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Textos_Religiosos-->ESSE PADRE NÃO SEGUE O PADRÃO -- 16/04/2008 - 20:16 (Benedito Generoso da Costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ESSE PADRE NÃO SEGUE O PADRÃO


Elas lá estavam bem juntinhas à chegada do Papa Bento XVI ao aeroporto. As duas bandeiras. A dos Estados Unidos da América (EUA) e a do Estado do Vaticano. As duas como uma só. O presidente Bush e a sua mulher, mais uma filha de ambos, também lá estavam a receber o chefe da maior Igreja do Mundo. Como uma só família. Tudo muito edílico. Harmonioso. Mas tudo encenação. Tudo hipocrisia. Tudo cerimonial de Estado. Tudo postiço. Depois disto, o que quer que o Papa diga e faça nesta sua visita de seis dias aos EUA está viciado à partida. As imagens da encenação à chegada correram mundo. E, na força do seu simbolismo, dizem que as duas potências são como uma só. Não creio que tenha sido descuido, por parte da diplomacia da Cúria Romana. Ela não se descuida. Nunca dá ponto sem nó. Se as coisas foram encenadas assim, foi porque lhe convinha que assim fosse. Os discursos que vierem a seguir e os contactos que se vierem a realizar nesta visita estão, por isso, esvaziados de qualquer força e de qualquer significado, por estas imagens da chegada do Papa. É bom que o Mundo do Poder e do Grande Dinheiro saiba disso e não se preocupe com esta aproximação das duas potências. Não é esse Mundo que está em perigo. Em perigo estão os povos, suas vítimas. É a eles que esta aproximação afecta. E muito. O nosso é o tempo das imagens e estas dizem mais do que mil discursos. O presidente Bush, o louco e o assassino/genocida que desencadeou a hedionda Guerra no Iraque, apresentou-se à chegada do Papa como um homem de paz, cordial, um marido e um pai exemplares. Quem será capaz de lhe dizer, olhos nos olhos, o que profeta Samuel disse ao rei David, o da Bíblia, depois que ele mandou matar Urias, para se apoderar da mulher dele, Tu és esse homem! Tu és o assassino de Urias!? No caso do Presidente Bush, Tu és o genocida, Tu és o que continua a matar, roubar e destruir o Iraque? Que Papa se atreveria a tanto, depois de toda esta encenação à sua chegada? O Estado do Vaticano, presidido na altura do início da Guerra, por João Paulo II, condenou abertamente a invasão, mas foi mais uma condenação para mundo ouvir, sem quaisquer consequências. Ficou bem ao Papa João Paulo II e à Igreja católica, mas nada mais do que isso. Houve quem não quisesse perceber que se tratava duma mera jogada diplomática. E até chegasse a pensar que as relações entre as duas grandes potências estavam em perigo. Puro engano. Tudo foi encenação. Porque a Guerra avançou e o Papa calou-se. O mais que fez depois foi passar a rezar pelas vítimas!!! Nunca foi capaz de um gesto concreto que travasse a Guerra. De certo modo, abençoou-a com a continuação do seu silêncio. Poderia, por exemplo, ter transferido a sua residência para a capital do Iraque, ou para uma das aldeias da periferia da capital, expor-se voluntária e desafiadoramente ao risco de ser bombardeado juntamente com as populações indefesas; poderia ter iniciado um jejum ou mesmo uma greve de fome; poderia ter chamado toda a Igreja a acompanhá-lo nesse jejum ou nessa greve de fome, até que a Guerra fosse suspensa e se regressasse à via negocial, mas nada disto aconteceu. E poderia, agora na pessoa de Bento XVI, depois de todos estes anos de Guerra - porque a Guerra do Iraque continua, embora cada vez mais se fale menos dela! - anunciar o seu desejo de visitar os EUA, mas condicionar a concretização da visita à suspensão da Guerra. Mas nada disto se fez nem faz. Porque o que é bom para os EUA é bom para as outras potências que vivem na sua órbita e na órbita das quais os EUA vivem. Se a Guerra contribui para enfraquecer e dizimar os muçulmanos, pode, indirectamente, dar mais força aos católicos. E estes poderão ver crescer o seu número e a sua influência no Mundo. Se dúvidas houvesse de que, apesar daquela momentânea discordância entre o Papa de Roma e o Presidente dos EUA, o entendimento e a união entre ambas as potências continua(va)m perfeitos, esta visita de seis dias, iniciada com todo este protocolo tão em família e tão cheio de mesuras e de salamaleques, aí está a desfazê-las. Digo-o com dor. Mas alguém consegue conceber sequer a hipótese de que pudesse ser de outro jeito? Não disse Jesus, o de Nazaré, o grande ausente nesta viagem do Papa, que um reino dividido contra si mesmo vai à ruína? Poderiam estas duas grandes potências ocidentais dividir-se entre si e destruir-se reciprocamente? É isto sequer imaginável? Mas se Jesus que assim pensa e argumenta, tão nos antípodas do Papa Bento XVI e do Presidente Bush, fosse incluído nesta viagem, alguma vez ela poderia ter tido lugar? E, se tivesse, poderia ser iniciada com uma recepção como esta? Mas alguma vez Jesus, o de Nazaré, poderia ser convidado para integrar a comitiva do Papa-chefe-de-Estado-do-Vaticano em visitas de Estado como esta? E se fosse e aceitasse ir, não seria de imediato preso pela CIA, à sua chegada, julgado sumariamente, condenado à morte e executado? Quantos norte-americanos, condenados à morte pelos respectivos Tribunais, é que o Presidente Bush já não fez executar na cadeira eléctrica ou com a injecção letal, durante os seus dois mandatos? Não teria Jesus a mesma sorte, se hoje