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Poesias-->VIBRAÇÃO METAFÍSICA -- 24/09/2001 - 05:38 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Morri mil anos seguidos

e não senti:

estava gelado.

O mundo é uma grande geladeira...

ou pequena?



Não sei:

não sei se Deus existe.;

não sei se o homem é.;

não sei se a existência existe.;

não sei se sei se não sei.;

talvez não saiba.



Qual o valor das coisas?

não sei.;

qual o valor da maiúscula?

não sei.;

e da ?

não sei.;

qual o valor desta folha?

não sei.



Não sei nada:

não sei nem se existe o nada.

A única coisa que sei realmente

é que está na hora

de dormir,

de sonhar.

Os homens, que não eu,

dormem agora,

talvez até estejam mais acordados

que o egoísmo meu,

talvez já estejam mortos

e enterrados,

e só eu tenha a ilusão da vida que passa.;

talvez nunca existissem,

talvez Deus nunca existisse,

mas me gerou

de seu ventre

e foi concebido

e parido

e sofreu,

enormemente, morbidamente.



E eu, que sou?

O produto imenso da dor de um deus infestado de bolor, velho, decrépito,

que não tem consciência de que é uma consciência

que me gerou o pensamento

e o corpo

e a fome

E a morte

e tudo e tudo e tudo e tudo e tudo.

E tudo nada vale, porque nada é,

porque tudo nada é,

porque o ser não é,

porque não sei que o ser não é,

porque nada sinto,

porque vibro apenas,

porque escrevo.



Mas não choro,

não lamento,

não lastimo,

porque não tenho pena de mim mesmo:

que sofra a minha carne,

que chore meu pensamento,

que vibre na dor meu intelecto.

Não sentirei,

não poderei sentir,

não quero poder sentir.



Na loucura da técnica contemporânea,

vibro de medo

do traiçoeiro poder da matéria,

que domina,

que avassala,

que oprime,

que mata,

que dá vida,

que cria deuses,

que sofre na consciência de si mesma.



Eu,

eu, profundamente egoísta,

profundamente

eu-mesmo,

sou matéria

e matéria morta

e matéria viva.

VIVA a matéria!



VIVA A MORTE, que sofre dentro de si, que sofre sobre o relógio!

O amor levou-me um dia

a uma encruzilhada:

ou amo a matéria,

e sou matéria,

ou a detesto,

e sou matéria.

Sou matéria porque não sei ser espírito

porque não quero ter alma,

porque não sei ter alma.

Sou um bastardo do mundo,

desonrado pela vontade de ser,

passageiro do bonde da existência,

que não quis pagar passagem,

por isso, sentei-me no último banco,

de onde possa ver o que está além,

mas através duma vidraça,

duma espessa vidraça

duma vidraça de carne,

de osso,

de eletricidade,

de magnetismo.



Quando me lembro de que existem outros eus que não sou eu,

não sei!, tenho pena de ser apenas eu:

poderia ser a vibração de um som da música que ouvi,

e não gostei.;

poderia ser um movimento da dança que vi,

e gostei.;

poderia ser uma forma do seio da moça que toquei,

e gostei.;

poderia ser um pouco da fumaça do perfume que cheirei,

e não gostei.;

poderia ser um pedaço da pele do frango que comi,

e arrotei.



Assim teria a inconsciência de não ser:

não sofreria,

não amaria,

não seria matéria,

porque nada seria,

porque não saberia que poderia ser.



Se Deus,

um deus qualquer,

criou o mundo,

fê-lo bem,

o mundo,

mas fez mal a criação,

porque o supremo mal foi Deus ter criado a criação.



Deus bem poderia ter continuado não-ser,

na eterna felicidade do si-mesmo.



Um dia, eu passarei,

terei esgotada toda a energia que não pedi — e que devo ter,

para viver,

para sofrer,

para morrer,

e, então, o mundo,

no seu enorme inconsciente,

não se lembrará de que eu aqui estive,

e continuará a eterna serenidade de sua diabólica maquinação.



Mas se Deus houver,

desafio-o,

com toda a minha desmedida humanidade,

a dizer que é justa sua justiça,

desafio-o

a morrer — como quer que eu morra

e passe,

desafio-o

a me recriar,

não na mesquinha condição de homem,

mas na enorme condição de Deus,

desafio-o

a igualar-me a ele,

desafio-o

a igualar-se a mim,

desafio-o

a provar que existe

e juro pela minha existência

que nada existe

e, se o pensamento tem algum valor,

e digo que não tem,

pois o desejo não é desejo,

mato-me agora — para erguer-me em Deus,

como Deus, um único Deus.



14.10.57.





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