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Contos-->O AMOR DE GONÇALVES -- 05/08/2021 - 10:35 (Roosevelt Vieira Leite) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

O AMOR DE GONÇALVES

POR ROOSEVELT VIEIRA LEITE

 

Gonçalves ficou viúvo aos cinquenta e quatro anos. Sua esposa o deixou com os filhos. Os dois filhos foram morar em Aracaju quando cresceram. Aos finais de semana a família se reunia para conversar. Gonçalves entendia que a luta pela vida era um direito de todos e que seus filhos Felipe e Estela eram dois verdadeiros guerreiros. Os finais de semana eram sagrados na velha casa da rua Eustáquio de Sá, número trinta. Um dia Felipe convenceu o pai de alugar um lugar novo sem as lembranças da velha casa. O velho balançou a cabeça para cima e para baixo e concordou com o filho em se mudar para outro canto.

A casa nova tinha uma pequena área na entrada, uma saleta e a sala de estar. Tinha também cozinha e uma área coberta no quintal. Uma típica casa de Campos com apenas um quarto. Nos finais de semana a família se reunia para comer carne e beber cerveja aos sábados. O costume continuou até Deus levar Gonçalves. Aquela era de verdade uma família feliz. Seu Gonçalves por isso era um homem que vivia com o sorriso nos dentes. Seus costumes eram fáceis de se explicar: De manhã acordava bem cedo. Andava de bicicleta até às sete, tomava banho e café e ia trabalhar na Companhia de Água. De tarde ficava em casa. As vezes jogava xadrez com seu Martinho, outras vezes dava um cochilo, ou ia fazer qualquer coisa em casa. A nova casa se encaixou em cheio com a nova vida de Gonçalves. À noite Gonçalves assistia televisão. E quando era final de semana os filhos e os netos e as noras e genros enchiam a casa de alegria.

Mas em Campos, o amor também brota do nada. Uma coisa simples. As vezes um sorriso. E, aí, o amor flui como água da pedra. Isso aconteceu com Gonçalves. Foi numa quarta-feira que ela apareceu. Por volta das três e meia da tarde. Gonçalves estava na preguiçosa quando a campainha toca avisando ter chegado alguém. Gonçalves passa a mão na cadeira ao lado e pega os óculos e segue até o portão: “Boa tarde Senhora”. “Senhora não, senhorita”. Disse a moça sorrindo. Ela é vendedora de Avon. Estava de passagem para vender uns produtos. Gonçalves a convidou para dentro. Ela apresentou os produtos, e conversaram, e o tempo foi passando, e os dois se envolveram na conversa que já estava escurecendo quando a moça foi embora: “Fique com a revista, na quarta eu pego”. Gonçalves amava sua esposa. A partida dela o deixou muito triste deprimido. Os filhos o ajudaram com as vindas nos finais de semana. Aí, Gonçalves se animou de novo. A nova casa foi um marco decisivo na vitória contra a depressão. Sua esposa morreu na antiga casa por isso a casa tinha lembranças muito tristes.

Gonçalves com o advento da moça se animou ainda mais. “Mas quem é essa moça?” Esse era o pensamento do homem que não parava de pensar na nova visitante. Uma mulher de quarenta anos, mas, com toda a juventude dos trinta. Branca, estatura média, cabelos e olhos claros. Uma beleza de mulher. “Calma Gonçalves”. Dizia ele consigo mesmo. Agora era esperar quarta feira e fazer mais perguntas.

Na quarta-feira, a moça demorou a chegar. Deu três e meia e nada. Gonçalves estava nervoso numa perna e noutra, daqui pra ali. Os olhos de olho no relógio da sala. Quatro horas e nada da moça. “Será que ela vem?” Pensou ele, mas, as palmas na frente de casa diziam o contrário. Desta vez em vez de calças a moça veio de vestido. Uma peça azul linda que lhe cobria o corpo. Gonçalves comprou três frascos de perfume, e loção após barba. A conversa rendeu desta vez e nela muitas perguntas foram feitas:

- Você esteve aqui outro dia e nem perguntei seu nome. Como é seu nome mesmo?

- Meu nome é Clarice. Consultora da Avon, trabalho em Campos e moro em Campos.

- Onde é que você mora?

- Na rua do Amparo, bem pertinho do cemitério. Chegou ali perguntou por mim todo mundo me conhece. As perguntas foram muitas por parte de Gonçalves, mas, a moça não demonstrava muito interesse em fazer perguntas não. Ela gostava era de sorrir com Gonçalves e brincarem juntos. E assim se foram os dias. Primeiro foram as quartas, depois, as quintas e depois qualquer dia exceto o final de semana que segundo Clarice ela gostava de passar com os pais.

- Clarice, Felipe e Estela querem te conhecer. Por que você não vem um final de semana aqui. Não precisa passar o dia é só um instante.

