Usina de Letras
Usina de Letras
83 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62240 )

Cartas ( 21334)

Contos (13265)

Cordel (10450)

Cronicas (22537)

Discursos (3239)

Ensaios - (10368)

Erótico (13570)

Frases (50639)

Humor (20031)

Infantil (5436)

Infanto Juvenil (4769)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140810)

Redação (3307)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6194)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->GENTE DA TERRA -- 04/08/2001 - 22:08 (Luiz Carlos Amorim) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Frederico não teve sorte: justo na época da colheita, começara a chover. E a chuva estendeu-se por dias a fio, atrasando a colheita e prejudicando a safra de arroz daquele ano.
Começava a ficar preocupado. O preço que lhe pagavam pelo arroz não era dos melhores e agora, sem saber o que ia restar da safra, temia vir a ter dificuldades em pagar o empréstimo que fizera no banco, para financiar o custeio da plantação, como vinha fazendo há vários anos.
Pequeno produtor, tinha alguns hectares de terra que herdara do pai, mas precisava do empréstimo para poder continuar plantando, pois além das despesas com o cultivo da terra, havia a manutenção da família e nunca sobrava nada. Sempre conseguira pagar pontualmente o banco, mas neste ano talvez não viesse a reunir o dinheiro necessário.
- Esta chuva tem que parar, velha, senão não vamos colher nada este ano – dissera para dona Rute, olhando triste da porta da casa para as arrozeiras transbordando água, quando nessa época do ano deveriam estar quase secas para a colheita.
- É – respondeu ela – e o arroz estava tão bonito...
Já não eram mais jovens. No entanto, os dois velhos, com a ajuda do filho mais novo que ainda estava em casa, Alfredo, davam conta do trabalho. Afinal, a terra era a vida deles.
A chuva passou, mas a quebra naquela safra foi considerável e o preço que Frederico conseguiu pelo que pôde ser aproveitado não era nada animador, pois o produto não tinha boa qualidade. Foi ao banco comunicar a frustração e conseqüente impossibilidade de liquidar o compromisso prestes a vencer.
- E foi o que aconteceu, moço – explicou Frederico ao encarregado da carteira agrícola, no banco – Não tenho todo o dinheiro para pagar o empréstimo.
- E quanto o senhor tem? Quanto conseguiu com a venda do arroz que restou?
- Tenho menos da metade do valor da dívida.
- E com os juros, a diferença fica ainda maior – lembrou-lhe o funcionário.
- Como vamos fazer para acertar esta conta? – perguntou Frederico, nervoso, apertando com força as abas do chapéu.
- Bem, nós podemos fazer o seguinte: o senhor, como nos outros anos, pagaria este empréstimo que está vencendo e proporia outro, para o custeio da próxima safra. Então, nós lhe emprestamos, desta vez, um valor superior ao que o senhor precisa para plantar. E com a diferença, o senhor liquida o que está devendo. O que acha?
- Está muito bom.
Um sorriso de alívio apareceu no rosto de Frederico. E ele fez a proposta: estava tudo arranjado. O valor do novo empréstimo era bem superior ao que ele faria em outras circunstâncias, mas o importante era que a situação fora contornada.
Foi para casa e deu a boa nova.
- Agora é trabalhar, velha, para termos uma boa colheita no próximo ano e podermos pagar o banco. Se tudo correr bem, a gente nem pega mais empréstimo...
- Vai ser difícil deixar de depender do banco. Se antes a gente já precisava dele, agora é que não podemos deixar de recorrer a ele – dona Rute ponderou, muito preocupada, quando Frederico lhe dissera quanto teriam que pagar no ano seguinte.
- Só temos que trabalhar duro, velha.
E trabalharam. Frederico, dona Rute e Alfredo trabalharam com vontade, plantando em toda área possível de ser transformada em arrozeiras, em suas terras.
O arroz crescia viçoso e Frederico assistia, feliz, ao aparecer das espigas dentre aquele tapete verde que ele tecera. Sua vida estava ali: a terra, o verde, a simplicidade do campo, o amor pela natureza.
- Não preciso de aposentadoria – dizia ele – vou trabalhar até morrer.
Mas dona Rute fora acometida de uma doença repentina e Frederico teve que levá-la para o hospital, na cidade. Ela foi internada, exames foram feitos e descobriu-se que ele precisava ser operada de imediato. Depois da operação, fez-se necessário um tratamento rigoroso e intensivo, o que fez com que tivessem que gastar muito dinheiro. Não podiam depender exclusivamente da previdência, senão dona Rute morreria.
A época de pagar o banco chegou e novamente Frederico não tinha o dinheiro suficiente, apesar de ter tido uma safra excepcional. Gastara quase tudo com a doença da esposa.
E lá foi ele ao banco ver se havia alguma solução também daquela vez.
- É, “seu” Frederico, este ano a coisa está difícil. O montante da sua dívida é bastante grande, pois além de termos lhe emprestado um valor acima da sua capacidade de pagamento, os juros também aumentaram. E não podemos cobrir esta dívida com outro empréstimo ainda maior, pois estamos com o limite de aplicação esgotado, atualmente. O senhor terá de liquidar o que deve.
- Vou dar um jeito – e saiu, cabisbaixo.
Não teve coragem de dizer à mulher o que tinha em mente. Apenas comunicou-lhe, depois de tudo consumado:
- Vamos embora, velha, para a cidade. Acabei de vender a terra para pagar o banco...



Http://planeta.terra.com.br/arte/prosapoesiaecia
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui