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Cronicas-->1989 - Quintais -- 14/03/2010 - 17:38 (Jairo de A. Costa Jr.) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A mesma chuva que está parando a corrida de Fórmula Indy, lá no Anhembi, passou por aqui e cortou meu ímpeto de descer ao quintal, acordei - vou dar umas carpidas e passar a máquina, colocar fogo naquela montanha de mato seco, pensei comigo... trovão, puxa, mudou o tempo, fui fazer bicicleta e ver a prova, tava meio chata, excesso de coisas. Viajei no tempo, tenho e já tive quintais, aliás, um dos motivos que compramos essa nossa casa, em mil novecentos e oitenta e nove, foi ele. Entramos, olhamos e abrimos a janela do quarto - uh, que lindo! Em declive, mas, lindo. Voltei pra mim, olhando a tela e as janelas, um tempo atrás plantei uma mudinha de nada e agora, um enorme coqueiro e as palmas tirando a minha visão.
Voltei mais, aquela arvorezona do quintal da empresa de eletricidade, uma árvore que dava umas frutinhas pretinhas, um metro dentro e uma copona cobrindo mais da metade da rua, quanto brinquei nela e quanto engraxei e pulverizei o cara-chato, à sua sombra. Era a "arvrona" naquele quintal de sustos e medos, muito grande, com aquelas construções abandonadas do outro lado, à noite, então, os cavalos enlouqueciam, puro mistério, os moradores moravam lá numa boa, num canto na esquina de baixo. Mais mistério quando casais saiam daquelas construções... Sei lá.
No quarteirão de cima, logo na esquina tinha o quintarzão, primeira parte rolava o treino, parecia ser de futebol, mas, aquela grama alta fazia acontecer um futecross, inda mais quando dava uma coceirinha nas partes, os carrapatos faziam a sua parte, até que era bão, na hora do banho, a gente achava os danados e ploc neles, mais para o meio, umas laranjeiras faziam a festa, daquelas caipiras e de galhos secos, uma vez o Toy quebrou um galho e pedaços dele entraram na sua coxa, ai que dor e gritaria, só lembro do choro, também já deve ter sarado. No fundo, fazia divisa com o seu Arcádio, tinha uns pinheiros e cedrinhos, a turma brincava embaixo e começava a fazer umas pequenas artes...
No mesmo lado, depois da casa do seu Lazinho, tinha outro quintal, o do Toninho da Banca, lembro bem da amoreira que ficava perto do muro, tanto aqui, como no quintarzão, muro era uma coisa supérflua, a maior parte dos seus limites era de uma cerca caída e uns arames. Nunca segurou ninguém. Nesse quintal aqui, rolava também jogo de bola e guerra de amoras. Jogo bom, ótimo mesmo era na outra esquina, no quintal do Reynaldinho e do Tuca, um campinho preparado com trave e tudo, inclusive com árvore e poço d´água quase potável no canto de baixo, mas quem ligava. Todo mundo ligava pro pé de ameixa. Voltando ao quarteirão de cima, ainda tinha o quintal do Caxias, um antigo posto de gasolina, forte nos anos cinquenta, parada dos caminhoneiros, quanta história. Nas construções diversas moravam o seu Latoeiro, o Caricatinho e mais umas pessoas, sobrava o meião do terreno, com suas mamonas, cacos de vidros e bichos, misturado com a rua, surgia mais um campinho, nunca tive muita chance aí, eram os mais velhos que se matavam atrás da bola.
Prá fechar os da vizinhança, tinha o quintal da empresa, a mesma da eletricidade, mas, este fechado totalmente, pois era o da subestação e quando chovia era um Deus nos acuda, caía um raio e aquilo se transformava num fogo fátuo, nem sei direito o que é isso, mas era assim falado, geralmente acabava a luz depois, fora o barulhão. Minha mãe queria morrer de tanto medo. As brincadeiras se davam no lado de fora, na sombra dos muros, bolinha de gude, jogo de faca, conversa mole, ás vezes, uma queimada.
