-------- Adúltero ignominioso
-------- Corro no rio lodoso
-------- Que tem fonte d água pura
-------- Mas nesta longa corrida
-------- Só encontro na descida
-------- Margens d intensa negrura.
-------- Pleno de amargura
-------- Quando intento a alvura
-------- Da humilde pequenez,
-------- Logo o lodo rarefeito
-------- Me suja de preconceito
-------- E enegreço outra vez.
-------- Se me humilho à altivez
-------- Ou me dou à insensatez
-------- De nadar contra o defeito,
-------- Por cada estóica braçada
-------- Contínuo na levada
-------- E nem palmo logro a jeito.
-------- O sonho mais que perfeito
-------- Que trago dentro do peito
-------- E ainda não vivi,
-------- Dê a foz p ra onde der
-------- Por vontade e se puder
-------- Guardá-lo-ei para Ti.
-------- O mundo entretanto ri
-------- Porque esquece ter de si
-------- No enxurro vero espelho
-------- E prefere ignorar
-------- Que o sangue que corre a par
-------- Todo ele é vermelho.
-------- Só lastimo o conselho
-------- Do novo que dá ao velho
-------- O brilhantismo da ideia,
-------- Pois logo a seguir reparo
-------- Que esse estranho caso raro
-------- Vai a meu lado na cheia.
-------- Vida linda ou vida feia
-------- Todo o novelo se enleia
-------- À vista e o rei vai nu...
-------- Ambos vamos na corrente
-------- Tu atrás e eu à frente:
-------- Meu Amor... Salva-Te Tu!