mundo.
- Ah, então quer dizer que ele arruma uma quenga e o povo é quem paga?
- E o pior Ronaldo, a rapariga é casada, e o marido dela todos conhecem. Disse o carroceiro pipa Chico.
- Se fosse no tempo de Lampião a gente dizia para ele e ele dava um jeito nesse homem safado.
- De Lampião não, pois, o homem era do mal, mas, se fosse o tempo de João Trovoada, a coisa seria diferente!
- Rapaz, eu já ouvi falar desse homem!
- João Trovoada foi considerado o herói desses sertões do lado de cá.
- E foi mesmo rapaz?
- Num foi o que, rapaz!?
O sol castigava Campos sem dá uma trégua. As nuvens estavam cinzentas, no entanto, a falta de vento frio impedia a precipitação pluviométrica. Os termômetros davam 36, 37 na sombra. O sertão dessas terras parecia um deserto. Quanto mais os dias passavam o calor ia aumentando. O auge do verão tobiense ocorre entre janeiro e fevereiro; é nessa época que alguns se aproveitam da fraqueza do povo para comprar propriedade a preço de batata. Os povoados estavam ficando desertos. As populações iam se movendo rumo à sede do município; durante o trajeto, assaltantes roubavam seus poucos pertences. Alguns, e não foram poucos, se aventuraram rumo ao sudeste na esperança de uma vida melhor.
- Como foi lá em São Paulo, compadre Damião?
- Rapaz, ali num presta não!
- Por que homem? Só vejo o povo falar nesse São Paulo?
- A gente num pode ter nada. A identidade e o dinheiro a gente bota dentro da cueca. Relógio nem pensar e falar com o povo nas calçadas é muito difícil.
- Então isso num é vida não!
- Num é?

Campos não padecia apenas com a estiagem. Campos sofria todas as consequências da mesma: Desemprego, êxodo rural, superpopulação nas periferias, violência, abuso de poder econômico e político.

- Anilton falou na rádio de Lagarto que o atraso dos funcionários deve ser entendido pela população, pois, Campos está quebrada. A dificuldade financeira é grande.
- É mesmo rapaz, coitado de Anilton, um homem tão direito!
- Que direito rapaz! Aquilo é um ladrão!
- Não diga um agravo desse não, rapaz!
- Homem! Tem seca todo ano, e eles nada fazem! Será que estão doidos?
- Ele num faz porque num pode. Anilton nasceu e se criou em Campos; ele ama seu povo.
- Sei não!

A seca se agravou; o bicho do pasto estava arriando os quartos. Os urubus e carcarás se amontoavam nas árvores e cercas ao longo dos pastos queimados pelo sol. As garças deixaram o gado cambaleante e foram se refrescar nos tanques de água esverdeada.
- Mãe! As águas dos tanques num presta mais não. É mais lama que água!
- Menina passa pra dentro, o sol está de matar hoje! A menina Suely entrou em sua casa e foi direto para a cozinha onde estava sua amada mãe. Suely e sua mãe Tailine viviam de sua rocinha. O marido de Tailine fora para São Paulo tentar a vida e até aquela data não dava notícias. Isso fazia a pequena menina Suely sofrer com saudades do pai.
- Mãe! Estou com tanta saudade de pai.
- Tenha paciência minha filha! Tenho certeza que seu pai não se esqueceu de nós.
 
