Metáforas
Luís Gonçalves
Depois de uma gigante sova política ainda estamos em pé. Melhor coisa a fazer é levantar e dar a volta por cima.
Nada como um dia após o outro. Podemos olhar para o céu cinza barroco e imaginar que num passado distante fora azul cor de anil. Mas naquela época não havia congresso.
De que adiantava um céu lindo como se fosse o fabuloso teto do paraíso se não existia nem uma legislação que afirmasse que aquele céu era legal? Era uma indelicadeza com o sistema.
Tá certo que era um céu lindo. Mas era um céu de ninguém. E todo céu precisa ter dono. Não pode existir um mundo de ninguém. Como poderemos abrigar os nossos donos do mundo?
Pensando bem o céu é enganador. Porque é o teto do mundo se acha no direito de abrigar as estrelas que bem queira. Isso é uma agressão. Hoje em dia as estrelas são superficiais.
Há certas nações que são definitivamente apagadas pela luz de uma estrela suspeita. Chega causar arrepio. Mas não vale a pena discutir o brilho de uma estrela e esquecer o resto.
Não podemos entrar nesse pessimismo contagioso e detonar a estrela de brilho fácil. Deve haver outras menos drásticas. Com certeza. Basta fazer uma busca no universo ignorando a polêmica.
Para não polemizar mais do que o setor politizado ensina podemos até nos ater com certa exclusividade somente ao que diz respeito ao céu. Que não deixa de ser um fajuto teto enganador.
O céu é suspeito. Porque acaba poluindo a nossa mente com certa utopia fajuta. Sem essa de viver se gabando que o céu é o limite. Porque isso leva a febre de adquirir cabeça-de-vento.
Todo cabeça-de-vento imagina que pode tudo e mais um pouquinho. Faz parte do delírio ideológico, sendo passivo de compreensão. Nada que um mal-estar conservador bem aplicado não possa resolver. Existe barreira contra essa medicação.
Muitos dizem que isso é fruto do poder e pode causar rombos irreversíveis. Mas eu duvido. O poder é algo mais meticuloso. Comete seus erros por evasão de divisas? Sim! Porém, tudo é feito dentro do sistema. Não vale a pena discutir esse assunto.
Somos aquilo que podemos ser. Mas se a turba enfurecida decidir que podemos ir além, nada nos impede de tentar invadir o céu de brigadeiro e lá perpetuar. Isso seria muito legal.
Os assuntos se convergem e as dúvidas se bifurcam. Mas tudo está no seu lugar. Vamos olhar para o horizonte e desejar que a mazela finda com o pôr-do-sol. O que passou, passou.
Nada disso importa. Águas passadas não movem moinho. Devemos aceitar as mudanças com naturalidade. Porque faz parte do anseio do povo. As verdades flertam com as mentiras apenas temporariamente. Com tempo a realidade escoa pelo ralo.
A voz do povo é a voz de Deus. E se o povo decidiu que o céu fica melhor com um buraco de ozônio no meio, quem vai querer discutir? O melhor a fazer é se adequar à nova realidade.
Tem o lado positivo. Haverá um crescimento significativo nas vendas de protetor solar. A indústria farmacêutica com certeza será beneficiada. Isso acaba gerando mais emprego.
As oportunidades acontecem. Devemos pensar positivo e cuidar das bagagens. Nunca saberemos até onde a ideologia do pensamento vai nos levar. Pelo menos não levaremos gato por lebre.
O que é acertado não é caro. Pode até acontecer de a gente querer chiar na hora do vamos ver. Mas isso é despeito. Todo mundo sabia que a coisa não seria um mar de rosas.
O sonho de um às vezes pode se transformar em pesadelo para outros. Há certos pesadelos que são contagiosos. Começa numa ponta e termina em outra. Defeito cascata.
A ética humana é sinistra. Até parece um céu sem estrela. Quase uma metáfora bem relacionada com o poder. Não por opção. Talvez por filiação partidária.
Cada candidato é um poço de idoneidade. E essa busca vai muito além da imunidade parlamentar. Porque ninguém é escoteiro o bastante para identificar a estrela certa.
A democracia é moldada à base de palavras. E quem fala o que quer escuta o que não quer. A própria ação democrática gera essa contenda. Isso deixa o menos esclarecido sem palavras.
Por isso que quem fala muito dá bom dia a cavalo. Modo de dizer por que na verdade cavalo é um bicho esperto pra caramba. Não me admiro se alguém deparar com um cavalo admirando o céu numa boa e curtindo as estrelas de verdade.
Como é bom ver as coisas com otimismo? Não podemos ficar olhando pra cima o tempo todo e admirando as estrelas cadentes. Devemos saber que tudo que sobe desce e isso é o bastante.
Depois que o anjo escapa do trono do céu, o negócio é sacudir a poeira e dar a volta por cima. Enquanto isso o melhor a fazer é agarrar a foice e sair roçando a beira do arame.
Podando as últimas galhas da saudosa primavera de flores. Afinal de contas quem tem de ser não é de padecer. É só não abusar. O povo hoje em dia anda desconfiado que só.
Saudade daquele tempo, que se podia deitar e rolar. Culpado de tudo isso é a TV. Fica envenenando o povo dia e noite.
A TV ainda vai tirar a mordomia de muita gente boa. Bem, que tentamos tosar a crina dela. Mas o pessoal do deixa disso facilitou. Taí!, deu no que deu.
