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Contos-->O PROFETA -- 09/08/2021 - 22:26 (Roosevelt Vieira Leite) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

O PROFETA

POR ROOSEVELT VIEIRA LEITE

 

Estamos aqui apenas por um momento. Um instante chamado existência. Um sopro chamado vida. Por esta razão precisamos também parar um pouco e pensar no além, no além túmulo, na vida depois dessa vida. Em Campos, viveu um homem que era profeta. O que ele disse aconteceu de verdade. Suas predições eram tiro e queda. Porfírio habitou Campos entre os anos sessenta e oitenta até meados de noventa. Porfírio morreu cedo, mas sua curta vida foi muito importante para Campos. Desde cedo, o menino Porfírio via coisas. Conta ele, quando o mesmo está de prosa, que viu um copo voar da cozinha para sala sem ajuda de mãos. O menino Porfírio era muito sensível assim se tornou o homem Porfírio.

Porfírio viu o espírito do tio, da tia, do pai, da mãe, e outros que ele nunca contou. Mas o homem era forte mesmo era nas predições. Certa feita ele disse a Ronaldo barbeiro que parasse de fumar, o homem não deu ouvido, morreu em menos de um mês. O tempo faz o homem ou desfaz o filho de Adão. No caso de Porfírio o tempo acertou, em muito pouco tempo o rapaz porfírio virou o vidente de Campos. “Porfírio, será que meu casamento vai dar certo?” Porfírio lia a mão e jogava cartas. Se ele visse o caixão de defunto nas cartas era morte certa. “Olha o caixão, aqui. Quem está doente em sua casa?” Porfírio acertava todas, e aí, a admiração virou medo por parte de algumas pessoas. “Eu, nem presto atenção ao que ele diz”.

Mas nada se compara ao que aconteceu com o radialista. Nas caladas Porfírio foi a sua casa. O homem fez uma numerologia e descobriu que quatro pessoas queriam matar o radialista. “O amigo está jurado de morte por quatro pessoas, cuidado”. Porfírio foi ao Ceará e quando voltou o radialista estava enterrado. O vento levou aos quatro cantos de Campos que o vidente avisara ao radialista. Então, as pessoas se interessaram pelo médium e usaram seus poderes para conseguir vantagens. “Será que se eu pôr meu comercio na Padre Lemos vai dar certo?”

Porfírio pôs seu consultório na rua Itabaianinha. Ele atendia de segunda a sexta das oitos às cinco da tarde. No seu consultório ele jogava búzios, colocava as cartas e fazia numerologia e quiromancia. As pessoas gostavam de Porfírio. Até o prefeito esteve em seu consultório para saber o futuro político de Campos: “Rapaz, desta vez estou lascado. O outro lado está muito melhor nas pesquisas”. “Se preocupe não. No meio do pleito o cenário vai mudar”.

Porfírio predisse muita coisa. Ele predisse a vitória de Freitas para prefeito, ele predisse que a barragem ia secar e secou, ele predisse que o amigo dele, Rodrigo das baterias ia ser radialista, ele predisse que dona Zana ia ter uma filha mulher: “Tem nascido muita mulher em Campos, o seu bebê vai ser mulher também”. As predições de Porfírio também eram gerais. Ele disse que a feira da coruja ia se acabar. E hoje a feira da coruja é só um faz de conta, não é mais como nos anos oitenta.

Mas o que mais chamou a atenção de Campos para o profeta foi o acidente de caminhão. Havia um rapaz que era dono de uma Mercedes vermelha. Ele a comprou de segunda mão e depois mandou reformar. Ele era muito amigo de Porfírio. Certa noite na véspera de viajar com um grupo de pessoas para Aracaju. Ele ia levar o pessoal a praia de Atalaia. Ele foi à casa de Porfírio para um dedo de prosa: “Graças a Deus eu reformei meu carrinho. Agora posso fazer frete e levar pessoas”. Naquela época as pessoas iam de caminhão para a praia em Aracaju. “É, mas, amanhã, não vá não que eu tive um sonho muito ruim com você esta noite”. Disse o vidente com ar de preocupação. Porfírio avisou o homem diversas vezes para não ir à praia o outro dia. Mas o rapaz não lhe deu ouvidos e foi para a morte. Na volta o caminhão se chocou com um outro cheio de brita. Morreram 11 pessoas. O vidente, na noite anterior se viu no necrotério de Aracaju andando entre corpos dilacerados. E sobre uma pedra estava o corpo do motorista deitado com um calção laranja. Porfírio teve esta vidência muito clara. Na noite do enterro do rapaz, Campos parou. O carro de som anunciava a tragédia e as pessoas ficavam pelas ruas a comentar a desgraça: “Meu Deus é o fim do mundo”. “Já vivi muito, mas, nunca vi coisa como essa não”. “Ave Maria meu Deus foi uma bagaceira”. Campos precisou de um tempo para voltar a vida normal.

Porfírio foi ao enterro do amigo. O choro era grande. As pessoas na casa do moço lotavam a sala para ver o caixão mas o mesmo estava lacrado. Na verdade, não tinha rosto para se ver. As pessoas olhavam para Porfírio como se na esperança dele dizer alguma coisa. Outras fugiam dos olhos do vidente. Porfírio era, no meio do povo, uma pessoa um tanto sinistra. “Meus sentimentos”. Dizia Porfírio a família enlutada. Os caixões saíram de Tobias e da Lagoa Redonda. Ao todo foram onze caixões que circularam na Avenida Sete de Junho. Foi a noite em que Campos enterrou mais gente ao mesmo tempo.

A vida de Porfírio em Campos foi assim, cheia de imagens e de adivinhações. O homem ajudava aos outros e ganhava um trocado para sobreviver. Certo dia ele foi ao centro resolver umas coisas. Porfírio tinha uma bicicleta vermelha. Ele a usava para resolver suas coisas na cidade. Ele estacionou sua bicicleta defronte ao mercadinho G Barbosa e entrou no estabelecimento para fazer umas compras. Ao sair Porfírio pôs as coisas na traseira de seu transporte e montou nela para sair. Porfírio não viu o caminhão atrás e foi atropelado na avenida. A morte do vidente não atraiu muita gente.  Foram poucas pessoas para seu velório...

 

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