Existem obras literárias que nos inspiram, nos impelem a retê-las. Mas nossa retidão de caráter nos impõe a devolução de livros emprestados. Por outro lado, a falta de recursos materiais impede a reprodução ou a compra de um exemplar.
Diante do fato, ambas amantes da boa poesia, nos propusemos a uma maratona em comum: copiar em papel rascunho "Os Mais Belos Sonetos Que o Amor Inspirou", compilado por J.G de Araújo Jorge.
Se não dispúnhamos de dinheiro, tínhamos ànimo e tempo. Assim, a "quatro mãos", em papéis de rascunho finíssimos, transcrevemos quase trezentos sonetos.
Foi uma missão conjunta maravilhosa! Ao copiá-los, os relíamos e ao fazê-lo, mais ainda admirávamos autores e obras.
Ainda trago guardada essa relíquia. Verdadeira prova de laços fraternais com minha irmã também canceriana. Testemunho de objetivos traçados e cumpridos. Materialização do amor à arte. Sobretudo crença palpável no sentimento do amor - que une homens a mulheres, irmãos, amigos e pais a filhos.
A singeleza da capa improvisada, as canetas de várias tonalidades de tinta, as folhas mal pregadas são meros indicadores da precariedade da situação vivida. Uma época de dificuldades, mas de muita união. As caligrafias bastante semelhantes sintetizam a proximidade dos pendores. O produto final traduz perfeitamente a possibilidade de concretização de sonhos em meio à escassez. É preciso tenacidade. Persistência. Sensibilidade. Ação.
Não nos restringimos ao sonho. Embarcamos juntas na tarefa. Incansáveis. Excursionamos pelas mais belas páginas da literatura brasileira, sob a forma de poemas. Sonetos belíssimos. Imortalizados em nós, eternamente para nós. Simplesmente tornados fraternos.
(Escrito em 09/01/2004. Trata-se de fato real, levado a efeito com ajuda da irmã Marly Ribeiro de Oliveira).