Suely foi deitar. O calor do tempo, e a barriga não muito farta só dava uma opção para as pessoas – dormir para fazer o tempo passar. Suely enquanto dormia via na sua vidência um carcará feme muito grande. A ave pôs um ovo enorme sobre uns pés de gravatás. O ovo não era branco, na verdade, aquele era um ovo cinzento, da cor das nuvens do céu. Ao ver o ovo da ave mais conhecida do sertão, e temida por muitos, Suely se animou e caminhou até os gravatás. Uma cobra coral sentiu as passadas da menina, e se retirou para deixar os humanos em paz. Parece que o bicho cobra estava com pena da humanidade. “Mas o que é isso?” A menina cogitou por um instante. Suely se sentou no tronco de uma jurema caída. A menina estava examinando o ovo gigante. De repente, ela ouve o som de estalos, depois viu as rachaduras que gradualmente apareciam na casca do ovo, por fim, a menina Suely viu o nascimento de um homem. O homem estava vestido, Suely nem se importou com isso, pois, o rosto do cidadão era muito parecido com o de seu pai viajante. “Pai!” Pensou ela.
O homem nascido do ovo de carcará gigante vestia calça e camisa típica dos vaqueiros e boiadeiros do sertão. Era uma calça de algodão tingida de marrom, e uma camisa também de algodão. Sobre ela um jaleco de couro. Na cintura, um facão e uma pistola 38. O chapéu do moço era de couro com a aba frontal para cima. Em seu pulso direito ele segurava um chicote de couro de boi. O homem calçava uma bota preta que brilhava como um espelho. O homem se levantou, tirou uns pedaços de casca de ovo de sobre si e caminhou na direção de um pé de mandacaru. O velho mandacaru floresceu na hora.
- Até que fim seu João!
- O amigo mandacaru sempre verde! Salve o sertão e o sertanejo! A menina Suely se lembrou da história que Rozental, seu professor contava. Rozental dizia que o sertão tinha um herói e que mais cedo ou mais tarde tornaria ao mundo.
- Moço! Moço!
- Oxente! Uma pequenina dessas aqui no meio da caatinga! Onde está seu pai, mocinha?
- Meu pai está em São Paulo!
- Oxente, e o que é que ele faz por lá? O sertão está seco, mas, não está morto!
- O povo daqui tem esse costume. Quando a coisa aperta eles vão para o sul. Respondeu a menina.
- Isso num é coisa de cabra macho, não! O sertão tem futuro! Suely e João Trovoada descem o pasto na direção do povoado Jabiberi.

Quando João Trovoada entra na comunidade, o povo estava nas calçadas e bares. O povo dizia que o jeito era ‘comer água’, isso é o mesmo que beber. O povoado inteiro estava nas portas e ruelas.
- Assim num dá. Disse seu Domingos – proprietário do único armazém da comunidade.
- É num dá não! Concordou seu João cabeludo, um barbeiro muito bem quisto no lugar. Dizem que o homem sabia cortar cabelo tão bem que quando ele parava a mão a tesoura dele continuava sozinha.
João Trovoada procurou um dedo de prosa com alguém, mas, ninguém o conhecia ou se lembrava de seus feitos passados. Trovoada não era mais lembrado por aquela jovem geração de sertanejos. Trovoada se cansou de andar e decide parar um instante para pensar no que fazer. 
O sol ardia no meio do céu. “A coisa está preta mesmo pensou ele”. A praça defronte à igreja do povoada tem uns pés de juás. Trovoada e sua amiga Suely se sentam para prosear.
- O sertão não conhece mais seus heróis.
- Como seu Trovoada?
- Teve tempo em que o povo conhecia minhas histórias. Eu sou João Trovoada o herói do sertão! Suely pulou do assento onde estava e disse: “Viva!” O povo por perto nem mexeu a cabeça para olhar de lado, o som de bares e botecos não permitia as pessoas ouvirem nada, exceto, se prestassem muita atenção. Contudo, a natureza era aliada de Trovoada. As nuvens cinzas começaram a ribombar seus trovões, pequenas gotas de água caiam do céu, depois, a trovoada veio lavando as calçadas, e os telhados das casas, a menina saiu para rua para se banhar na chuva, junto com ela os adultos se refrescavam de mais uma manhã de sol causticante.
- Graças a Deus! Foi Trovoada, o herói do sertão!
 - Quem é Trovoada? É uma trovoada mesmo!
- Não, foi seu João Trovoada, o herói do sertão, repetiu a moça menina.
- Que nada! O sertão num tem herói, não, o herói dele é São José. A mulher dizia que foi São José e Suely dizia que foi Trovoada. Quando de repente se ouve um tiro de pistola, em seguida se ouviu o som de dezenas de gatilhos. O povo do Jabiberi gosta um pouquinho de armas. Trovoada estava no meio da praça da igreja e ao seu redor os homens do povoado com suas armas apontadas para ele.
- Parem! Gritou a pequena do Jabiberi.
- Oxente! O que é que a menina de Tailine está fazendo com esse estranho aí?
Trovoada percebendo que o povo estranhava, tomou a palavra:
“Meus irmãos de Campos do Rio Real, é com muito prazer que retorno ao sertão depois de muitos anos perambulando por aí. Voltei porque o gado está morrendo, o sertanejo está sofrendo sob o jugo de um tirano!” A palavra ‘tirano’ despertou os ânimos de alguns que gritavam alto: “É tirano mesmo!” O outro grupo protestava contra Trovoada. A briga estava feita. O povo passou para as vias de fato. Naquele final de manhã, no povoado Jabiberi, o povo se desentendeu, e isso causou a morte de alguns. Trovoada foi com sua amiga para a casa de Suely.
- Mãe, esse é João Trovoada!
- Muito prazer seu moço! Mas, o que sua pessoa faz acompanhando minha menina?
- Nos encontramos por acaso.
- Mãe, espia como ele é a cara de pai.
- Menina, deixa de tolice! João Trovoada conseguiu rancho na casa de Tailine.

