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Artigos-->O Ajudante, Um Angelical Romance de Robert Walser -- 16/06/2003 - 11:45 (Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos






>O Ajudante, Um Angelical Romance de Robert Walser

>

>Com certeza, eu serei bem feliz no túmulo,/ Se levar uma

>garrafa bem sortida/ Que naquela habitação, de paz tranqüila, /Ninguém sabe

se

>há taverna nem bebida.

>

>Zé d Avó Gontijo (1860-1905)

>

>O romance O Ajudante (Ed. Arx, 2003), traduzido por Zé

>Pedro Antunes, surpreendeu-me. Quando se fala em Walser (e no Brasil, isso

pouco

>acontece; eu e Zé Pedro falamos a respeito de duas traduções de outros

textos

>publicadas por ZPA no Usina de Letras, saíram alguns comentários de

escritores

>como Moacir Scliar e Bernardo Carvalho e jornalistas, especialmente da

Folha

>de São Paulo , e só), fala-se também em Kafka e Walter Benjamin, autores

>consagrados aos quais ele se ligou. Esperei que o texto de Walser me

fizesse

>lembrar do texto kakfiano, principalmente. No entanto, Der Gehülfe é um

>romance realista que se concentra na relação entre classes sociais.

Trata-se de

>uma narrativa que se constrói com base num narrador onisciente e que se

>concentra em observar a vida de Joseph Marti, empregado de Karl Tobler.

Marti

>vive num pequeno lugarejo às margens de um lago, e não está de mal com a

vida.

>As observações do narrador sobre Joseph muitas vezes se tornam quase uma

prosa

>poética, uma delicada observação do cotidiano. Transparece que Joseph é um

jovem

>inocente, sensível e até efusivo, tendo essa última característica sido

>demonstrada pela presença de vários pontos de exclamação pela narrativa.

>

>Eu creio que detectei, como núcleo do romance, a conflituosa

>relação entre as classes num país europeu onde elas se relacionam de forma

>rígida. As passagens que se referem ao ex-ajudante Wirsich, para mim, são

>aquelas em que o romance subitamente se encorpa. Wirsich tinha relações

sexuais

>com a criada Pauline. E até despertou a atração da esposa do sr. Tobler,

que

>mesmo depois de sua saída se referia elogiosamente a ele para provocar

Joseph.

>As passagens em que se destaca o nome "Wirsich" tratam justamente do

conflito,

>ou seja, são uma microfísica da luta de classe. Marti se espelha em

Wirsich. "Eu

>sou você amanhã", poderia ter dito Wirsich a seu sucessor. E, de fato, é

nesse

>rumo que o romance se encaminha: Joseph começou a conflitar justamente com

a

>figura com quem Wirsich tinha a relação mais complexa: "ela", a burguesa

esposa

>do engenheiro Tobler. Wirsich, bêbado, gritou ao burguês as verdades que

ele não

>queria ouvir. Depois tentou convencer o patrão que era um sujeito cindido,

fato

>no qual o patrão não acreditou. O engenheiro Tobler demonstra saber, ainda

que

>intuitivamente, que o trabalhador sob seu jugo não era ele mesmo, e sim

alguém

>alienado de seu próprio ser. Ao se reencontrar com esse ser, posto "dentro

de

>si" pela embriaguez e pelo ócio, Tobler reencontrou-se com a verdade de sua

>própria classe, algo insuportável, e o despediu.

>

>Essas impressões a respeito da presença de uma ideologia se

>reforçaram posteriormente, quando o narrador refere-se a um envolvimento de

>Joseph Marti com o socialismo:

>

>Sob o nome de socialismo, parecido a uma exuberante

>trepadeira, uma idéia ao mesmo tempo desconcertante e familiar havia-se

>apoderado da cabeça das pessoas, sem deixar de lado as mais velhas e mais

>experientes, e insinuara-se ao redor de seus corpos de tal modo que todo

poeta e

>escritor, ou mesmo as pessoas jovens que podiam prestar auxílio ou tomar

>decisões, por ela se apaixonaram. Jornais dessa moda ou tendência explodiam

como

>em cores flamejantes, com um arrebatador perfume de flores, da escuridão

dos

>espíritos empreendedores, para surpreender e entusiasmar a opinião pública.

>Faziam mais barulho em torno dos trabalhadores e seus interesses do que os

>levavam a sério. Eram freqüentes as demonstrações, das quais as mulheres

também

>caminhavam, agitando bem alto bandeiras vermelho-sangue e pretas.

>(WALSER, 2003, p.157)

>

>Nesta passagem nota o único deslize nessa excelente tradução.

>Talvez no lugar de "das quais" devesse estar escrito "nas quais". No mais,

>podemos dizer que essa passagem é muito curiosa, pois, embora Marti tivesse

se

>desinteressado dessa "moda" de socialismo, há indícios de que a

insatisfação com

>a ordem estabelecida e a situação do mundo que Marti sente se enraizou na

>realidade na medida em que se impregnou do "aroma" de Rosa Luxemburgo.

Desse

>narrador, não se pode dizer que não falou das flores. Não vamos esquecer

que a

>Suíça onde esse livro foi publicado é a Suíça onde vivia Lênin, exilado da

>Rússia.

