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Erotico-->JUSTIÇA COM AS PRÓPRIAS MÃOS -- 04/07/2008 - 14:35 (Pedro Gomes da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
JUSTIÇA COM AS PRÓPRIAS MÃOS

Pedro Gomes da Silva



Fulgêncio encerrou o expediente de sua loja às doze horas e trinta minutos naquele sábado, como fazia todos os fins de semana.
A loja era fechada ao público às doze horas todos os sábados, mas os funcionários continuavam trabalhando até às doze e meia, quando era encerrado o balanço do dia e também o da semana.
Após fechar a loja, Fulgêncio foi ao bar, ao lado do seu estabelecimento, para tomar sua dose habitual de aperitivo, a fim de abrir o apetite, como sempre dizia. Ainda bateu papo com uns amigos e só então foi para sua casa.
Como era um homem muito perspicaz, logo que entrou em casa sentiu o ar carregado, um clima de intranquilidade, de insatisfação, porém não perguntou nada, porque tinha certeza que logo a sua mulher explicaria o que estava acontecendo.
O almoço foi servido, a família reuniu-se à mesa. Houve a oração de agradecimento pela refeição servida. Todos comeram alegremente, como o costumeiro. Fulgêncio chegou a imaginar que o seu pressentimento de anormalidade tinha sido falso, que nada tinha acontecido ou estava acontecendo.
Terminada a refeição, a louça foi recolhida, os filhos se retiraram e logo após o café, a mulher o chamou ao quarto do casal. Fulgêncio foi entrando no quarto e foi falando:
- Eu sabia que não tinha me enganado.
- Você já sabe?
- Por enquanto não sei de nada. Porém, sei quando você tem alguma coisa séria para me contar.
- E é séria mesmo. Você nem vai acreditar.
- Por que não?
- A Florinha está querendo vir morar aqui e eu já disse para ela trazer suas coisas para cá.
- A Florinha, do compadre Filó?
- É ela mesma.
- Por que ela quer vir para cá? Logo agora que a mãe morreu e o pai precisa de companhia.
- Só que ele não está precisando da companhia de uma filha, ele está precisando é de uma mulher ou melhor dizendo. Ele está precisando é tomar vergonha, ele está precisando é de cadeia.
- O quê! Será que eu entendi direito?! O compadre Filó está faltando com o respeito a filha?!
- Está. A Florinha chegou aqui cedo, quase morrendo de tanto chorar. Ela contou o que estava acontecendo e disse que não fica mais na casa com o pai e nem quer vê-lo mais.
- Não acredito que o compadre Filogônio esteja faltando com o respeito a própria filha.
- Pode acreditar porque é verdade. A Florinha me contou que o pai, há uns três dias atrás havia falado umas coisas esquisitas com ela, mas ela não desconfiou de nada, porque pensou que fosse por causa do namorado dela. Só que ontem à noite ele voltou a falar com ela claramente. A menina disse que quis sair da casa na mesma hora, só que ele não deixou. Quando ela entrou no quarto para se deitar, ele entrou também, trancou a porta e obrigou-a a se deitar com ele.
- O quê! O Filogônio mexeu com a própria filha!? Uma criança, ainda.
- Ela me contou tudo isto em prantos e disse que não fica mais lá. Ela contou, também, que ele ameaçou-a de morte se contasse a alguém e que a partir daquele dia ele passaria a ser o melhor pai, o melhor amigo do mundo para ela.
- Será que ela não está mentindo? Às vezes foi o namorado e ela, para livrá-lo, inventou esta história maluca.
- Eu não acredito nisto e nem que ela esteja mentindo.
- Pode estar certa que vou descobrir a verdade.
- Como? Você vai dar queixa à polícia?
- Não. Agora não. Eu vou pensar numa maneira de descobrir a verdade primeiro.
- E a Florinha?
- Veja se consegue que ela fique lá até a noite, porque assim ele não vai desconfiar que já sabemos. Nós vamos trazê-la ainda hoje.
- O que você vai fazer?
- Agora eu vou dar uma olhada na chácara do compadre Francisco, porque o caseiro foi visitar a mãe que está doente e só volta domingo à noite ou segunda-feira cedo, como ele também teve que viajar com a família, me pediu que desce uma olhada para ele.
Fulgêncio entrou no carro e foi direto ao emprego do Filogônio. Ele queria descobrir se a história da menina era verdadeira, antes que o criminoso desconfiasse e fugisse.
