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Cartas-->Carta de um soldado para Adriana V. Curvo -- 03/08/2005 - 11:07 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Verdades e mentiras!

Carta de um soldado e um cidadão a Adriana Vandoni Curvo, economista pela FGV.

Cara Adriana,

Vi seu artigo sobre o ocorrido envolvendo o Dep. Bolsonaro, o Cel Lício, o guerrilheiro Genoíno e por aí vai. Antes disso, permita que me apresente:

Sou o 1º Ten Braulio Sakamoto, formado pela AMAN em 2001, atualmente sirvo na Brigada de Infantaria Leve em Caçapava - SP e faço Mestrado em Engenharia Eletrônica no ITA. (Não expandirei essas infinidade de siglas, até porque em seu artigo você demonstrou que gosta de pesquisar, e presume-se que alguém que escreva artigos tenha uma cultura geral ampla - então me permito omitir as descrições de cada uma).

Pois bem, li seu artigo com muito cuidado, e adianto-lhe de antemão que não sou um ativista político, ou o quer que se relacione. Sou um cidadão tal como você que, contudo, ama sobretudo esse país, o Exército e o que ele representa, e que pensa um pouco diferente.

Concordo, todavia, com você em um ponto - o totalitarismo é cruel, não só a quem é imposto, mas sobretudo a quem impõe. Cuba, como você bem explicitou em seu artigo - sabe muito bem do que falo.

Mas pense comigo: até que ponto esse "regime cruel" nos oprimiu tanto?

Impressiona-me deveras uma coisa a respeito de toda essa história ocorrida a partir de 64: Você já experimentou perguntar a alguém que viveu naquele tempo o que sente a respeito? Pois bem, eu já, e sempre obtive a mesma resposta. Você bem que poderia tentar: Pergunte a seus pais, amigos, o "pessoal da antiga", o que achavam da tal "ditadura militar"... A menos que algum deles fosse comunista, guerrilheiro, agitador político, ladrão de bancos, assassino, seqüestrador, ou exercesse alguma outra atividade gloriosa, em prol da liberdade e da democracia", todos dirão em uníssono:

Foi o melhor período que o Brasil já experimentou nos últimos tempos...

E olha que tenho apenas 27 anos - sou de 1978 - não vivi o auge desse período, de forma alguma, e você deve saber o quão é difícil para um jovem acreditar em algo que não tenha presenciado - porém me assusta a quantidade de pessoas com a mesma visão de um período considerado de “terror” e tão “vergonhoso” da nossa história.

Mas eu lhe digo porque tanta gente tem saudades desse período: porque se respeitava quem vivia dignamente, trabalhava com honestidade e produzia coisas positivas. Porque o espírito militar é assim. O problema é que a maior parte dos "jornalistas", pseudo "intelectuais" e demais "classes pensantes" jamais entrou - a maioria fugiu da "ditadura dos milicos", simulando alguma doença para não cumprir o serviço militar - em um quartel, e não sabe o que estou dizendo.

Obviamente não existe perfeição - somos todos homens, sujeitos a falhas - mas a verdade é que cultua-se valores dentro de um quartel que na maioria das outras comunidades já são coisas até consideradas até "demodè".

Experimente passar um dia dentro de um quartel, converse com as pessoas lá dentro, e saberá do estou falando.

Coisas simples, como dizer a verdade, têm tanta relevância que o primeiro item do anexo que trata da tipificação das transgressões disciplinares em nosso RDE é: "Faltar a verdade - Transgressão Grave". Hoje, a justiça através de seus "sábios" mecanismos - ou subterfúgios? - até legitima alguém a não dizer a verdade. Veja os jornais, a Sra. deve saber melhor que eu.

Voltando ao assunto, não entendo a colocação do termo "ditadura militar" para os governos a partir de 64. Nesse período, nunca deixamos de ter constituição - pegue seus velhos livros de história, veja quanto tempo o glorioso Getúlio Vargas governou este país sem carta magna e então falaremos sobre o que é ditadura... O período de 64, se não se lembra, foi conturbado não só no Brasil, mas o mundo todo passava por um período de crise - governos fortes não eram exclusividade nossa, pelo contrário.

