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cronicas-->1971 - Estar Só -- 11/11/2009 - 03:41 (Jairo de A. Costa Jr.) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ouvindo Dean Martin e Frank Sinatra não se pode dizer, nem pensar estar só; pois é, eles estão aí no YouTube, fora os outros elos com o mundo, tais - Orkut, blogs, Google e mais tais outros. Já vi os e-mails, mas, porque penso estar só. Só mesmo o coração achando; a razão sabe que os, ora longe, chegarão breve e que amanhã, será daqui a pouco. Fim de semana passado fiquei mais de trinta horas só por minha conta, cansei. Nem entristeci, fiquei naquele limbo, uma perna queria andar, outra queria ficar. Sabe aquela música By the time I get to Phoenix, ouvi-a em todas as versões, digite no YouTube e saberá. Estou aqui apenas eu, mas não afirmo estar só, apenas um momento só.
Já tive alguns Sós mais chatos, aquela noite de mil novecentos e setenta e um, descendo avenida interminável, quase meia-noite, alguns cadernos na mão, tudo por estar sem grana. Minha esperança era o Tachime, com seu corcelzinho, perdi a vez; fiado na circular, nem pensar. Bem, vou a pé, fui e a casa da minha vó ficou longe, me tornei o menino solitário, ainda bem que só lembro isso. Ruim foi em setenta e seis, já em São Paulo e eu já namorava, poderia ter ido vê-la, fiquei na quitinete prá lavar roupa, um baldinho, uma pia e um chuveiro, uma caixa de Omo. Puxa que receita, mais uns danones que fui buscar na padaria da esquina, pronto e lava e lava, enxágua, dá uma torcida e estende no barbante acima da sua cabeça, assim foi, bem mais tarde, quando olhei - chega, é muito Só prá mim. Saí correndo e fui namorar. Depois, fiquei meio só, quando tive que passar o resultado da lavança. Passou...
Segundo dia em Piracicaba - Vai ficar em qual hotel? Vou experimentar esse Santin aí da lista, onde é... perto do rio, é gostoso, vais gostar. Já digo - não gostei, fiquei na maior solidão e passei o maior frio. Um quartico com duas camas de solteiro, que eu não cabia de comprido, nem de lado nas duas. Televisão lá fora, banheirico, tudo petitico e eu ainda mal preparado, fui prá ficar só segunda e fiquei na terça. Cobertor não tinha, duas manticas de nada. Fiquei tiritando e me achando o cavaleiro solitário do mundo. Nunca mais olhei pra esse Santin aí.
Não é que acabou a luz e agora estou digitando com a claridade da tela e o apitar do no-break, não peçam prá desligar o computador, estou salvando cada frase. Ai ai, Só e no escuro, nem pensar
Outro dia, fui assistir ao Roberto Carlos, no Ibirapuera, cercado dos meus e do ginásio todinho, dá-lhe Caminhoneiro - toda vez que eu pego a estrada... Gosto dele. Primeiro semestre de oitenta e seis, fui dirigir carreta com meu pai, cimento pro Mato Grosso e soja de volta. Numa das viagens, caminhão pesado - Fião vamos parar nesse posto aí, era na volta, uma semana longe de casa. Encostamos, banho naquele banheiro ruim de posto, põe ruim nisso. Ele dormia na cabine, eu na rede embaixo da carreta. Antes - Pai, vou ligar em casa. Ta vendo ali, perto da loja, tem orelhão. Aló. Aló, seu Jairo - a Edna não está, foi no Roberto Carlos, to aqui olhando as crianças. Aiii, ta bão, tchau. Nem beijo nas crianças mandei. Pus o rabo entre as pernas e fui arrumar a rede, ajeitei e deitei, foi uma das noites mais Só que já passei. Depois dessa, mais uma viagem e voltei para São Paulo.
Oi mãe, tem luz aí? Tem, só piscou, mas não apagou... caiu a linha. Aló, oi Iriana, tem luz aí em Saltinho... tem, só piscou... aqui São Paulo não tem. Ela viu na internet, não é que é um apagão, problemas com Itaipu, apagou em cascata. Pi pi piiiii, disparou o no-break, desligou o computador, puf... fiquei novamente Só. O Guilherme ligou - Pai vou ficar aqui na casa da Esther. Isso tudo começou nove e quarenta de ontem, e neste momento, três e cinco da madrugada de onze de novembro de dois mil e nove, retomei, só, mas, sem estar só. Salvaram-me dois celulares, pelos contatos e pelo efeito lanterna, até eu achar as velas, acendi mais de cinco. Contei a história do Roberto, teve outra vez com ele mesmo, eu com uma crise braba de labirintite, a Edna tinha comprado dois ingressos para o show dele, cai de cama feio mesmo. Ela foi com a Silvia e eu ia ficando sozinho, até que o Alexandre chegou e me fez companhia mais de três horas.
Porto Seguro, amanhecer do sol de oitenta e sete, outubro, época da lambada, sentei na mureta e fiquei contemplando aquela beleza, sol e mar e toda a solidão do mundo prá mim, um restinho de som baiano por perto e eu, tão eu, fazendo parte daquele espetáculo, senti alguém a sentar ao meu lado - Oi, oi - não diga nada, apenas entenda, não estamos sós. De novo, era o Alexandre. Não sei quanto lá ficamos. Resolvi falar dos meus Sós e dei de cara com o apagão, luz voltou e parece que nada aconteceu, meu povo está aí pelo mundo e sei que tem gente que olha por mim, o estar Só sempre será história e um momento, fim de semana passado e agora - ouvindo By the time I get... dez e onze de novembro de dois mil e nove, sem estar só.
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