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cronicas-->Theatro Santa Helena, o Cinema Paradiso -- 22/10/2009 - 10:21 (LUIZ ROBERTO TURATTI) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




A História do Cinema em Araras-SP (2 de 3)

Theatro Santa Helena, o Cinema Paradiso


Alcyr Matthiesen


Na noite de 30 de novembro de 1930, graças ao dinamismo do Sr. Gerólamo Gaino o novo cinema batizado como Theatro Santa Helena tem a sua noite de estréia às 20h00 com o filme "Alvorada do Amor". Era um dos famosos musicais de Hollywood com Maurice Chevalier e Jeannette Mac Donald. Gerólamo, para atrair o publico troca os rojões por uma sereia estridente avisando que a sessão vai começar. A Rua Benedita Nogueira ficou totalmente tomada pela multidão e muita gente de fora veio ver o novo cinema.

O prédio, em arquitetura eclética, tem sua fachada ainda mantida em 90%, apesar do abandono que se pode notar. O interior exibia uma mescla do estilo eclético com detalhes da Belle Époque. Numa antiga fotografia de 1934, quando foi criado o Ginásio do Estado (depois Cesário Coimbra), o salão do cinema foi alugado para um banquete e posterior baile com a presença do interventor Dr. Armando de Sales Oliveira. A festa foi organizada pelo famoso Buffet Palhaço, da Capital, com a presença de grande número de personalidades da alta sociedade paulistana e ararense. Gerólamo era, além de empresário, um grande idealista e não poupou esforços para o fino acabamento do salão, típico das grandes casas de espetáculo da Capital e outros países.

No fundo, o mezanino − um andar pouco elevado na parte superior, chamada galeria, a qual era sustentada por colunas de madeira torneada com fino acabamento no apoio. Abaixo, entre as colunas ficavam as frisas, isto é, o camarote quase ao nível da plateia. O parapeito formava uma espécie de balcão de madeira envernizado com a superfície graciosamente abaulada. Tais frisas eram normalmente usadas por chefes de família e autoridades.

Tudo fora construído com muito bom gosto. Na galeria ficavam as poltronas dispostas em níveis, com as que eram colocadas no fundo mais altas que as da frente, de modo a facilitar a visão da tela. No centro desta, ficava a cabine de projeção − uma pequena sala onde foram instalados os aparelhos e o foco de luz do projetor. Por ali era emitido através de duas janelinhas quadradas. A galeria era protegida na parte anterior por um parapeito construído com grades de ferro, delineadas em curvas. O arremate de apoio era de madeira envernizada e, na parte inferior, havia um friso com arabescos, com a base apoiada sobre as colunas de sustentação. Com o tempo a galeria tornou-se o local preferido dos casaizinhos que procuravam o escurinho do cinema. As paredes eram pintadas e decoradas com motivos florais. O forro era de madeira esmaltada e a grande tela ficava logo acima de um grande palco com uma ampla cortina que se abria lateralmente, a partir do centro, quando um gongo soava duas vezes e as luzes gradativamente iam sendo apagadas.

Dos anos 30 aos 60 o Theatro Santa Helena, viveu seu período áureo do glamour do cinema, com Hollywood no auge das grandes produções. Foi a época em que os atores eram minuciosamente escolhidos para seus papéis e cada produção era trabalhada com esmero. Sem formos citar os grandes astros dessa fase, mais de duzentos nomes seriam mencionados, mas, quem não se lembra de Gregory Peck, Burt Lancaster, John Wayne, Kirk Douglas, James Stewart, Marylin Monroe, Elizabeth Taylor, Vivian Leigh, Dorothy Lammour, Ava Gardner, Kim Novak e uma legião de outros? A criançada de meu tempo também não se esquece do Tarzan Johnny Weissmuller, dos ídolos das matinês Rocky Lane, Gene Autry, Hoppalong Cassidy, Rodolph Scott, dentre outros, os seriados do Zorro, Perigos de Nioka, Charlie Chan e as gargalhadas com o Gordo e o Magro. Depois, vieram os filmes franceses, geralmente proibidos para menores de 18 anos (por causa de um busto nu ou menos), mas a rapaziada encontrava um jeitinho de falsificar sua idade na caderneta escolar para conseguir enganar o porteiro e assistir o filme.

Hoje, o cinema não tem o mesmo glamour daqueles tempos. A TV, o videocassete, o DVD concorrem com o telão e, mesmo com a moderna tecnologia, os filmes em sua grande maioria deixam muito a desejar. Surgiram as escolas de cinema, as produções independentes feitas às pressas para suprir o mercado e o amadorismo hoje é o maior responsável pela péssima qualidade que salta das telas diretamente para as locadoras. Hollywood ainda é o grande mentor do cinema, graças aos efeitos especiais e produções esmeradas como Parque dos Dinossauros, O Resgate do Soldado Ryan, Piratas do Caribe, Titanic, A Troca e uma centena de outras esmeradas produções, permanecendo a Disney na liderança, graças à nova tecnologia. Contudo, o pornó, a violência, o terror e os golpes para a vida fácil hoje saturam as prateleiras e os adeptos da sétima arte que já começam a ficar mais exigentes frente ao grande número de péssimas produções. O Oscar deixou de ser referência de bom filme, pois parece enveredar para tendências em ganhar a simpatia de outros países e o termómetro para julgar um bom filme, hoje, parece ser os índices apontados na internet e os lançamentos nos grandes shoppings.

O Santa Helena dos anos 70 a 90 arriscou períodos de sobrevivência, mas passou por fases de abandono e descaso, sendo hoje uma lástima. Depois que funcionou como Igreja Evangélica, ninguém mais ligou. Com tristeza, tive acesso às fotos do excelente fotógrafo Cristiano Leite e as imagens são as de uma tumba egípcia abandonada: o forro caindo, as frisas e a galeria praticamente fechadas por sujas paredes erguidas sobre os detalhes artísticos da Belle Époque descritas, a tela rasgada e as laterais do palco cobertas, pretas e borradas pela umidade e bolor. Do que ainda resta, lixo acumulado, poltronas cobertas por fungos, trincas nas paredes, infiltração de água, sujeira e uma escuridão total, muito diferente do escurinho do cinema de outrora onde a luz da tela era convertida em sessões de sonhos e beleza. A nostalgia do que fora durante anos alegria, sonhos, o beijo na namorada, lamentavelmente ainda mofa no coração da cidade. O calçadão com suas árvores velhas e retorcidas, escuro e com pouca gente, ao lado do Solar Benedita Nogueira, também fechado, parece ser a moldura para aumentar ainda mais a nossa tristeza. Tal abandono hoje só deixa lembranças. O prédio parece estar aguardando a demolição e até o momento ninguém fala em restauração nem o seu aproveitamento em escola de arte, museu, arquivo, pinacoteca ou mesmo salas menores da sétima arte. Mas... quando?

Alcyr Matthiesen é biólogo, professor universitário aposentado e historiador de Araras, nossa cidade natal.

Fonte: OPINIÃO JORNAL, Araras (SP), Sábado, 17/10/2009, Página 1B.


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LEIA TAMBÉM:

Belle Époque, a Sétima Arte de volta ao passado (1 de 3)

O Cine Araruna, o maior de uma época de ouro (3 de 3)


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"Fora da VERDADE não existe CARIDADE nem, muito menos, SALVAÇÃO!"

LUIZ ROBERTO TURATTI.



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