Aliás, até hoje, países como os EUA, que gabam-se por levar a "liberdade" ao mundo, vivem em um clima de liberdade vigiada bem ao gosto dos tempos de guerra fria. Até mesmo seu artigo, objeto desta carta, provavelmente foi assunto de discussão em alguma mesa no serviço de informações americano e se nada aconteceu a você, provavelmente o tema foi considerado por demais trivial e de pouca relevância...

Desculpe-me pelas voltas, infelizmente não possuo a sua cultura de um escritor de artigos - aliás esse não é o meu ganha-pão, felizmente; sou um homem das artes bélicas e das ciências - pelo que peço perdão pelos meus rodeios... Mas como escrevo com o coração de um soldado e cidadão - acho até justificável tantas voltas para chegar ao cerne da questão.

Bem, falávamos sobre liberdade. Veja a liberdade que há em Cuba hoje - não fala-se um "ai" contra o camarada Fidel sem haver reação, geralmente bastante "contundente". Essa era o regime pelo qual os defensores do comunismo lutaram a partir de 64. Esses "camaradas" eram treinados na Rússia, em Cuba, traziam seus pretensos ideais de igualdade. Hoje, os "sobreviventes" tentam justificar-se perante a história e a sociedade pelos crimes que cometeram em favor de uma ideologia equivocada. Assaltos, seqüestros, assassinatos, torturas, desordem, caos urbano e rural...

Será que a prática criminosa se justifica pela implantação de um "regime de igualdade"? A senhora, pessoa muito culta, deve ter ouvido falar de um Cap. Lamarca. Há um filme sobre ele. Pois bem, esse canalha foi responsável pelo episódio mais vergonhoso da história do Exército. Servindo em Osasco, esse elemento infame assaltou o paiol do quartel, levando munição e armas, a fim de suprir seus camaradas com o material necessário para matar, seqüestrar e assaltar bancos. Não satisfeito, assassinou elementos que confiavam nele - seus soldados, subordinados, à porta do quartel.

Ao seu heroísmo, Lamarca foi premiado com um filme que ostenta o pomposo título: "Lamarca - Herói do Brasil", e sua mulher recebe pensão até hoje do governo. Herói!? Dói-me a alma ver um verme de tal categoria tomado por herói. A senhora sabe por acaso o que aconteceu com as esposas, filhas, mães, dos militares que esse rato covardemente assassinou? Nada, a imprensa não ousa sequer mencioná-los. Algumas recebem um pensão de cerca de 800 reais, soldo de um cabo.

Pois bem Sra. Adriana, esse foi um caso. Tantos outros ocorreram, mas por que não se conta a história toda?

O caso do Cel. Lício foi um exemplo. A senhora, de boa família e formação, provavemente não sabe o que é ter uma arma apontada na cabeça, ou dormir na mata esperando o inimigo aramado até os dentes... Se soubesse, provavelmente faria melhor juízo do Cel Lício. Elemento de formação militar, sabe que a pior desgraça para nós é termos que levantar armas contra irmãos, compatriotas.

Cumprindo um dever, embrenhou-se na mata por meses, em um terreno ocupado pelos "camaradas", os quais não tinham, como ele nos conta em seu depoimento, um senso de justiça à altura de sua suposta ideologia - veja o caso do jovem de 17 anos assassinado barbaramente por ajudar as tropas legais.

O Cel. Lício, como dizia, é um herói. Quando chora, chora pela dor que lhe causa a perda de companheiros que viu morrer na mão de canalhas covardes que combateu nas selvas do Pará... Chora pelas cicatrizes deixadas por uma desgraçada, que o atingiu covardemente - como é prática comum para aqueles que não têm fé naquilo que fazem. O Cel. Lício chora, pelo mesmo motivos que nós, militares de hoje, choramos: o descaso com aqueles que fizeram do Brasil uma nação democrática, que permite até que pessoas como a senhora escrevam seus artigos e expressem suas opiniões.

O militar não é formado para presidir um país. Sou oficial de carreira combatente e afirmo-lhe com propriedade. Dentro de um quartel, vive-se rodeado de regras e normas, que na nossa filosofia (e na da maioria das FFAA do mundo) são necessárias para a própria sobrevivência da Força.

