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Artigos-->Matrix Reloaded Revive Platão -- 12/06/2003 - 16:45 (Ivan Guerrini) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A estréia de “Matrix Reloaded” em telas brasileiras já mereceu a capa de várias revistas e sites da internet e está trazendo à tona a discussão de muitos tópicos interessantes dentro da filosofia. Um deles é o conhecido mito da Caverna de Platão. Nessa caverna, Platão imagina a presença de pessoas amarradas, vendo apenas sombras de objetos e outros seres que estariam vivendo do lado de fora. A doutrina disseminada na caverna, entretanto, é a de que lá fora mora o grau máximo do perigo e do maligno, por isso radicalmente proibido, sendo a possível e aceitável maneira de viver bem aquela que segue à risca a cartilha da caverna, a única e suprema verdade. Lá, ainda que acorrentados e com insípidos momentos de liberdade, os habitantes são condicionados a pensar que aquela é a vida certa a ser vivida e que a morte como final de tudo é apenas uma conseqüência inevitável. A caverna é, portanto, o reinado supremo da entropia inexoravelmente degradante, o grande dogma conquistado pela ciência clássica.

“Matrix Reloaded” chama-nos duramente a atenção para a possibilidade de estarmos vivenciando esse mito de Platão neste início de terceiro milênio em várias instâncias de nossa sociedade. Medo da verdadeira liberdade não é um assunto novo, como se sabe. Esse medo é que, no arquétipo coletivo disseminado há séculos entre os humanos e a pretexto de evitar que o outro se desvie do caminho que se define como único libertador, impõem regras duras para uma vida mofada e sombria. Deixando de lado a política onde as manipulações da realidade são crassas, um dos locais mais difíceis para se identificar, hoje, essa realidade forjada à sombra de interesses de grupos no poder, diz respeito ao ambiente acadêmico das universidades. Quando F. Capra em seu grande sucesso “Ponto de Mutação” denunciou que muitas das verbas para a pesquisa eram distribuídas conforme o interesse de grupos dominadores e não mais conforme a necessidade do verdadeiro desenvolvimento social, foi tido como um físico místico a quem não se deveria dar mais que parcas atenções. As Cavernas de Platão nas universidades, agora menos camufladas, são aquelas onde os métodos científicos são considerados perfeitos ou quase, únicos adequados e aceitos para se estudar e entender a natureza. Qualquer estudo ou evento que não caiba dentro de seus rígidos critérios é desqualificado a priori como não científico e, portanto, passível de conotação pejorativa. Os leões de chácara dessas Cavernas de Platão são, geralmente, credenciados por seus títulos, publicações indexadas e altos cargos administrativos, passando a idéia para alunos e sociedade em geral de que a sua mensagem é a única verdade advinda da ciência por excelência, a clássica. Na sua ótica, suas áreas de estudo e seus métodos empregados são sempre os verdadeiros, já que conseguem apoio dos órgãos de fomento. Se esses órgãos são, eventualmente, formados por uma maioria de pesquisadores que pensam dessa forma, Capra tinha toda razão para dizer o que disse e esse sistema acaba sendo um multiplicador de seres cavernosos. A boa notícia é que, aos poucos, mais e mais professores e alunos estão tendo a coragem de se desvencilhar das amarras das cavernas e, com isso, descobrindo a maravilha de se fazer uma ciência sem dogmas e sem fronteiras que leva ao pensar crítico construtivo, libertador e transdisciplinar na direção da formação do ser humano integral.

A criação de realidades distorcidas mostradas no filme ainda conclama o cuidado que se há de ter com os chamados profissionais inconscientes, para se dizer o mínimo, os quais, ao invés de seitas e igrejas, procuram hoje as chamadas “Sociedades Secretas” para se infiltrar, organizar e, via de regra, dirigir. De fato, a evolução do ser humano neste novo milênio direciona-o a buscar respostas para sua vida além das veiculadas nas tradicionais igrejas e nos arcaicos púlpitos que servem a estilos caducos de educação. Dessa forma, é compreensível que os grupos esotéricos e semelhantes tenham se disseminado em nosso meio por conta de um fechamento de portas das igrejas e das escolas para o transcendente. Há que se ter um cuidado especial, entretanto, com aqueles que, nesse meio esotérico, pregam com ardor hipnótico que a sociedade está presa numa Caverna de Platão e que dela precisam se libertar rapidamente para formar um mundo bem melhor, mas que para isso se torna imperioso entrar em seu grupo, e somente nele, fazer consultas com este ou aquele guru do seu meio, obedecer tais rituais específicos, etc... Se permanecer numa Caverna de Platão antiga e escura sob o controle de rançosos conservadores disfarçados não resolve nenhum problema da essência do ser humano, sair de uma caverna dessas para entrar em outra, mesmo que mais confortável e conveniente, continua não trazendo a vida plena para ninguém. O caminho para a realização pessoal continua sendo o autoconhecimento e a jornada pode até ser em grupo, mas sem dogmas, sem receitas prontas e sem caminhos únicos recitados “ipsis verbis” por grupos tidos como messiânicos. Afinal, onde fica a inevitável parcela irregular e solitária da jornada, aquela que abre portas à inesperada e abençoada criatividade? Essa mesma jornada que, como permite escolher a realidade a ser vivida, é essencialmente quântica, conceito que os chamados gurus distorcem ao vociferar fórmulas prontas em seus cursos elitistas e sectários. Que “Matrix Reloaded” traga ao nosso debate algo mais que um efêmero êxtase pelos ótimos efeitos especiais do segundo filme da série.

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