Depois do almoço, Trovoada, Suely e Tailine vão para o quintal onde havia uma cobertura de telha de barro vermelho. Tailine ficou curiosa e queria esclarecimentos sobre aquele cidadão: “Sua pessoa quem é mesmo?” Trovoada explicou que quando sofre o sertão é ele quem acorde. Tailine ora dava risadas, ora prestava atenção à conversa da estranha criatura.
- Vocês sabem de uma coisa?
- Não!
- Eu vou falar com esse Anilton.
- Mãe, Trovoada é o herói do sertão mesmo! Mãe e filha caem na risada. Trovoada percebe o deboche e pede licença. Trovoada tomou a estrada para Tobias Barreto. Quando alguém passava por ele, ou de moto, ou de carro, ou a cavalo ou carroça dizia: “É o herói do sertão”. A mangação era grande. Talvez somente Suely, na inocência de seu coração acreditasse que Trovoada era a solução para os problemas de Campos.
Trovoada alcançou o povoado ‘batata’ em pouco mais de quarenta muitos. O povo da batata já sabia da história do estranho. Nas batatas, Trovoada fez um milagre. Havia na comunidade uma senhora que não andava mais. Segundo o povo, o vento passou e a mulher perdeu as forças. Trovoada soube do assunto e mandou uns moleques aparar urina de jumento. “Foi um jumentinho que levou o Cristo” Pensou Trovoada. A mulher se queixou um pouco, mas, depois de um tempo ela deu umas coladas na urina de jumento.
- Foi ruim, foi?
- Mulher! Para ficar boa eu faço de tudo!
- Num é o que comadre! Cinco minutos depois a mulher se pôs a vomitar, depois de umas três golfadas, ela dá um pulo da cadeira onde estava entrevada há cinco meses. “Glória a Deus!” João Trovoada estava na estrada quando isso aconteceu. O povo da batata saiu atrás do estranho sertanejo. À proporção que o povo caminhava, mais gente se juntava ao grupo da batata. Na altura da granja, a população de gente já o ultrapassava a centena.
- Rapaz, dona Rosinha sabe?
- Não.
- Rosinha da batata! A mulher estava entrevada há uns cinco meses. Trovoada deu mijo pra ela, e ela ficou sã de imediato.
- E foi? Então esse homem tem parte com o chifrudo.
- Veja, eu num sei, mas, eu vou ver o que vai acontecer em Tobias. As pessoas seguiram seu caminho até a Vila de Campos.

