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Infanto_Juvenil-->NA PAUTA DA VOVÓ SEMIBREVE -- 09/09/2006 - 20:27 (Cheila Fernanda Rodrigues) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
NA PAUTA DA VOVÓ SEMIBREVE

Vovó Semibreve entrou na sala solfejando a escala de DO:
_ Do – Re – Mi – Fá...
E foi sentando-se com dificuldade, sem terminar a escala musical e falando consigo mesma:
_ Que canseira! Preciso de uma pausa! Já não estou realmente no meu melhor tom. Hoje inventei de dar uma limpadinha na pauta e quase morri. E foi um servicinho leve: só tirar uns bemóis e uns sustenidos que estavam foram do lugar porque minha empregada, a Fermata, apesar de fazer tudo muito bem feito, é uma lerdeza, fica um tempão na mesma nota.
Em seguida, Vovó chamou a sua auxiliar com todo fôlego:
_– Fermata, oh Fermata!
Silêncio completo. Então vovó deu um agudo estridente:
_ Fermata, estou chamando!
Fermata veio devagar, assim como devagar vieram suas palavras:
_ Es-tou che-gannn-do, pa-troa. O que de-se-ja?
_ Quero esta pauta brilhando. Meu pessoal vai chegar para a festa de amanhã e não quero um ponto sequer fora de ordem.
_ E só vem a sua fi-lha?
_ Claro que não, Fermata. Você é uma ótima pessoa, mas é lentinha mesmo! Vem minha filha, a Mínima, minha neta, a Semínima, com seus devidos acompanhantes e mais parentes e amigos. É meu aniversário e sei que ninguém falta.
_ Ai que bom pa-tro-a! Gos-to muui-to quando to-dos a-pa-re-cem aqui.
_ Mas agora chega de prosa e nada de pausa. Vamos lá, vamos lá!
Vovó Semibreve, cantarolando, emitia um som bonito e o pensamento voando... Ela pensava no quanto o som é parte integrante da vida e no quanto a música tem sido importante em sua vida. Sempre lhe foi mensageira, trazendo, nos sons, mensagens para todos seus momentos, desde os mais alegres até os mais tristes. Sua mãe a embalou com música quando criança. Também foi a música que animou sua adolescência e juventude. E a marcha nupcial no seu casamento? Emocionante! Aqueles sons ainda estão vivos, tão vívidos como o momento em que entrou na igreja! O nascimento da filha e o quanto cantava para ela! A música sempre... A música em todas as etapas da vida... Imersa em suas reflexões, despertou com o som da campainha:
_ Fermata, vá atender! – E ela, lenta como sempre, respondeu bem devagar:
_ Es-tou in-do, pa-tro-a!
Tão logo a porta foi aberta, a pauta da vovó virou uma agitação tremenda. Cumprimentos efusivos: abraços, beijos, uma alegria geral. Uma reunião de família, uma reunião musical. A neta Semínima foi logo reclamando:
_ Credo, vovó, essa estrada para chegar a sua chácara está ruim demais! Não dava para manter a velocidade e, conseqüentemente, nem o ritmo da viagem. Tínhamos que sair do andamento a todo momento.
_ Também, mamãe, essa minha filha não se conforma com uma velocidade mais light, como um moderato.
_ Sabe, vovó, eu gosto mesmo de velocidade, acelerando, acelerando...
_ É, mas um ritmo mais lento seria melhor para você, aliás para todos os jovens que andam querendo voar.
_ Ah, vovó, estou curtindo a vida, mais ainda a vida de recém-casada. Quando eu engravidar, aí vou diminuir a velocidade.
_Oba! Então vem semicolcheia por aí? Serei bisavó?
_ Com certeza, vovó. Não vou demorar muito. E já estou pensando que nome escolherei.
_ Conte-me, conte-me!
_ Se for menina, será Euterpe, pois eu adorava quando a senhora falava que ela era a deusa da música, orgulho de nossa família. Guardei bem que ela inventou a flauta e também se tornou deusa da poesia lírica. Consigo até visualizar alguém a declamar uma poesia e Euterpe acompanhando na flauta, tirando sons incríveis , encantando a todos.
_ E se for menino?
_ Ah! – com um ar sonhador – Se for menino, vovó, será Orfeu, pois sou fascinada pela história dele. Com seu alaúde e sua voz, era capaz de suspender o curso dos rios, atrair animais, movimentar árvores e rochedos. É como se toda a natureza se curvasse à música de Orfeu que era portador de uma primavera constante.
_ Lindo, querida! Desculpe de estar bocejando, mas estou com um sono danado. Vamos repousar porque amanhã esta pauta vai ferver com todo o pessoal que ainda vai chegar.
_Vovó, só mais uma coisinha: além de nós e os demais familiares que faltam chegar, vem mais gente?
_ Com certeza, pois convidei as claves de fá e sol, a família do Dr. Staccato, as irmãs quiálteras, enfim, todos meus amigos da música. E eles confirmaram.
_ Então vamos dormir que amanhã precisamos estar bem dispostas para a agitação. Boa noite, vovó!
_ Boa noite!
Vovó tomou um chá que a fiel Fermata preparou e pôs-se a meditar em voz baixa, meio sonolenta.
_ Ah! Sinto que estou chegando ao “fine”. Talvez esta seja a última festa, mas sei que nunca vou morrer. Todos os frutos musicais vão se espalhando pelo caminho. A música jamais morrerá. É a arte que unifica os homens de todos os tempos, de todas as terras, de todas as raças, nas horas tristes e nas alegres. Ela é o canto de vitória e canto de guerra, canto de alegria e canto de dor, cantiga de ninar, cantiga de purificar a alma... É sempre renascer... reviver...
No dia seguinte, vovó estava se olhando no espelho, como quem acaba de se arrumar, quando a campainha soou. Ela mesma foi atender.
_ Todos juntos! Vocês combinaram?
_ Sim! – todos responderam ao mesmo tempo e em bom som.
Todos foram se acomodando, batendo papo, aproveitando o dia maravilhoso. Os jovens debandaram pela chácara aproveitando tudo que tinham direito. A festa só seria à noite e o dia era feito para eles curtirem cada pedacinho: cachoeira, trilha, cavalgada... Enfim, as mais diversas aventuras com seus respectivos sons. Perceber os sons de cada curtição era o máximo!
Chegou o momento da festa e todos “obrigaram” Vovó Semibreve a ficar uns bons momentos em seu quarto porque queriam lhe fazer uma surpresa. Depois de tudo certinho, pediram que Fermata a trouxesse e, de preferência, bem devagar, até porque Vovó estava de olhos vendados.
_ Um, dois, três, já!
Fermata tirou-lhe a venda e um coral se pôs a cantar. Canções de todas as épocas. Ao final, emocionada, Vovó Semibreve aplaudiu muito.
_ Que surpresa maravilhosa! É tudo que amo! A música é som, mas ao mesmo tempo é composta de silêncio. Ela soa e ressoa, indo ao infinito, e volta para cada um que lhe reserva um espaço dentro de si. Ali a harmonia se faz e espalha por todo o corpo a sensação de vida pulsante. Obrigada! Estou muito feliz!
_ Viva Vovó Semibreve!
_ Viva!
Entre abraços, beijos, salgadinhos e brigadeiros, uma guitarra se pôs a soar. Era o rock trazendo sua contribuição e espalhando alegria e movimento na festa que não teria hora para terminar...
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