Coração de alma
Sylvia Abrahão
Corpo de barro,
coração de alma.
Assim que sou.
Muitos giros pelo espaço.
Muito tempo se passou.
A memória veio comigo,
lembro ainda de amigo,
de folguedos,
dos brinquedos,
de peteca,
de boneca,
de doce,
como se fosse
acabado de fazer...,
da pipa,
da pipoca,
do pião,
do correr no alazão,
da bolinha de vidro
correndo pelo chão,
do pique salvar,
do brincar de achar,
da lagoa de nadar,
das lágrimas das surras,
da expressão triste do castigo,
da fruta furtada no pomar,
do grito da mãe:
- vem almoçar..
- é hora de banhar...
- vem estudar...
ainda me lembro da bola de jogar,
presa pelo vizinho, só para castigar,
pela vidraça que quebrou.
Se tentar, posso lembrar:
do meu amor pela vida...,
e da minha mãe, na lágrima sentida
da despedida:
..."Vai com Deus meu filho."
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