- Está bem, amor. Clarice prometeu mas não cumpriu sua palavra. No final de semana desapareceu. Naquela época não tinha celular. Ou era o fixo, ou o orelhão. No caso de Gonçalves era o fixo. Mas o número dado por Clarice não atendia. Gonçalves, então resolve ir à casa de Clarice na rua do Amparo. Ele perguntou por ela a vizinhança e ninguém conhecia quem era ela, mesmo, dando detalhes da aparência. “Será que ela mentiu para mim?” Questionou Gonçalves aos seus botões. Gonçalves deixou para lá o incidente e foi viver seus dias com Clarice sem preocupações. Ela passou quase a morar com ele. Somente os finais de semana ela ia para casa. Gonçalves teve os melhores momentos de sua vida desde a morte de sua esposa. Agora o homem realmente tirou o luto.

Clarice era uma mulher liberal, humana. Ela conversava sobre qualquer coisa. Tinha uma cultura livresca muito grande. Isso fascinou Gonçalves que agora tinha uma companheira para passar as tardes. Os anos passaram e o casal ia de vento em popa. A rotina era a mesma de sempre. Mas, algumas vezes Gonçalves se deparou com coisas muito estranhas. Clarice, simplesmente some dentro de casa. E a casa não é grande. Gonçalves não sabia como ela se escondia tão bem para ele não poder acha-la: “Como é que faz querida para se esconder?” “Ah, eu não vou contar não. Assim, perde a graça”. Certo dia ela estava tomando banho e Gonçalves foi gretar pela fechadura. Ele viu só o chuveiro ligado e ninguém no banheiro. Ele pensou que ela se escondeu.

Sete anos se passaram. O casal gosava de toda felicidade que alguém pode ter. Eles viam que respeitando as regras tudo correria bem. Eles não tinham quase vida social. Era seu Martinho para o xadrez, ou dona Gorete para um dedo de prosa na porta e algumas saídas para a padaria. Clarice ficava a maior parte do tempo indoors: “O sol estraga minha pele”. Dizia ela a maior parte do tempo. Gonçalves se aposentou da Companhia de Água. Agora ele ficava em casa os dois horários. Foi aí que uma coisa muito estranha aconteceu. Um dia pela manhã Gonçalves procurou por Clarice nos cômodos da casa e não a achou. Gonçalves mexeu na bolsa da moça e para sua surpresa ela não tinha identidade, nem CPF, nem foto nada. O que havia na sua bolsa era um número com duas inscrições: Quadra H. Túmulo 26. Por dias o casal discutiu sobre isso. Clarice dizia que havia comprado por garantia ninguém sabe. O tempo foi passando e mais coisas foram acontecendo. Um dia ele a gretou trocando de roupa. O corpo dela só aparecia a parte de cima a de baixo havia sumido. Gonçalves pensou que foi ilusão de ótica. Outro dia aconteceu o que jamais havia acontecido. Gonçalves acordou no meio da noite e Clarice não estava na cama. Ele se levantou e ficou na saleta. Na sala de estar estava Clarice mais três pessoas, um homem idoso e uma senhora idosa. Os dois só apareciam da cintura para cima. Gonçalves ouviu a conversa mas nada entendeu. Podiam até estar falando sobre ele.

Gonçalves se tornou um homem desconfiado e o jeito foi chamar Clarice para uma conversa séria:

- Quem eram aquelas pessoas e como elas entraram aqui àquela hora da noite?

- Meus pais falecidos. Eles eram espíritos.

- O que é que eles queriam?

- Falar sobre nós dois. Meus pais não concordam com nossa relação.

- Como assim? Você nunca me falou sobre isso e eu pensei que estavam mortos.

- Não existe morte Gonçalves. Eles estavam aqui conversando comigo.

- E por que eles não concordam?

-Eh, esse é o problema.

- Que problema?

- Você está vivo e eu estou morta a vinte anos. Eu também sou um espírito. Eu moro aqui nesta casa. Você veio pra cá. Eu passeia a ver você todos os dias, e aí um dia resolvi me revelar a você. Eu amo você. Gonçalves não sabia o que dizer e havia muita coisa para ser explicada. “Clarice podia ser vista e tocada”. Pensou Gonçalves. Logo ela num pode ser um espírito. Clarice desapareceu na frente dele e fez outras coisas para que ele mudasse de ideia. A verdade era que seu amor era um espírito.

Clarice desapareceu uns dias. Esses foram os piores dias de Gonçalves. O homem ficou entediado, irritado, rabugento. Toda hora ia na porta para ver se a moça chegava e nada. Olhava para o relógio e nada. Os dias foram se acumulando e Gonçalves com mais saudades de sua amada. Gonçalves decidiu beber. Foi para o bar de Heitor na Avenida Sete. Bebeu até encher a pança e voltou tombando para sua casa. No meio do caminho na praça do Cruzeiro estava um velho sentado. O velho fumava um cachimbo com alfazema e mescla. O velho viu Gonçalves e disse: “Meu filho o amor transpõe os limites”.

Depois disso Gonçalves se aquietou e foi viver sua vida com Clarice. A união dos dois chamava a atenção das pessoas de Campos. Os dois viveram juntos até depois da morte...

 

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