Quando Fulgêncio chegou à fábrica onde o compadre trabalhava, ele já ia saindo. Sem descer do carro e sem demonstrar que desconfiava de alguma coisa, foi logo falando:
- Quase que ia perdendo a viagem. Eu vim aqui para convidá-lo a ir comigo à chácara do compadre Francisco.
- Logo hoje, compadre, que eu precisava chegar mais cedo em casa.
- Nós não vamos demorar, é só dar ração a bicharada e voltamos.
- Eu preciso ao menos avisar a Florinha.
- Não é preciso, eu passei por lá e disse que nós iríamos à chácara.
- Como ela estava?
- Eu nem desci do carro, mas me pareceu que estava bem. Por que? Ela estava sentindo alguma coisa?
- Não. Não estava. É só preocupação de pai. Você sabe que ela acabou de perder a mãe.
Filogônio ainda apresentou algumas desculpas para não acompanhar o compadre, porém Fulgêncio foi superior nos argumentos e terminou levando o homem na conversa e para a chácara. Ainda no caminho, já com a certeza da veracidade do relato da menina, Fulgêncio começou a sondar o companheiro de viagem e para isto inventou uma história maluca para forçar o lunático a se denunciar. Depois de alguns fatos sem menor importância, ele começou:
- Compadre Filó, eu vou te contar uma coisa que está acontecendo comigo. Para falar a verdade, eu não sei o é, mas parece que é uma doença.
- O que é, compadre?
- Eu só vou contar porque preciso dividir este peso com alguém e também, porque tenho muita confiança em te. Sabes que até hoje não tive coragem de contar nem para a Firmina. Tenho medo dela não me compeender.
- É tão complicado assim, compadre?
- É muito sério. Sério mesmo, compadre. Até já pensei em procurar um médico ou melhor dizendo, um psicólogo.
- Psicólogo?
- É compadre. Tem que ser. Imagine, eu nessa idade. Pai de três filhos, com uma moça já namorando, quase pronta para casar, comecei a agir como um menino. Como um moleque.
- Como assim, compadre?
Filogônio nem desconfiou de nada, porque a encenação do outro foi perfeita. A história narrada parecia real. Fulgêncio continuou floreando a narrativa para deixar o outro à vontade.
Já estavam quase chegando ao destino, quando Filogônio, para acalmar o amigo do aparente sentimento de culpa, comentou:
- Compadre, será que isto é problema da idade?
- Idade! O que tem a idade a ver com isto, compadre?
- Agora que você contou isto, eu me lembrei de uma história que alguém contou lá na fábrica. “Um homem, mais ou menos de nossa idade, começou a agir desta maneira, até que a mulher descobriu e morreu de desgosto”.
- É por isto que estou preocupado. Você já imaginou se a Firmina descobre e não entendesse, como seria a nossa vida daqui por diante?
Sem imaginar as consequências de sua confissão, Filogônio voltou a mencionar a idade como causa dos acontecidos.
- Compadre, eu acho que é problema da idade. Agente começa a sentir saudade da mocidade, da juventude, a relembrar os primeiros beijos, os primeiros abraços inconsequentes da mocidade e começa a sentir desejo de acariciar pele nova, carne nova e macia. Imagine, compadre, que depois que Deus levou a finada e eu fiquei sozinho com a Florinha. À noite quando terminamos o jantar, às vezes eu fico sentado, olhando ela retirar a louça, arrumar as coisas, como uma verdadeira dona de casa, acabo sentindo coisas como se ela não fosse minha filha.
- Não me diga, compadre! E você não acha isto uma coisa séria?
- É.
- Sabe que mesmo sendo uma coisa séria, isto me deixa mais conformado, pelo menos não é só comigo que está acontecendo e como já vou procurar tratamento sei que isto vai passar.
Eles chegaram e a conversa foi interrompida naquele ponto. Só que Fulgêncio tinha certeza absoluta que a afilhada havia contado a verdade à madrinha.
Os dois andaram pela chácara, deram ração as criações e depois foram colher frutas. Fulgêncio ia passando ao lado da piscina quando viu uma velha âncora no fundo. Ela estava apoiada no ponto mais profundo da piscina e próxima de um dos cantos. Ele parou e ficou olhando aquela peça. Qual seria a finalidade dela ali na piscina? Quanto pesaria? Depois de alguns minutos ali parado, ele olhou para o Filogônio, que estava um pouco afastado, tornou a olhar a âncora e falou para si mesmo.