>

>Embora eu tenha detectado como centro do romance a família

>comandada pelo pai de família Karl Tobler, há vários episódios curiosos e

>significativos: os dois dias de prisão do ajudante, em que ele se fascinou

com

>as histórias do ordenhador rebelde, com quem se identificou; o feriado

nacional,

>dia em que Tobler ficava especialmente cordial e amigo. O patriotismo,

insinua

>claramente essa voz que vem de uma Europa intoxicada pelo nacionalismo

>agressivo, neste caso serve para ocultar os conflitos entre engenheiros e

>ajudantes da Suíça (e do mundo). É notável também o quanto os conflitos

entre

>proletário e burguês presentes neste romance já são os de um capitalismo

>avançado, daí não estarem datados. Quase ao fim do romance, o próprio

Tobler

>afirmou que, embora ministre uma educação religiosa aos filhos, "não

acredita em

>nada". Essa vontade de nada, o niilismo, é bem um problema do século XX,

>detectado por Nietzsche, outro que se beneficiou da tolerância da avançada

Suíça

>e que morreu pouco anos antes de Walser publicar esse romance, tendo também

>terminado a vida transtornado.

>

>Enfim, desenvolvendo um tópico anteriormente abordado, faço o

>resumo da ópera: para mim, "Wirsich ist wirchtig" ("Wirsich é importante").

>Marcou-me especialmente o momento em que Marti o reencontrou reduzido à

miséria,

>com a mãe doente. Marti, como um anjo, ajudou Wirsich a encontrar um

caminho. E

>ainda, na intimidade da alcova, ensinou-lhe boas maneiras, recebendo a

seguir

>sonífera a resposta do outro: "Você é o mesmo um bom rapaz, Marti"

(WALSER,

>2003, p.234). A relação entre anjos e ajudantes, presente em Walter

Benjamin,

>foi observada por Jeanne Marie Gagnebin:

>

>Os anjos de Benjamin parecem assim progressivamente atingidos

>por uma espécie de incapacidade ou de deformação, bem como as bizarras

criaturas

>de Kafka, esses ajudantes e esses mensageiros que poderiam, pois, ser anjos

>potenciais, mas que só conseguem incomodar aqueles que deveriam ajudar e

que não

>transmitem mais nenhuma mensagem (GAGNEBIN, 1997, p.128).

>

>Posso dizer que Marti não foi um anjo tão desastrado

>quanto os anjos de Benjamin, embora fosse também chamado, pela Sra. Tobler,

de

>bizarro. A situação do local e da família em que se passou a narrativa

sobre

>Marti foi também fora do normal, pois, no decorrer do romance, o patrão se

>mostrou cada vez mais patético e desajustado, e a atmosfera progrediu das

>alegrias e sonhos do verão para decadência e os atritos do inverno. Quando

>Wirsich reapareceu, em meio ao longo e tenebroso inverno da decadência da

casa

>dos Tobler, afirmou:

>

>Eu bem que adiantei tudo isso ao interesseiro do Tobler --

>replicou o outro --, que ele ainda ia ser obrigado a sair voando da casa e

do

>jardim de que tanto se gabava. Foi o que ele ouviu muito bem de minha boca

>naquela noite, e agora as minhas palavras estão se cumprindo (WALSER,

>2003, p.286).

>

>As palavras de Wirsich a respeito de Tobler não só estavam se

>realizando como Tobler estava bebendo e se transformando em Wirsich, ou

seja,

>bebendo excessivamente para esquecer dos problemas. Quando, ousadia final,

>Joseph encontrou Wirsich novamente desempregado e o levou para dormir na

torre,

>dentro casa de Tobler, Joseph já estava decidido a encontrar outro

trabalho, já

>tendo sido agredido pelo Sr. Tobler. Ele não esperou a queda e a expulsão

dos

>Tobler da "Vila do Poente".

>

>O final impressiona, pois há uma analogia entre o romance a

>casa dos Tobler. Joseph é quem instaura a narrativa, com sua chegada na

casa.

>Com sua saída cai o pano. O leitor entra na "casa" que é o romance,

acompanha as

>andanças de Joseph dentro dela, e, assim como o ajudante, nela permanece um

>tempo, até sair.

>

>Bibliografia:

>

>GAGNEBIN, Jeanne Marie. Linguagem, História e Memória .

>Rio de Janeiro: Imago, Ed., 1997.

>

>REPA, Luiz. Um Idílio em Ruínas . Caderno Mais!

>11-05-2003, p. 12.

>

>WALSER, Robert. O Ajudante . Trad. José Pedro Antunes.

>São Paulo: Arx, 2003.

>

> ----- Original Message -----

> From:

> Regis Gonçalves

>

> To: Lúcio

> Emílio

> Sent: Monday, June 09, 2003 10:54

>PM

> Subject: Crítica

>

> Prezado Lúcio:

>

> Anda sumido!

> Como vão seus projetos, você que é sempre aquela

> locomotiva intelectual tentando acertar o curso de seus

> trilhos?

> De mim, acho que cansei de ser poeta. Ao menos

> até conseguir editar os tais inéditos que tenho na gaveta.

> Por isso, gostaria de me credenciar junto a você

> como... crítico literário. Como diriam os paulistas: magina!

> Enfrentei o desafio para elogiar o livro de um

> amigo. Pouco desafiador, você dirá. Não é exatamente uma estréia, já fiz

muita

> resenha, mas este texto puxa mais para o lado da crítica.

> Gostaria de conhecer sua opinião, que será ainda

> mais benvinda se já conhecer o livro. Se não, recomendo a leitura.

> Abraço.

>

> Regis

>

>----------



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