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Cartas-->O PRÊMIO NOBEL PARA LÊDO IVO -- 01/06/2005 - 17:12 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O NOBEL PARA LÊDO IVO



Swedish Academy
Box 2.118
S – 103 13
STOCKHOLM - SUÉCIA


Excelentíssimos Acadêmicos,

Julgamos ser necessário e do nosso dever indicar o poeta LÊDO IVO para o Prêmio Nobel de Literatura/2005, pelas razões logo mencionadas.
É possível que V. Exas. não conheçam esta sociedade de letras proponente – a Academia Piauiense de Letras. Talvez sequer saibam em que parte do Brasil fica o Estado do Piauí (Nordeste Ocidental), mas isto não importa muito. Podemos dar essas informações em documentos anexos. LÊDO IVO, no momento, é o poeta mais representativo de um lirismo nada piegas, de uma forma cada vez mais apurada sem ser extremo, radicando um humanismo não complacente e que a tradição literária tem conservado e anunciado em primeira mão como ciência do homem. Festejado pela crítica e pelos leitores, seus poemas o igualam aos mais importantes poetas deste país chamado Brasil, no século XX. Completa agora seus 81 anos de idade, premiado com grandes prêmios durante esses longos anos, traduzido em vários idiomas e países. É para LÊDO IVO, membro da Academia Brasileira de Letras, com sede no Rio de Janeiro, sua cidade de adoção, que apontamos o Nobel de Literatura deste ano.
Nossa Academia Piauiense de Letras, fundada em 30 de dezembro de 1917, bem que teria membros nossos a apresentar para o galardão: Assis Brasil e O.G. Rego de Carvalho, ambos nomes conhecidos nacional e internacionalmente, por suas excelentes obras de prosadores e pela crítica de fé que têm merecido, assim como por prêmios dos mais importantes com que foram galardoados.
Mas não vamos apresentá-los agora para o glorioso Prêmio Nobel. Deixemo-los para outra oportunidade, talvez o próximo ano, quando poderemos fazer nova propositura. Acreditamos que, ao invés, este ano o prêmio maior de Literatura deve ser de LÊDO IVO, poeta dos mais originais e brasileiro filho do Nordeste, conhecidíssimo no Brasil inteiro e no Exterior, pelo seu sexagenário frutuoso como artista da palavra, quando acaba de lançar sua Poesia (completa). Homenagens lhe foram prestadas por todo este país, inclusive no nosso Piauí. Teresina, Capital, sede da Academia Piauiense de Letras, através da revista “Presença”, nº 32, do 2º semestre de 2004, publicação oficial do Conselho Estadual de Cultura, publica matéria alentada e da maior importância, ressaltando sua poesia por ocasião da comemoração dos 60 anos de atividade intelectual. Como exemplo das homenagens recebidas por Lêdo Ivo, enviamos-lhes a revista “Presença”, junto com alguns documentos desta Academia, como já mencionado.
Sabemos que essa Real Academia já possui as obras do nosso notável proposto, LÊDO IVO, Acadêmico da Academia Brasileira de Letras, repetimos – cuja indicação inicial coube ao escritor Joaquim de Montezuma de Carvalho, individualmente e em nome de agremiações culturais a que pertence em Lisboa e noutros países, historiador português de grande conceito, conhecido e publicado na Europa e nas Américas – se é que a Academia Brasileira de Letras não o tenha proposto antes de nós. O próprio Joaquim de Montezuma de Carvalho, de quem conhecemos o teor de seu requerimento-proposta, em carta recente, inclusive publicada nos jornais “Diário dos Açores”, das Ilhas dos Açores, e no “O Primeiro de Janeiro” (Suplemento “Das Artes, das Letras), de Porto, Portugal, deu a conhecer a V. Exas. de um pouco de sua poesia, transcrevendo o poema Minha Pátria, que é um dos mais importantes da pena desse grandioso poeta. Por nossa parte, queremos mostrar-lhes, antes de tudo, o poema denominado “O Caminho Branco”, que reputamos obra da mesma altura das dos portugueses Fernando Pessoa, Teixeira de Pascoaes, Mário Sá-Carneiro ou dos brasileiros Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira, todos falecidos, os quais, a nosso ver, eram merecedores do galardão:

“Vou por um caminho branco.
Viajo sem levar nada.
Minhas mãos estão vazias.
Minha boca está calada.
Vou só com o meu silêncio
e a minha madrugada.
Não escuto entre os barrancos
a voz do galo estridente
que, na treva do terreiro,
anuncia as alvoradas.
Nem mesmo escuto minha alma:
Não sei se ela vai dormindo
ou me acompanha acordada,
se ela é vento, se ela é cinza
ou nuvem rubro raiante
no dia que se levanta
como vela desdobrada
em nave que corta as vagas.
Nem sei nem mesmo se é alma
ou apenas sal de lágrimas.
Vou por um caminho branco
que parece a Via Láctea.
Só sei que vou tão sozinho
que nem sequer me acompanho,
como se eu fosse um caminho
pisado por um vulto estranho.
Não sei se é dia ou se é noite
o que surge à minha frente,
se é fantasma do passado
ou vivente do presente.
Não sei se é a torrente clara
da água que corre entre pedras
ou se o gavião me espreita
oculto no nevoeiro,
espantalho prometido
ao meu dia derradeiro.
Atravessando barrancos
e plantações de tomate
e ouvindo o canto escarlate
de airosos galos polacos,
vou por um caminho branco:
brancura de bruma e prata.
Entre tufos de carqueja
há constelações de orvalho
e um clarão do meio-dia
cego à minha madrugada.
Vou como vim, sem saber
a razão da travessia.
Nem sequer levo na boca
o gosto de água salgada
que relembra a minha infância
feita de mar e de mangue.
Nem sequer levo nos olhos
– nos meus olhos de menino –
a mancha rubra de sangue
deixada pelo assassino
que vi certa madrugada.
Vou por um caminho branco
e nada levo nem tenho:
nem ninho de passarinho
nem fogo santo de lenho.
Só vou levando o meu nada.
Fui tudo quanto juntei
para oferecer a Deus
nesta branca madrugada.”

Depois de “O Caminho Branco”, outro poema que gostaríamos de mostrar aqui é o “Soneto da Neve, segundo poema do seu livro “Plenilúnio”, Editora Topbooks, Rio de Janeiro, 2004.

“Quando te amo, penso sempre na neve,
em uma neve branca como o esperma.
Penso sempre na neve quando te possuo,
na neve branca que cai entre as bétulas.

Em minha meninice sempre desejei
ver a neve cair, atravessar a branca
escuridão da neve que, entre o dia e a noite,
devolve ao mundo negro um branco seminal.

Eu sempre desejei que o mundo fosse a alvura
da neve, da brancura virginal
do alvo lençol imune a qualquer mácula.

E a neve cai em mim e cai na desolada
noite escura da alma, a neve do silêncio,
a imaculada e frígida alvura do nada.”.