- É o lugar ideal.
Enquanto o Filogônio colhia frutas, Fulgêcio abriu o registro de limpeza da piscina, desviou a água que escorria para dentro da mesma. Foi ao carro, pegou um alicate. Entrou na casa, arranjou um pedaço de arame grosso e voltou para a piscina. Ao sair da casa, Filogônio falou:
- Compadre, eu vou colocar estas laranjas no carro.
- Pode pôr, depois venha até aqui.
- Está bem.
Filogônio deixou as frutas no carro e foi atender o chamado. Quando chegou ao lado da piscina, falou admirado.
- O que houve? Ela estava cheia.
- Eu abri o registro.
Fulgêncio continuava com o alicate e o arame na mão e quando virou-se de frente para o outro, retirou o revólver que estava metido no cós da calça e apontando para o peito do Filogônio, falou:
- Filogônio, eu quero que saiba que a história que te contei não é verdadeira. Aquilo foi uma maneira de eu comfirmar o que a Florinha contou lá em casa.
- O que é isto, compadre?
- Compadre coisa nenhuma; fique sabendo que eu tenho uma afilhada, mas não tenho compadre. Depois do que tu fez com ela, deixou de ser meu compadre.
- Eu não fiz nada.
- Fez. Você mesmo confirmou e agora comece a tirar a roupa.
- Esp...
- Já disse. Tire a roupa ou reaja, defenda-se.
Filogônio morrendo de medo não via o homem a sua frente, era só o cano do revólver que ele via e sem coragem para reagir, começou a tirar as calças e ao mesmo tempo tentava convencer o outro.
- Deixe eu explicar.
- Não quero explicação, eu já sei de tudo. Tire logo esta roupa que é melhor para você. Tire tudo.
O homem estava tremendo como se estivesse com mal de PARKINSON e foi com dificuldade que conseguiu se desnudar.
- Assim está bom. Agora entre na piscina.
Filogônio ouviu o tiro e a ordem.
- Pare. Não tente de novo, porque se o fizer, vai morrer. Agora não atirarei para matar. Agora entre e vá até a âncora.
Fulgêncio foi andando devagar, com o revólver apontado para o criminoso da moral e quando estava bem ao lado dele, voltou a falar.
- Pegue este arame e o alicate.
Fulgêncio jogou a ferramenta ao lado da âncora e continuou falando.
- Sente-se na âncora. De frente para mim. Assim. Agora preste atenção no que vou dizer, se quiser sair vivo daqui. Para falar a verdade você não merece viver. Um homem que tem coragem de fazer o que fez com a própria filha, não merece viver. Se não fizer o que vou dizer, garanto que sai daqui direto para o cemitério.
Filogônio estava morrendo de medo e não tinha coragem para demonstrar qualquer gesto de defesa, estava sem ação e pela maneira que o compadre estava agindo, a melhor solução era obedecer se quisesse ter alguma chance de escapar daquela situação.
Fulgêncio, por seu lado, estava disposto a vingar a honra da afilhada violentada, a qualquer custo como prometera a mulher. Por isto foi ordenando.
- Dobre o arame ao meio. Agora coloque o saco dentro da volta do arame. O que está esperando? Ficou surdo?
- Compadre...
- Cale-se e obedeça. Assim. Agora dê uma volta com as pontas do arame. Mais. Pegue o alicate e aperte arame. Um pouco mais.
- Está doendo.
- Não me interessa se está doendo ou não. Agora passe o arame em volta da ponta da âncora. Passe o arame por cima deste saco imundo. Aperte bem. Use o alicate. Dê mais uma volta. Passando por cima. Assim. Aperte as pontas com o alicate.
Filogônio teve o maior susto quando ouviu o novo tiro, mas não pode se mover porque estava preso.
- Aperte este arame. Mais. Assim está bom. Agora jogue o alicate para mim.
Fulgêncio afastou-se da borda da piscina, fechou o registro de escoamento d’agua e depois voltou devagarinho para ver o que o preso estava fazendo na sua ausência.
Filogônio estava tentando, desesperadamente, abrir as pontas do arame com os dedos, com as unhas. Fulgêncio estava atrás do prisioneiro e vendo o desespero do homem, falou:
- Está aflito?
