Comendo o rabo
Até o final da década dos anos sessenta, não era comum, ao menos na indústria farmacêutica brasileira, a figura da mulher como secretária executiva. Esse trabalho era feito por homens, pois segundo uma teoria já superada, os homens seriam mais eficientes e também mais resistentes para o trbalho do que as mulheres. A verdade é que eles suportavam com mais tranqüilidade e equilíbrio as broncas dos executivos estrangeiros, normalmente estressados e deselegantes no trato com os funcionários brasileiros.
Nesse tempo, eu trabalhava no Laboratório Byk, uma firma alemã séria, fabricante do famoso creme Nívea, um produto que ainda hoje é um dos líderes do mercado de cosméticos. Certo dia, vindo da Alemanha para fazer o lançamento de vários produtos novos por aqui, chegou ao Brasil o novo presidente da empresa, o doutor Hans. Nós, os funcionários mais antigos logo apelidamos o homem de doutor “Sapus”.
O alemão era um sujeito muito simpático, aprendeu depressa o nosso idioma e passou, inclusive, a arriscar algumas gírias que os funcionários mais próximos fomos lhe ensinando. Adepto de coisas novas, muitas delas já usadas no seu país, o doutor Hans resolveu trocar o seu secretário executivo, até então um rapaz, por uma secretária mulher. Admitiu de pronto uma secretária brasileira bonita. Era assim na Alemanha e tinha que dar certo também no Brasil. Mas infelizmente não aconteceu o que ele previa.
No fechamento de um mês difícil, em que todos estavam com os nervos à flor da pele, o doutor Hans perdeu a calma e admoestou a nova secretária com palavras de ordem muito duras, gesticulou, elevou a voz. Foi uma bronca solene que toda a indústria e o bairro de Santo Amaro ouviram. A moça não suportou o tom áspero da advertência e abriu um sonoro berreiro. Não concluiu o serviço e continuou chorando pelo resto do expediente.
No dia seguinte, já bem mais calmo, o doutor Hans convocou uma reunião com o seu pessoal e usou a palavra para tomar uma decisão final e definitiva: “Eu precisa dizer uma coisa para todos vocês: “Eu não quererr mais trabalhar com secretárria brasileirra!... A gente não pode nem comerr o rabo delas que elas começam a chorarr!... Agorra só querro secretárrio brasileiro, homem de verdade!... Eles não chorram quando a gente comerr o rabo deles, ficam rindo, parece até que gostarr bastante!...”
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