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Cronicas-->O BRAÇO AMIGO E A PASSARELA -- 26/03/2010 - 00:35 (Marluci Ribeiro de Oliveira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O BRAÇO AMIGO E A PASSARELA

(Escrito em 14/04/2003. Trata-se de caso verídico, ocorrido em 1988.)

O sol se punha, a tarde já trazia ares frescos da noite mal chegada. Mas eu suava profusamente diante da passarela. O trànsito caótico do Rio de Janeiro exigia aquele acesso. Qualquer tentativa de ziguezaguear entre os carros seria desatino, suicídio. O motorista seria, de pronto, absolvido.

Precisava atravessar. Uma bateria de testes psicológicos me aguardava, assim como o sonho de ingressar no serviço público federal. Na iminência de perder a chance, agarrei-me ao primeiro braço firme que encontrei e, munida de coragem, balbuciei entre dentes ao salvador desconhecido: "me atravessa!"

Calado e igualmente constrangido, o estranho balançou a cabeça e seguiu adiante, carregando uma jovem pálida, trêmula e envergonhada.

Do outro lado, sã e salva, balbuciei um agradecimento ao rapaz, na certeza de jamais o rever. Adentrei o edifício e segui, incontinenti, para a sala de testes. Não olhei para trás.

"Meu Deus, o que ele deve ter pensado de mim? Sou noiva, comprometida e praticamente me dependurei em um desconhecido!".

Procurei esquecer a cena e me concentrar nos testes. No intervalo, já refeita, relanceei os olhos pela sala e qual não foi meu espanto ao reconhecer ali o meu auxiliar anónimo.

Sorri amarelo. Engoli em seco. Forjei uma coragem que não supunha. Ele correspondeu, sob olhar piedoso. Provocar comiseração não me era um sentimento confortável. Mas agradeci o semblante respeitoso. Sem sombra de júbilo ou escárnio.

Não sabia se rezava pela aprovação dele ou por seu insucesso. Tive remorsos, antecipadamente. Pedi a Deus que ele passasse. Perdi perdão por ter desejado seu fracasso.

Entre emoções tão conflitantes, me despedi e, na saída, tracei itinerário mais longo, livre de atrasos, para evitar a bendita passarela.

Semanas depois, reencontrei meu ilustre ajudante, dono do braço amigo, na rodoviária Novo Rio. Partiria comigo no mesmo ónibus para Brasília.

Fomos da mesma classe, pertencemos ao mesmo grupo de estudos. O desconforto inicial virou mote para piadas. Descontraí-me. Decidi contar para todo mundo - as cinquenta e sete pessoas de minha turma - o caso e o acaso. Compartilhei minha fobia.

Sem querer, seu primeiro filho também se chama Lucas e tem a mesma idade do meu. Trata-se de coincidências benfazejas, das quais me orgulho de contar.

Na verdade, se não fosse por ele teria perdido os testes. Perdido o emprego. A chance de conhecer um bom amigo e de fazer piada de mim mesma.
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