Do meu primeiro quintal próprio, mais lembro do tanque e do Gilson derrubando ele, sabe aqueles tanques de lavar roupas, só encostado na parede, em cima de dois murinhos, pois é, prontinho prá cair e caiu. O Toy saiu correndo e caiu com o guaraná na mão, cortou o queixo e cicatriz até hoje. Tinha um pé de limão, acho, umas tábuas e as galinhas. A D.Cida, minha mãe falava de umas costaneiras, dizia - traga umas, prá fazer o cercado das galinhas, até hoje tenho as costaneiras como umas coisas de outro mundo, parecem ser uns pedaços de madeira. Este quintal fazia divisa com o de cima aí, o da subestação, que medo nos dias de chuva. Meu pai comprou o cara-chato, vendeu a casa e fomos de aluguel na esquina oposta, terreno pequeno, não tinha árvores, uma hortinha atrás da casa, se não me engano, com um pé de mamão caipira. Aí, conheci a casinha das necessidades, dessa tenho lembranças, bem, mais ou menos, deixa prá lá.
Ficamos um tempo, depois só atravessamos a cerca e fomos morar na casa da minha avó, que se mudou. Meu pai alugou a casa deles. Maior, com quintal prá dar e vender, cabia o caminhão. Poço profundo e cheio de água, casinha lá no fundo, de novo, mas, era o que existia. Pés de pêssego, laranja de fazer doce, abacateiro, areticuzeiro, amoreira enorme, lima, enfim, que quintal, passei muito tempo descobrindo todos os seus recóncavos. Cada época, eu ficava trepado nas árvores, comendo os frutos, mais gostava dos areticuns, uma espécie de fruta do conde, das amoras, então, nem se fala. A gente comia do chão mesmo, os galhos caiam carregadinhos. As limas, eram doces e amargas ao final, ficavam prá depois. Plantei muito milho, comi muita pamonha. Cortei muita lenha pro fogão, resto de serraria, que meu pai trazia ou que minha mãe comprava do lenheiro. Vocês não se lembram, mas tinha o homem das lenhas, que vendia por metro e entregava em casa. Fogão à gás, chegou mais tarde. Fiz horta, com as costaneiras, fiz galinheiros e brinquei muito de carreteiro. Cabia o caminhão e quanto lavar e engraxar, já tinha chegado a água encanada e ninguém tinha preocupação se ela ia acabar ou não. O cara-chato vivia brilhando.
Terceiro colegial, só em Itapetininga, fui prá lá. Tinha o quintal da casa da minha vó, que explorei muito pouco, por já ser adolescente e trabalhar no Café Santo André. Compensei, indo e vindo pela linha da Sorocabana. Tinha seus mistérios e seus trens. Acabou-se o que era doce, vim para São Paulo, sem quintal, só as ruas, andei muito pelo centro, República e São João. De certa forma, fiz delas o quintal necessário. Namorei e casei, uma casinha com quintal, mas, dos donos da casa, só olhava. Comprei uma casa, quintal pequeno, fiz uma horta, depois reformei e fiz um cobertinho, uma rede e só. Nesse cobertinho me meti a passar uma mão de tinta, queimei a virilha com a cal, ói que perigo.
Olhando de novo o coqueiro e o tempo de chuva que não vai embora, a corrida já terminou, o australiano ganhou e nem deu a mão pro Serra, quando recebeu o troféu. Tem vinte e poucos anos que cuido e curto esse quintal, hoje reserva das três cachorrinhas que correm nele. Plantei e replantei um monte de mudas, umas cresceram, outras cortei, passei incontáveis horas de máquina, bebi muita cerveja e dormi embaixo da mangueira. Joguei muita bola com o Guilherme e o Flávio, fiz uma espécie de quadra, um cimentado. Tenho muito a dizer desse quintal. Até fui dar mais uma olhada nele, desci arrumar o galho da Flor de São Miguel e voltei fechar esta crónica, quatorze de março de dois mil e dez, dia de São Paulo Indy.
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