Um amigo que bebe
Começou a beber ainda criança. Todos os dias na rotina da vida, com qualquer amigo, Ã noite, bebia.
Eram dois mundos. De dia trabalhava, sentindo todas as emoções, boas ou más, com desempenho razoável. À noite, bebia.
Era o outro mundo, com orgias, irresponsabilidades, fantasias, sonhos, prazeres, tudo o que pudesse conseguir embriagado.
Assim foi, por muito tempo.
Passou a perceber que a monotonia do dia já lhe cansava. Ansiava pela chegada da noite. As fantasias criadas na embriaguez proporcionavam um mundo de sonhos onde não percebia a monotonia do dia. Tudo era festa, alegria, luzes, canções. Enquanto vivia a noite, o dia não existia.
E as noites já ficavam curtas para tanta alegria, pois se embriagava tanto e era levado para casa esborrachado, cada vez mais cedo.
E os dias começaram a ser cansados. Havia dificuldade para suportá-los. A embriaguez era a solução. E passou a embriagar-se de dia. Teria mais tempo para o delírio.
Ai lhe parecia que a noite se prolongava. Já não percebia mais o dia. E começou a perceber que a noite também lhe cansava. E já não percebia o sonho.
A vida foi encurtando. O corpo não suportava mais a vida.
Foi ai que percebeu que tinha vivido muito pouco. Tivera duas vidas que se destruíram na competição.
Era ainda uma vida bem curta, mas já não dava mais tempo para nada.
Paulo Pereira
12/04/08
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