Na nossa opinião esses poemas são representativos de sua última fase poética, com o que têm concordado muitos editores, críticos e leitores. Mas respeitamos a opinião de outros, inclusive do Dr. Joaquim de Montezuma de Carvalho, de quem acabamos de falar. Mas também poderíamos indicar, se não fosse tão longo, “Plenilúnio”, do livro homônimo, aliás, o que abre as portas dessa seleção feita naturalmente com a supervisão do próprio autor, saída recentemente da Editora Topbooks, Rio de Janeiro, 2004.
Como exemplo de crítica a respeito de LÊDO IVO, transcrevam-se as abas de “Plenilúnio”, da sábia e competente autoria de Alexei Bueno, porque a endossamos perfeitamente:
“Ao ouvirmos falar em plenilúnio, três idéias de imediato nos ocorrem: algo que desce de muito longe e muito alto, certa indescritível luz opalina e fantasmal, e Raimundo Corrêa. Deixando de lado o grande poeta maranhense, podemos reconhecer que as duas primeiras impressões se confirmam no contato com a mais recente obra de Lêdo Ivo. Qual na última visão que Proust nos dá de seus personagens – onde uma imensa perspectiva temporal faz com que abarquem verdadeiros abismos do tempo, tão diversos de sua dimensão no espaço –, a visão do poeta, neste livro admirável, parece colocar-se a uma distância que, por um lado, permite entrever muitas das tão díspares manifestações de que se compõe a vida humana, e por outro, com um distanciamento quase estóico, ilumina todos os poemas com uma fria agudeza de percepção.
O poema-título, que abre o volume, reveste com um originalíssimo tratamento expressionista o tema sempre dado por esgotado e sempre inesgotável, verdadeira farândola leitosa de máscaras de Ensor na noite do Rio de Janeiro, um dos grandes poemas de Lêdo Ivo. Mas não é só a cidade de adoção que é abarcada pelo poeta. Em “Minha Pátria”, glosando uma declaração célebre de Fernando Pessoa, ressurge, com as mais detalhadas percepções sensoriais, a Maceió de sua infância. Livro de contrários apaziguados, de superação do mundo dialético, “Plenilúnio” mergulha na completa materialidade e no perfeitamente impalpável, no totalmente contemporâneo e no puramente memorial, e se a morte é o seu grande tema, é somente revestida de vida que ela aparece, como não poderia deixar de ser. Contra certa lamentável tendência, persevera na poesia brasileira, de só tomar por real o mais grosseiramente concreto – seja lá o que for isso – afirma o poeta em “Realidade”: “Como a língua vertida / durante um temporal / ou uma banana // tudo é real no mundo”.E essa mesma variedade temática do livro, vale a pena notar, corresponde a sua variedade formal. Com igual mestria, Lêdo Ivo lança mão do metro livre, das formas fixas e da balada derivada do romance viejo ibérico, exercendo a liberdade de meios expressivos alcançada pelos verdadeiros conhecedores da multiplicidade de registros da poesia moderna.
A série de poemas sobre a morte – “Na rua general Polidoro”, “Soneto injurioso”, “Água fria”, “Forno crematório” –, da maior qualidade, talvez alcance o seu ápice em “Estação Final”, poema estático e extático, onde só há um verbo, emblema de uma nostalgia da pureza, de um quase cansaço do humano e do mundo fenomenal que se materializará em “A luz do dia”, “Areia branca” e “A promessa da tarde”, ou na perfeita obra prima em dois quartetos que é “O espinho”. Um poema, no entanto, parece-nos de especial interesse para os próprios poetas, o belíssimo “As palavras banidas”, ainda mais na nossa época de economia, minimalismo e indigência voluntários. Do cimo de sessenta anos de poesia, “Plenilúnio” apenas reforça a posição de Lêdo Ivo como um dos maiores poetas brasileiros desse largo período de vida e de arte.”“.
Como poeta, não precisamos dizer mais. Porém, acrescente-se que LÊDO IVO é também um excelente crítico-ensaísta e escreveu romances, contos e crônicas que são lidos e admirados por nosso imenso Brasil. Outra coisa é também, por motivo histórico-teórico-literário, sua inserção no Modernismo brasileiro, porém já na terceira fase, ou seja, a “Geração de 45”, muito embora o primeiro livro de IVO, “As imaginações”, tenha sido editado ainda em 1944.
Com LÊDO IVO, assim confiamos, o Brasil terá o primeiro “Prêmio Nobel de Literatura”. Ficamos antecipadamente agradecidos pela atenção oferecida ao nosso requerimento, com a sabedoria e a justiça dessa Corte, esperando ansiosos a nossa vez.
ACADEMIA PIAUIENSE DE LETRAS, Teresina, Piauí, 28/05/ 2005.
Assinam: Paulo Freitas – Presidente
Manfredi M. Cerqueira – Vice-Presidente
Oton Lustosa – 1º Secretário
Hardi Filho – Tesoureiro
Francisco Miguel de Moura – Acadêmico
Humberto Soares Guimarães – idem
Altevir Alencar –idem
Celso Barros Coelho – idem
Zózimo Tavares - idem
M. Paulo Nunes – Secretário Geral

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