Quando o Professor de Cabeça Quadrada (PCQ) resolveu usar o púlpito, ressaltou a necessidade das minuciosas técnicas serem seguidas com rigor extremo. Falou que os rostos humanos, assim como as nuvens, são esféricos, as montanhas são cones e os relâmpagos viajam numa perfeita linha reta. Também falou que a Meteorologia logo poderá fazer previsões do tempo para culturas agrícolas com um ano de antecedência e que o comportamento dos animais pode ser classificado numa tabela perfeita conforme suas manchas do corpo, só identificadas por ele mesmo. Falou que o reducionismo de Descartes é a bíblia dos laboratórios e eventos únicos não existem porque não dá para se aplicar estatística. Complementou dizendo que aqueles dentre os alunos que cumprissem os mandamentos da CCCC estariam em condições de receber ótimas bolsas de estudo, articuladas sorrateiramente mesmo que através de outras instituições de pesquisa, mas somente os que não carregavam reprovas ou recuperações no histórico escolar, já que isso é definido como boa ciência. Ah, é bom salientar que, sem ele saber, CCCC responde por “Cartilha dos Cartesianos Corruptos Camuflados”.
Para o referido PCQ, seus alunos universitários dependem exclusiva e diretamente da Ciência Clássica, base de sustentação da CCCC, o que faz com que, em sua mente quadrada e medieval, a Física do Ensino Médio e Fundamental necessite ser repetida insistente e literalmente nos bancos da universidade. O fractal de condicionamento formado nessa retroalimentação negativa relativo à aprendizagem arcaica fecha o ciclo e ilustra os processos entrópicos inexoravelmente degenerativos. Por que sair dessa mórbida marcha altamente conveniente, o questionamento inócuo da mente retrógrada do PCQ pergunta. Para seu deleite, entretanto, consegue o apoio fanático e obstinado da corja articulada de seus coevos, alguns do alto escalão, que se achegaram pela Ressonância Mórfica que, segundo Sheldrake, não faz distinção entre anjos e fedelhos. Para estes últimos, tanto a Inquisição como a Geometria Euclidiana ainda reinam sublimes e soberanos, enquanto que as publicações indexadas de grandes índices de impacto são os deuses almejados, dignos de incenso e reverência máxima, não importando os meios amorais detectados pela nova ética da complexidade. E, assim, viva os jovens pesquisadores que se auto proclamam de "jovens produtivos"! Ética Complexa, o que é isso? Nada a ver com as minhas produtividades fartamente recompensadas por órgãos cartesianos de fomento. Mamar neles, só para os fortes competidores do mercado científico, ora! E com o passar do tempo, o PCQ ganha status de assessor dos órgãos A, B e C, ou de periódicos cientificistas, com direito a viagens nababescas para insossos congressos nacionais e internacionais. E ainda com Bolsa de Pesquisa aprovada com nojentos lobbies de bastidores. Geometria Fractal, Caos, Complexidade, Quântica? Acupuntura, Homeopatia e Radiestesia? Que baboseiras são essas??? Coisas de grupos charlatães que não publicam em revistas oficiais, certamente! São esotéricos e não científicos, vociferam aos ouvidos de alunos e alunas que se permitem passar por experiências de nauseantes intimidades degradantes e vergonhosas. “Nada é quadrado ou esférico na natureza”, grita repentinamente um dos poucos alunos lúcidos, esclarecido o suficiente para não aceitar a imposição da CCCC. E como nos antigos filmes de Rin-Tim-Tim, o PCQ responde aos doutrinados e já castrados orientados com “Peguem-no!!!”. Claro que, sutilmente, através de provas, ausências articuladas e/ou promessas vãs, aquelas que maldosamente subornam, vírgulas do ofício que o aluno esclarecido ainda não aprendeu a lidar ou deles se proteger. Vem a lembrança viva de “Sociedade dos Poetas Mortos”, um filme tão antigo quanto atual no meio acadêmico... Enquanto essa galhofa se perpetua no chamado centro do pensar crítico da sociedade, os PCQs continuam rosnando do alto de sua impotência de mudança, para dizer o mínimo de sua incapacidade de se realizar, fortes indícios de um farisaísmo de causar inveja a Herodes e, quem sabe, a Nero. Seu atrator de vida faz lembrar o Mestre: “Melhor seria se lhe prendessem uma pedra de moinho ao pescoço e o atirassem ao mar”.
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