As mulheres da batata são muito religiosas. Dona Almerinda, mulher de Peixoto que trabalhava como motorista de ambulância conduziu um canto religioso. O povo, em coro, cantava “Maria, Maria, Maria de Nazaré...”. Trovoada seguiu rumo à sede do município, e a nação de gente ia atrás dele. Perto da Concordia, uma antiga fazenda de um político tobiense muito importante, Trovoada precisou parar a marcha. Havia um homem deitado num esteira. Não se sabe como ele foi posto lá, pois, a pobre criatura estava muito convalescente.
- Moço, o que houve contigo!
- Eu cuidava de uma rês; e aí, o bicho se embrenhou no mato, eu fui atrás, mas, cai do cavalo sobre um tronco de pau. Acho que quebrei as costelas. Trovoada pergunta, então ao moço enfermo: “Tem fé em nossa Senhora, macho velho?” O homem timidamente respondeu; “Tenho”. Trovoada mandou o povo pegar bosta de boi e cozinhar. Depois passou o produto no homem. O doente ficou com os lombos cobertos de bosta de boi. Trovoada seguiu seu destino, e o povo atrás. Antes de alcançar Tobias, um rapaz chega montado numa besta: “O homem já se levantou”. O povo avançou pra cima de Trovoada; no empurra-empurra, Trovoada sai de fininho, e com ele estava Suely.
- Mocinha, ser herói num é fácil!
- É mesmo, seu Trovoada, como é que você aguenta?
- É Deus minha filha que nos dá forças.
- Agora falta pouco, para nós chegarmos à sede.
- Isso. Trovoada e Suely saíram da estrada onde estavam as pessoas e entraram nos pastos. Para eles era o único jeito de não ser perturbado pelo povo. Na calma da natureza, o herói do sertão, seu João Trovoada decide dá uma parada para refazer as forças. Os dois se sentam na beira do tangue de uma roça nas proximidades de Tobias. A água estava esverdeada. O tangue estava agonizando com a estiagem. Trovoada pede a Suely para ela pegar uns galhos de jurema; a moça o fez prontamente.
- Menina quando a seca chegar, você use a jurema.
- Para que seu Trovoada?
- Espia! Trovoada pegou a jurema e cavou um buraquinho na lama do tangue agonizante. Depois, o herói do sertão disse sua palavra mágica: “Água”. O pequeno buraco cavado virou, de súbito, em um minador. A água sangrava sem parar, o que chamou a atenção do povo. Este gritava em alto e bom som: “Milagre”. A água era muita e muito maior a multidão que se formou para se molhar naquele tangue. O povo começou a fazer perguntas sobre João Trovoada.
- Seu Alécio, esse homem milagroso, é quem mesmo?
- Sei não, dona Telvina.
O senhor prefeito foi informado das curas e do milagre do minador. “Mas, quem é esse louco?” “Isso deve ser coisa da oposição”. O partido da oposição começou a questionar a identidade do herói do sertão. “Esse homem deve trabalhar para o prefeito”. João Trovoada estava em apuros, os dois partidos pensavam muito mal dele.

Os dois partidos mandaram um representante para o pasto onde estava Trovoada acampado. O tanque agonizante havia enchido de água e nas águas nasceram peixes, e o povo matava a fome com as tilápias do tangue regenerado.
- Quem é sua pessoa amigo? Perguntou o representante dos Pebas.
- Eu sou João Trovoada.
- Eu digo seu nome de batismo.
- É João Trovoada, o herói do sertão. O representante dos Pebas sorriu. O homem achou que João trovoada estava fingindo que era doido: “Mas, que povo esperto, estão se fingindo de doido para simular um milagre mesmo”. “Mas, isso num vai ficar assim, não”. O representante dos cabaús perguntou a Trovoada quem ele era; Trovoada respondeu prontamente: “O herói do sertão”. Os cabaús saíram sorrindo: “Esse é louco de verdade”.
Na verdade, Trovoada incomodava os dois lados da política local. Trovoada deveria ser usado para fins maiores como disse o presidente dos cabaús: “Vão propor a ele um cargo na secretaria de obras com salário retroativo até janeiro de 2010”. A oferta foi posta para Trovoada, mas, o herói do sertão nada queria. “Moço, obrigado pelo emprego, mas, eu preciso ficar com o povo”. Os cabaús, então, pensaram que Trovoada se vendera aos pebas. O pessoal do partido peba pensou o mesmo: “Seu Trovoada, um homem como você, na sua idade, deve ter um cargo de confiança perto de sua excelência, o prefeito. Trovoada, ao ouvir o nome prefeito, disse com convicção: “Aceitxo”.
Trovoada foi trabalhar com o prefeito Anilton. O herói do sertão recebeu o retroativo de seu salário; aguardou a segunda feira chegar e foi para a feira de Campos. “Salve o sertão e o sertanejo”. “Eu sou João trovoada - o herói do sertão”. Trovoada pegou o dinheiro do retroativo e distribuiu com o povo da feira. Tiveram que chamar a polícia para organizar as coisas. O prefeito Anilton chamou Trovoada para uma conversa.
- Como é que sua pessoa dá seu dinheiro assim?
- Macho velho, o povo está faminto!
- Eu sei seu Trovoada, mas, o que é seu, é seu!
- Não senhor, o que é meu é do povo. Anilton viu que o homem era louco. Anilton também viu que Trovoada não lhe oferecia perigo. Contudo o deixou no cargo de confiança. Com o tempo, o povo em vez de procurar o prefeito, procurava Trovoada, e isso irritou o prefeito.
- Seu Trovoada quando o povo lhe procurar, mande-o a mim para que eu possa ajudá-lo.
- Certo vossa excelência! O povo procurava Trovoada e ele mandava o povo ir ter com o prefeito: “Anilton vai te atender!” De fato, o prefeito começou a atender o povo e a ouvir as necessidades de cada um: “Seu prefeito, meu bujão acabou e não tenho condições de comprar outro”. “Seu prefeito a minha conta de luz está atrasada e o salário ainda não saiu”. “Seu prefeito, minha filha está gravida e está sem médico no hospital”. Os casos eram muitos, mas, com Trovoada de lado, o prefeito ouvia a todos. No final dos trinta dias, Anilton teve uma crise de choro.
- Compadre, soube que Anilton está com depressão?
- O que é isso depressão?
- É quando a pessoa fica amuada, sem querer viver!
- Vixe, então Anilton está ruim.
- Num está o que? Dizem que Trovoada fez o homem ouvir o povo.
- Está vendo, o cargo é pesado. Anilton piorava dia após dia. Quanto mais ele ouvia o povo, mais o homem piorava.
- Seu Trovoada, Anilton parece que vai bater as botas.
- Muito mais sofreu o Cristo. Disse o herói do sertão olhando para a barra do tempo. Uma chuva muito forte estava para cair. Trovoada continua:
- Eu vi santa Bárbara no céu nesse instante. Essa chuva vai mudar tudo em Campos.

