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Contos-->A autodefesa de um povo -- 30/05/2023 - 10:23 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

 

 

A AUTODEFESA DE UM POVO 

 

Félix Maier

 

Era uma vez uma cidade pacata no interior do Brasil, onde havia somente duas ruas principais, divididas por um riozinho e ladeadas por montanhas. Nas encostas, escadarias de pedra, fazendo a vez de ruelas, levavam as pessoas às suas casas. Era um povo feliz que vivia principalmente do comércio e do emprego em uma fácute;brica de tecidos. 

Havia uma igreja católica, duas escolas municipais e um pequeno hospital dirigidos por freiras alemãs, e uma delegacia de polícia onde o delegado não tinha muito a fazer, jácute; que ações de bandidos só eram ouvidas no rácute;dio e vistas nas fitas de faroeste americano projetadas no telão do pequeno cinema utilizando um gerador elétrico. Não havia energia elétrica, nem televisão, porém um gramofone movido a bateria era ouvido na casa do prefeito a tocar ácute;rias de óperas italianas na voz de Mario Lanza e cantorias de Vicente Celestino, como O Ébrio. Somente o prefeito, o advogado e o dentista possuíam carro na cidade, o Ford Bigode. 

Com o tempo, a cidade foi crescendo, principalmente depois que chegou a luz elétrica e a televisão, e uma cervejaria se instalou no município, aproveitando a ácute;gua limpíssima das montanhas. Muitas casas foram construídas, em pouco tempo, dobrando a população. Com a vinda de muitos estranhos, a até então pacata cidade começou a ter problemas de segurança, com furtos de roupas nos varais, assim como frutas e legumes dos pomares e das hortas, além de furto de ovos, galinhas, queijo e salame nas colônias, quando cães latiam de madrugada, espantando as raposas de duas pernas, que fugiam com o ganho fácute;cil na mão grande. Vez por outra, um gatuno recebia uma carga de sal no bumbum, disparado por alguma espingarda carregada pela boca, do tipo “espera um pouco”. 

A delegacia da polícia, com efetivo ridículo, não dava conta de proteger a população, sempre chegando à cena do crime depois da cerveja derramada. A cidade foi crescendo, ocupando outros vales e encostas, depois que mais duas fácute;bricas de tecidos se instalaram no município, além de outra cervejaria. Escolas e hospitais foram construídos, alguns particulares, outros públicos, e igrejas evangélicas começaram a medrar na cidade como cogumelos no campo. Com o crescimento desordenado da cidade, a população mais pobre começou a ocupar cada vez mais o alto das encostas das montanhas, devastando a flora original da Mata Atlântica, o que ocasionava deslizamentos de terra durante as trombas d’ácute;gua, enterrando na lama e matando cada vez mais gente. 

Com o aumento de roubos e furtos, um coronel aposentado da PM, que havia feito um curso de Segurança em Israel, passou a reunir em sua casa conhecidos e amigos, propondo uma ação conjunta dos cidadãos, para aumentar a segurança, jácute; que o governo nada fazia. Em Israel, segundo discursava o oficial, a população, voluntariamente, oferece um dia e uma noite de trabalho por semana, para ajudar a polícia nos trabalhos de patrulhamento da cidade, além de auxiliar no trânsito de carros. Esse sistema comunitácute;rio de Segurança aumentou naquele país depois da dissolução da União Soviética, quando muitos judeus emigraram para Israel junto com seus negócios de drogas. Em Israel, segundo afirmava o oficial, até general aposentado presta serviço ao público, como ajudar as pessoas a atravessar faixa de pedestre, com estridente apito na boca. 

A ideia do oficial aposentado foi recebida com euforia por grande parte da população, obviamente, aquela que não quer sofrer roubo ou furto e é contra a venda de drogas, cada vez mais escancarada. 

Assim, foram organizados grupos com três pessoas, homens e mulheres maiores de idade, um deles sempre armado de revólver, com registro da arma e licença para uso em geral, para realizar rondas na cidade, especialmente à noite, com a anuência da prefeitura, após a Câmara dos Vereadores aprovarem uma lei a respeito do assunto. A violência na cidade diminuiu consideravelmente. A população passou a sentir-se mais segura e feliz. 

Porém, um deputado federal, eleito também com votos da população local, começou a fazer campanha contra essa iniciativa, dizendo que serviço de Segurança não compete ao povo, mas ao Estado, e que deveria ser aprovada uma lei federal para implantar tal procedimento. O deputado foi apoiado por muitos políticos, especialmente por aqueles que defendem o uso recreativo das drogas e o fim da PM. Assim, esse serviço voluntácute;rio em prol da defesa da vida e dos bens dos munícipes foi perdendo força, restando meia dúzia de grupos abnegados que continuaram a fazer patrulha à noite, à revelia de tudo. Não é preciso dizer que a violência aumentou, para gácute;udio também dos drogados, aumentando o número de zumbis na cracolândia local. 

Com o crescimento da violência, aumentou também o número de estupros de mulheres. Algo tinha que ser feito, para enfrentar essa modalidade de covardia absoluta. Foi então que o velho oficial aposentado propôs que meninas, moças e senhoras passassem a realizar curso de defesa pessoal, como judô e jiu-jitsu. O coronel, ele próprio, se prontificou para ensinar às mulheres voluntácute;rias o Krav Magácute;, que é utilizado em Israel por serviços de Segurança, Exército e Serviço Secreto, como defesa pessoal corpo a corpo. 

Com o tempo, aumentou o número de marmanjos sendo atendidos nos hospitais, com um ombro deslocado, com um dedo quebrado ou com os testículos inchados, e hematomas no rosto e no corpo, não sabendo explicar direito aos médicos e enfermeiras o que havia ocorrido, inventando uma mentira estapafúrdia. O número de estupros caiu abruptamente. 

O tal deputado federal também começou a se opor a essa modalidade em massa da autodefesa de mulheres e mocinhas, especialmente depois que apareceu com o nariz quebrado num pronto-atendimento hospitalar. Coincidência ou não, o prefeito socialista havia implantado um curso de defesa pessoal aos presidiácute;rios, para que ocupassem melhor seu tempo, sem ociosidade. 

Moral da estória: quando um governo trata melhor os bandidos, oferecendo auxílio-reclusão, sem se importar com as famílias das vítimas que foram mortas, o povo fica marginalizado e entregue à própria sorte.

 

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