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Cronicas-->1965 - Ónibus -- 20/10/2009 - 14:38 (Jairo de A. Costa Jr.) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Esses dias tenho conversado sobre um empreendimento na Rodoviária de Piracicaba, conversa vai, vem, quantas partidas, vindas, ónibus assim, prá longe, circular e outros inerentes. Andando pela Bandeirantes, observando os novos carros, novas empresas e as tradicionais, fiquei imerso nessa questão. Daí, um passo nas minhas andanças, por esse transporte, tão onipresente.
Era mil novecentos e sessenta e cinco, só podia ser férias de escola. - Cida, vou levar os meninos prá Porto Alegre. Fomos e não me lembro nada. Na volta, em São Paulo, meu pai ia pro Norte, ele nos entregou para o motorista da Viação São Miguel. - Ventana, deixe os meninos lá prá Cida, que eu vou em frente, fale prá ela que uns trinta dias eu vorto. O Ventana era gente fina e bão barbaridade, meu pai deu até um dinheiro para ele entregar em casa. - Boa viagem, Jairo. Eu olho eles. Sentamos ali pelo meio, eu e o Toy. Saímos ali do Butantã e não deu tempo de subir a primeira subida do Jardim Belvedere. Inho, to com ànsia. Fique quieto, não faça nada. Começou a esverdear, mais um quilometro, huugooooo, vomitou, o ajeitei e dormiu. Ai ai, fiquei vendo aquilo. O cobrador veio, viu, não pode fazer nada, nem oferecer água, naquele tempo essas gentilezas, as empresas nem cogitavam. Nem limpavam direito os carros. Tentei ficar fortão, mas o chacoalhar pelas subidas da Raposo antiga, não cheguei nem em Cotia. - Huggããõooo, ai que ànsia, fiquei muito mal e muito quieto. Acho que dormi, lá na frente o Toy me cutucou e de novo, aí, ficou uma imundície embaixo do banco e a coisa ia prá lá e prá cá. Seguimos assim até Piedade, uma eternidade. Paramos na Parada, tinha um bar, fomos lá. - moço, dois pingados e dois pão com manteiga, o pai ensinou assim. Poderia ter sido um guaraná. Mal comemos. Vambora, falou o Ventana. Mais uns oitenta quilómetros e a mesma agonia, os demais só olhavam. Finalmente, ele nos deixou no Caxias, um quarteirão de casa, desceu, entregou as coisas e levou-nos até a metade, quando viu a mãe... - Cida, dê um chá pros meninos, eles passaram mal. Ah, barbaridade, descurpe, cê viu o Jairo. Vi, foi prá Salvador. Tchau. Nós dois corremos e choramos no colo da mãe. Depois ela fez umas coisinhas e comemos, sem ànsia.
Fora o sofrimento que era ir de São Miguel prá Itapetininga e voltar, pois não é que eu ia comprar livros no ministério, o méqui. Pegava o das dez e voltava no das três, isso sem comer, que coisa de bobo, tinha dinheiro, era só pra andar de ónibus. Passei os quatro anos de ginásio fazendo isso. Achava o máximo. Chegou o terceiro colegial, tinha que enfrentar o ónibus dos estudantes, fui só uns dois ou três dias, mudei pra Itapetininga, fui trabalhar no Café Santo André, perto da Rodoviária, mas ia a pé. À noite, tomava o circular para o Modesto, lá do outro lado da cidade, que festa. Eram uns carros mais antigos, barulhentos, tenho saudade, um ano nesses ónibus, tempo lúdico.
Fui pra São Paulo, aí sim, eles apareceram na minha vida, não tinha carro. Fiquei na dependência da Visma, da Cometa e da Danúbio. Esta, recém responsável por São Miguel-São Paulo. Logo no primeiro feriado de setenta e dois, Semana Santa, aquela monte de gente na barraquinha da praça, esperando o das três para o embarque. Quanto sofrimento, cabia quarenta, subiu uns setenta. Dez horas da noite eu estava descendo em São Paulo e fui em pé. Sorte que éramos todos alegres e fomos fazendo piada da situação. Lembro do Joaquinzão, da Yolanda e da Olga e mais alguns. O que teve de dor nas pernas, nem pensar. O Cometa era ótimo, mas só até Itapetininga, depois dependia da Visma, a empresa dos França, em total decadência. Tenho ódio até hoje, vocês acreditam que os ónibus paravam por falta de combustível e pneu furado. Aí, cada um que se virasse. Uma vez, fiquei no alto da Conceição, faltou óleo, brigamos, devolveram o dinheiro e eu cheguei atrasado pra pegar o Cometa pra São Paulo, o das duas, tive que pegar o das seis. Ainda bem, que o motorista era o Otacílio, sujeito calmo e bom. Pedia desculpas pelos Franças. O Cometa era ótimo, chato eram as paradas em Tatuí, ai que saco, mal saia de Itapetininga, já entrava em Tatuí. Mas, os lugares todos marcados e o motor era Scania, uma beleza, flanavam na Castelo Branco.
Sem carro, comecei a namorar. Pirituba é longe, não, não é. Você pega o Santa Brígida - Vila Zatt e desce na Casa de Nassau. Espero lá, pelas duas. Marquei na sexta esse encontro no domingo. Essa viagem foi longa, carro Mercedes Super B, bem velho, quase sem força, passa pela Lapa, dá umas voltas, entra na Marginal e começa a subir a Estrada Velha de Campinas, não aguentou, de novo na partida e com muita reza subiu.. - Seu Motorista, o senhor pode me deixar na Casa de Nassau. Já pode descer, é aí na frente. Desci e vi a Edna vindo. Foi uma das melhores viagens de ónibus, pois ao vê-la, esqueci a encrenca que foi.
Passei por outras, contarei. Mesmo assim, tenho fascínio por esses carros, agora tem uns de quatro eixos, ainda não andei, só fico imaginando. Vejo uns e outros aí pelas estradas, boa viagem!
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