Os amigos do prefeito se afastaram dele. “Anilton agora gosta de pobre”. A oposição estava revoltada porque o povo passou a gostar de Anilton. “Dizem que deixou até a rapariga”. “É, depois que esse Trovoada apareceu, as coisas mudaram em Campos”. O povo continuava sofrendo, por mais que Anilton os ajudasse, o sofrimento continuava. Agora o povo sabia que seu prefeito queria mudar os rumos da cidade. “Rapaz, ano que vem vocês vão ver, Anilton vai ajudar muita gente”. “Eu num estou gostando não, pois, ele num tem mais cargos de confiança”.
A oposição decidiu dar fim a Anilton. “Com a morte dele vai haver reeleição”. Trovoada caminhava com sua amiga Suely pelos pastos do Jabiberi quando um garça se aproxima dos dois: “Mestre Trovoada, o prefeito corre perigo”. Trovoada pega sua pistola e dá um tiro para cima: “Eu sou João Trovoada, o herói do sertão!” “Quem mexe com meu povo, mexe comigo”. Trovoada disse a Suely que aquela viagem ela não podia ir com ele. A menina resistiu um pouco, depois, ela o despede dizendo-lhe: “Num vá se machucar”. A pequena Suely estava muito acostumada com seu novo amigo. Trovoada chega a Vila de Campos. Na entrada da cidade estavam os capangas da oposição. Os homens bebiam num bar. Ao verem João Trovoada, os homens se levantaram e foram em sua direção. A ordem era atirar nele e em Anilton. O prefeito Anilton também passava pelo lugar. Os homens da oposição disseram consigo que estavam com sorte. Ouve-se um tiro, depois outro, e depois outro. O povo apavorado correu para dentro de casa. Alguns segundos depois, as pessoas aparecem para ver o que ocorreu. Trovoada estava estirado no chão. A cidade viu o herói do sertão dá sua vida pelo prefeito Anilton. O corpo de trovoada lentamente se transforma em um mandacaru. A cactácea pôs sua flor no meio da praça principal de Campos. As pessoas ficaram perguntando pra onde ele havia ido. O prefeito Anilton, no ano seguinte, planejou os custos da cidade para enfrentar a seca. Anilton mandou cavar cisternas em todas as roças do município. O povo de Campos não sofreu mais com a seca.

O sol caia por detrás das serras do Jabiberi. A menina Suely acorda de seu sonho. A menina morta de fome procura sua mãe.
- Mãe, eu sonhei que pai era o herói do sertão!
- E foi mocinha?
- Foi.
- Minha filha, o sertão está cheio de heróis e vilões.
- É mãe, mas, Trovoada é herói mesmo! A chuva voltou para o sertão, os pastos ficaram verdes, os tanques cheios e as mesas fartas. O sertão se aquietou e com ele seu povo...

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