Perdi a vergonha
maria da graça almeida
Ai!
Entorto o pescoço,
repuxa-me o braço,
o ombro está duro,
o vigor aos pedaços.
Humm...
Tal como o Atlas
-castigo profundo-
carrego nas costas
o peso do mundo!
Nossa!
Um dorso curvado...
um furo no peito,
os olhos no fundo....
Da luz é o defeito!
Credo!
O rosto tão pálido,
num corpo esquálido...
não os reconheço...
E eu? Onde estou?
Vixe!
O tempo passou...
Quem é esta outra
a olhar-me do espelho,
sem pedir licença,
sem credo, sem crença
que me ocupou?
Epa!
Cansei de fingir,
sou eu essa aí!
Perdi a vergonha,
o orgulho, o brio,
tenho de admitir:
estou por um fio!
|