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Humor-->Cheque borboleta -- 20/01/2007 - 17:12 (Jader Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Cheque borboleta


Meu pai nunca conseguiu juntar dinheiro. O pobre Juca viveu na maior dureza, até morrer. Eu me lembro de um dia em que um mendigo parou na porta do nosso bar e lhe pediu uma esmola e ele negou. Disse que não tinha dinheiro. O mendigo ficou nervoso e lhe dirigiu duras palavras, jogando uma espécie de praga: “Que os anjos digam amém e que o senhor nunca tenha!” Realmente, o pobre Juca nunca mais teve dinheiro, acho que a praga do mendigo pegou pra valer. Mas isto é outra história.
Assim que comecei a trabalhar como propagandista, mudei-me de Barra do Piraí para Taubaté e fui morar numa hospedaria da Rua das Palmeiras. A profissão exigia que se abrisse uma conta em banco para as remessas da ajuda de custo e do salário mensal. Abri a conta no Banco Mercantil de São Paulo, que ficava ali perto, quase na esquina da Rua Quinze de Novembro com a Carneiro de Souza, ao lado das lojas Styles. Aquele era o meu primeiro contato com um banco. O gerente, o senhor Jaime, hoje dono de uma loja de modas na cidade, sempre foi um cara legal e me liberou um talonário para que eu pudesse emitir alguns cheques, o que acabou por me meter numa encrenca brava. Veja.
Um amigo meu tinha uma distribuidora de remédios em Barra do Piraí e estava passando por um grande sufoco. Ele precisava pagar uma duplicata e não tinha dinheiro. Ao saber que eu tinha conta em banco, e alguns talões de cheques, pediu socorro. A quantia que ele precisava era gigantesca, algo, se fosse hoje, no valor de um carro zero quilômetro. O esperto propôs que eu lhe emprestasse um cheque no valor da dívida e ele me daria um outro no mesmo valor para que eu o depositasse na minha conta, exatamente na mesma data em que ele depositasse o meu lá em Barra do Piraí. A jogada era essa: o meu cheque cobriria o dele e o dele cobriria o meu. É o chamado “cheque-borboleta”.
Mas os bancos já conhecem essa jogada. Só o trouxa aqui, inexperiente nesses assuntos, concordou e entrou na fria. Os cheque se desencontraram no caminho e o meu chegou primeiro e foi compensado pelo senhor Jaime, que me conhecia e viu que na minha conta, embora pequena, havia depósito em cheque de igual valor. O cheque do meu “amigo” retornou sem fundos. O gerente, muito tranqüilo, mandou um “boy” me chamar e avisar que eu tinha três dias para cobrir o “buraco”. Aliás, aquilo estava mais para uma cratera do que para buraco. Peguei o “Trem de Aço” e varei a madrugada, sem dormir, para amanhecer na Barra do Piraí disposto a matar meio mundo. No final, não matei ninguém nem recuperei o meu dinheiro. O meu irmão mais velho, santo homem, que tinha uma antiga e sofrida poupança me emprestou o dinheiro que me salvou.
Dizem que as maldições atravessam gerações. Fico pensando se essas coisas não acontecem comigo por culpa da antiga praga que o mendigo jogou no Juca, meu pai. De qualquer maneira aprendi a lição: “cheque-borboleta”, nunca mais!
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