vivesse nos EUA e protagonizasse práticas políticas maiêuticas subversivas e conspirativas como as que realizou, vai para dois mil anos, no seu pequeno país? Matar, roubar e destruir não é a grande especialidade do Império, de qualquer Império, mesmo que já esteja em decadência como este de Bush? O Império não diz sempre: Quem não é por mim, já é contra mim? E aos que estão contra ele, o Império não os mata? O Papa, uma vez em solo norte-americano, confessa-se envergonhado com os crimes de pedofilia de milhares de padres católicos e até de alguns bispos. Fica-lhe bem, mas até essa sua postura é protocolar e hipócrita. Porque não tem a audácia, muito menos a lucidez de dizer que se sente envergonhado com a Lei eclesiástica do celibato obrigatório para os padres e para os bispos. As suas são por isso lágrimas de crocodilo. Não vai às causas do Mal. E ainda cai em cima das vítimas duma Lei anti-natural e inumana que, depois, acabaram a fazer outras vítimas suas também. Por outro lado, o Papa não disse, nem dirá certamente durante toda a visita, que se sente envergonhado com a hedionda Guerra do Iraque. Semelhante dualidade de comportamento parece dizer que a pedofilia praticada por uma grande parte do clero norte-americano é o supremo mal, quando, neste caso, o supremo mal é a própria Lei eclesiástica do celibato obrigatório que está na origem de tudo. E, porque o Papa não é capaz de dizer pelo menos o mesmo em relação à Guerra do Iraque, é como se esta deixasse de ser hediondo crime e passasse a ser uma Cruzada cristã católica contra os "infiéis muçulmanos". Ora, uma Cruzada não é de condenar, nem de se envergonhar dela. É de abençoar, pelo menos, tacitamente e de se orgulhar dela, pelo menos, discretamente. Nem os 81 anos que o Papa Bento XVI hoje completa e celebra lhe dão a sabedoria e o desassombro de se tornar um homem jesuânico. Ele vive tão ofuscado pelo obscurantista brilho do Poder e da idolatria de que é constantemente alvo - até o Presidente Bush está rendido a seus pés, ainda que seja só para Cristandade Ocidental ver! - que fica cego, e dos piores cegos, porque pensa que vê, que é até o que mais vê. Mas é o mais cego. Está, por isso, a levar a Igreja para o barranco. E, com ela, o Mundo, que ainda lhe continua a dar excessiva atenção, pelo menos, na pessoa do papa, enquanto chefe de Estado do Vaticano e da Cúria Romana. Ei-los, o Papa Bento XVI e o Presidente Bush, estes dias, os dois como um só. Os povos empobrecidos e oprimidos do mundo que se cuidem, quando os chefes das duas maiores potências ocidentais comem juntos, rezam juntos ao seu Deus-Ídolo, discursam juntos, mentem juntos, representam juntos. Já foi assim no tempo de João, o Baptista e de Jesus, o de Nazaré. Então, Herodes, pequeno rei com tudo de tirânico, atraiu a si Herodíades, mulher do seu irmão. Juntou Poder com Poder. E porque essa espúria e idolátrica aliança anunciava ainda mais opressão e mais desgraças para o povo já de si tão oprimido e deprimido, esgotado com tantos impostos e com tanta violência, João, o Baptista, que também era profeta - por isso, via, não era cego - não fez como hoje o Papa Bento XVI perante Bush. Foi pessoalmente ao palácio do rei dizer-lhe olhos nos olhos que não lhe era permitido levar por diante uma tal aliança. Herodes estremeceu perante este Homem desarmado e mandou metê-lo na cadeia. O Poder é assim, cruel e sádico, incapaz de conversão. Herodíades foi sabedora desta audácia de João e ficou ainda mais furiosa do que Herodes. A aliança interessava-lhe sobretudo a ela e aos cortesãos oficiais que estavam com ela e com Herodes. E, no dia dos anos de Herodes, João, o Baptista, ficou sem cabeça na cadeia, por exigência de Herodíades. As Igrejas todas têm-nos escondido que João, o Baptista, foi assassinado por razões de Estado. Não por razões moralistas, de um adultério de carácter sexual entre Herodes e a mulher do seu irmão. Nunca elas quiseram entender que o adultério de que se fala no Evangelho está por idolatria-culto-ao-Poder, por infidelidade ao Deus Vivo e ao Povo oprimido. O que afligiu e levou João a intervir, com risco da própria vida, foi constatar que Herodes estava a juntar Poder com Poder. E o Poder concentrado, seja económico-financeiro, seja político, traz inevitavelmente, mais miséria, mais opressão, mais desgraça para os povos. Não foi por Herodes juntar cama com cama que o profeta João se afligiu. Mas por juntar Poder com Poder. A denúncia desse adultério, dessa idolatria, custou-lhe a vida. Precisamente, no dia do aniversário de Herodes, e por exigência de Herodíades. Também esta aliança, este adultério, esta idolatria entre o Papa Bento XVI que faz hoje 81 anos de idade, e o Presidente Bush, por isso, entre o Estado do Vaticano e o Império norte-americano vai nesta mesma linha. O Poder das grandes potências concentra-se, entende-se, casa-se. E dessa sua aliança, só pode resultar mais opressão e mais tirania, mais moralismo, mais guerra, mais genocídio, mais cadáveres sobre a terra, mais destruição. Ou os povos acordam e viram costas aos poderosos, resistem-lhes activamente, ou estão-lhes cada vez mais no papo. Só uma Igreja outra, profética, jesuânica, será a parteira de povos assim. Mas quem está disponível para lhe dar corpo com o seu próprio corpo? Quem está disponível para ser Jesus, hoje e aqui?

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