As uvas de meu quintal
O quintal é pequeno. Poucos metros quadrados, sobrando um cantinho para a grama verde.
Um pé de limão que não cresceu, uma trepadeira no muro, um pé de couve, hortelã e algumas flores. Na grama verde algumas ervas daninhas, chamadas de praga.
Um canto vivo, que poderia ser sem perspectivas. Ali, quieto, esperando chuva e amarelando se ela não vem, como que deprimido, reclamando da vida.
Não vale só estar vivo. Se assim fosse, amarelava, deprimia.
Se cada gota de água for sorvida com prazer, será um prazer enorme a chegada da chuva. Se o verde da grama for visto ser colorido, além de viver ele alegrará outras vidas. Se o aroma da hortelã inspirar satisfação, haverá o desejo de que exista mais hortelã, para mais satisfação. Se o sabor da couve completar um alimento, estará contribuindo para mais energia e mais vida. Se o perfume da flor for percebido, elevará a alma para um infinito e a vida saberá que existe o belo.
E se nesse jardim se plantasse uma uva? Em um tempo curto de expectativas haverá um momento em que ela estará tão seca, parecendo morta, lembrando desilusão.
Mas, com um olho de esperança, chegando bem perto, se vêm pontinhos verdes brotando, parecendo deslumbrados, encontrando um mundo enorme onde poderão crescer, enfeitar, dar alegria e amor.
Que bom que chove! Toda manhã, depois da chuva aparecem folhas novas. Em pouco tempo é uma parreira. Verde, elegante, vaidosa e guardando sob as folhas cachinhos de uva tão bonitos, reluzentes, com força vital enorme, transmitindo uma sensação de alegria, de fartura, de paz e serenidade.
Aquelas uvas serão chupadas e darão energia para a vida. Se elas conseguirem transmitir a idéia de que no próximo ano poderão produzir novamente, darão a esperança de que tudo aquilo que for plantado dará frutos.
Inclusive a esperança.
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