UM ANJO BRILHANDO NA CHUVA
Choveu muito. Toneladas e toneladas de gotas d’água e vento, caíram sobre a cidade, entupindo os valos e inundando as ruas. Era verão e o calor não diminuiu com a chuva.
Alberto, saturado de ver crianças correndo, construindo diques, brincando com bolas de barro, gritando, rindo e chorando, deitou e sonhou que estava na mesma cidade e que tinha chovido muito, tanto que as ruas estavam alagadas e os meninos corriam de um lado para o outro, brincando nas águas turvas, que desciam das encostas. Sonhou que a chuva havia parado repentinamente e que ele caminhava pelas calçadas cheias de poças d’água, retornando para sua casa. O sol brilhava novamente e criava um certo ar de irrealidade, beliscando um pouco a alma e despertando sentimentos empoeirados.
Quando abriu a porta, uma cascata de luz quase o derrubou. Não se assustou porque sabia que era um sonho e, dentro desse território nebuloso e confuso, tudo é possível. Então viu alguém: encostado na janela, tentando sair ou descansando, esgotado e sujo, porém brilhando com luz própria. Era um anjo de verdade. Um anjo mudo. Alberto soube que era mudo porque perguntou o quê ele fazia ali e o anjo tentou falar e somente emitiu um chiado agudo, mas muito afinado.
Despertou no momento em que tentava descobrir que espécie de anjo era e o quê procurava. Uma claridade que desconcertava invadia o dormitório. Perto da janela, apoiado ou querendo sair, viu uma figura brilhante e suja. Podia jurar que era um anjo.
|