Filogônio levou um tremendo susto e parou a tentativa de libertação.
- Agora dá para imaginar qual foi a aflição da tua filha, quando você estava obrigando-a a ceder. Será que você pensou que ela ia permanecer ao teu lado, caladinha, sem contar a ninguém? Você não tem vergonha, mas ela tem. Pode ter certeza que ela não vai ficar desamparada depois que você desaparecer. Ela já está em minha casa e nós vamos dar todo o apoio que ela merece e que vai precisar para se recuperar da tragédia. Perder a mãe e logo em seguida ser violentada pelo próprio pai.
Fulgêncio entrou na piscina, encostou a lâmina de uma faca na garganta do prisioneiro e com o alicate deu mais um aperto no arame e depois cortou as pontas, deixando-as curtas para evitar que ele quebrasse o arame. Saiu da piscina, recuperou o curso d’agua que havia desviado e a piscina voltou a encher. Fulgêncio voltou para perto do preso e disse:
- Você ainda vai ter bastante tempo para se arrepender do que fez e para decidir o que quer. Morrer afogado ou ir embora para sempre.
Fulgêncio ainda ficou ao lado do preso por longo tempo, recriminando. Dizendo qual seria as consequências da permanência dele na cidade.
O vingador da honra da menina falava com o outro, como se tivesse certeza que ele ia preferir sair da piscina com vida a morrer afogado. Quando a água atingiu os peitos do pai impiedoso, Fulgêncio jogou um canivete ao lado dele e despediu-se dizendo:
- Fique com Deus e reze muito para que este arame enferruje rápido e quebre antes da piscina encher. Ou então...
Filogônio ouviu o ronco do motor do carro funcionando e depois foi se afastando, até que tudo ficou em silêncio. Água já estava atingindo o pescoço e nada dele conseguir abrir o nó do arame. A água continuava subindo e já estava atingindo a boca do fadado homem e o arame continuava resistindo a seus esforços. Alguns minutos mais tarde para respirar, Filogônio tinha que se esticar todo. Ele estava desesperado, porque o tempo tinha acabado, ou se livrava de uma vez daquela âncora ou morreria afogado. A respiração estava cada vez mais difícil. Nas últimas tentativas, bebia mais água do que conseguia ar.
Num último esforço pela sobrevivência, Filogônio mergulhou de vez e rapidamente consegui se libertar da velha âncora. Saiu da piscina quase morrendo de dor. Antes de recolher a roupa, ele retirou a mão que cobria o baixo ventre e viu o ferimento, a marca da sua própria irresponsabilidade.
Ninguém nunca ficou sabendo se foi por vergonha ou por medo que fez Filogônio acatar a sugestão do compadre, porque ele desapareceu no mundo e ninguém nunca mais teve notícias dele.
Fulgêncio tinha tanta certeza que não encontraria ninguém na chácara, que no dia seguinte foi para lá com toda a família, inclusive Florinha. Enquanto os outros retiravam os objetos que haviam levado, Fulgêncio foi até a piscina para ver se sua previsão se confirmara. Antes mesmo de chegar a borda da piscina, ele viu manchas de sangue em algumas folhas e falou para si mesmo.
- Filogônio é realmente um homem sem princípios, sem carater e inescrupuloso. Portanto de agora por diante precisarei ter cuidado com ele.
Fulgêncio chegou a borda da piscina e viu a velha âncora, que havia sido deslocada em alguns centímetros. Viu o arame que continuava enrolado nela e viu um ponto mais claro do que a velha peça de embarcação, que agora servia de ponto de apoio e fixação dos mergulhadores da piscina.
Fulgêncio nem se deu o trabalho de entrar na piscina naquela hora. Foi para junto dos outros, displicentemente, como se não tivesse acontecido nada. Só mais tarde, quando os familiares já estavam tomando banho, é que ele mergulhou, agarrou-se a âncora e quando voltou a tona estava com uma das mãos cheia, com a maior desfaçatez jogou o volume a uma certa distância.
Pouco tempo depois as galinhas estavam correndo atrás umas das outras com uma coisa no bico. Ninguém se preocupou em saber o que era aquilo.
Quem iria imaginar que o manjar das galinhas era os órgãos reprodutores de um homem, que haviam sido extirpados com pele e tudo, pelo próprio martirizado, afim de conserv
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