Resumindo: somos democráticos até onde nos impõe o regulamento. Concordo que um general não é o melhor presidente que o país pode ter. Por outro lado, somos excelentes administradores. Como é possível que o Exército vá ao Haiti, planeje e execute uma missão de manutenção da paz nas proporções do que tem sido feito, com os recursos cada vez menores que nos destinam?

Somente com uma administração e visão de futuro invejáveis.

Isso ficou patente no período pós-64. No momento em que a Sra. ler este e-mail, em seu notebook, no conforto de sua casa, com sua tevê e o aquecedor elétrico ligado, lembre-se por um instante de onde vem a energia que movimenta isso tudo:

Itaipu, minha cara Adriana, não nasceu do nada, simplesmente. Houve uma visão estratégica por trás disso. Ao ligar seu carro pela manhã e ao abastecê-lo a 2 reais por litro de gasolina, lembre-se que após 64, alguém pensou em construir um empresa que fizesse a exploração do amplo potencial petrolífero do Brasil. Assuntos tão na moda atualmente, como fontes de energia renováveis, já eram assunto corriqueiro para os estrategistas militares em 64 - ou a Sra. não ouviu falar do Próalcool? Logo militares, seres tão retrógrados... Energia nuclear, que todos tratam hoje como algo praticamente "pecaminoso", sempre foi prioridade nos governos militares, e hoje o projeto Angra está jogada às baratas.

Nossos "excelentes" administradores atuais obviamente acreditam fielmente que os recursos hídricos - os rios - vão durar para sempre...

Até uma criança de 5 anos sabe que isso não é verdade. Isso sem falar na Embrapa, responsável diretamente pelos sucessivos superávits na balança comercial do Brasil... Na Embraer, empresa que disputa de igual com companhias francesas e americanas. E olha só que interessante: a Embraer surgiu graças ao ITA, escola de engenharia do Comando da Aeronáutica.

Quanta coincidência, não é mesmo?

Por que tanto ódio? Tanto revanchismo? Por que difamar a institituição nacional de maior confiança por parte da população? (aproveite e pesquise: o Exército está, inclusive, na frente da Igreja Católica...) Será tão difícil aceitar que tudo que ocorreu, ocorreu por força da situação vigente?

Que o Brasil é o que é em grande parte devido à ação estratégica que os administradores militares vislumbraram? Por que só se conta metade da história?

Quem não veste uma farda e orgulha-se disso nunca entenderá e tão pouco se esforçará para responder essas perguntas. Até porque é muito mais fácil criticar e difamar.

O Dep. Bolsonaro não é visto por todos os militares como um exemplo. Mas é claro que naquele dia, em que levou o Cel. Lício para contar-nos seu emocionante depoimento, ele também foi um herói.

É fácil para o Sr. Genoíno gabar-se de ter um passado "politicamente engajado" para não dizer coisa pior... Pergunte onde estão as cicatrizes
em seu corpo, as marcas de choque ou torturas...

Agora olhe o corpo do Cel. Lício, e você verá marcas de alguém que derramou sangue por este país e por uma causa... Isso é ser herói, coisa que nem o Sr Genoíno - "Geraldo", nem o pilantra Lamarca passam perto.

Por fim, cara Adriana, espero que aproveite seu tino e sua vocação de pesquisadora para conhecer um pouco mais da história que nossos livros
fazem questão de omitir, que a imprensa, criminosamente, faz questão de mascarar e deturpar, e que os canalhas que, infelizmente, permanecem entre nós insistem em contá-la pela metade. Houve erros, muitos, de ambos os lados, mas houve muitos acertos de nossa parte. Por que não contar a história por inteiro?

É um crime tentar desacreditar uma instituição como as FFAA perante a população, deixar nossas crianças crescerem sabendo somente metade da história. Se ainda assim, não concordar em nada do que explanei aqui, é um direito seu, garantido pelos militares desde 1964; todavia, sugiro que invista mais na sua carreira de economista, que tenho certeza, ser brilhante.

Deixo, finalmente, uma frase muito expressiva - e bastante interessante, nesse período de intervencionismo global por parte dos EUA - da qual, infelizmente, não me recordo a autoria, porém que me marca profundamente quando assuntos da natureza destes tratados aqui vêm à tona:

"Um país que confia mais em seus direitos que em seus soldados engana-se a si mesma, e prepara a própria queda."

1º Ten Braulio Fernando R Sakamoto








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