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Humor-->O LIMÃO TRANSGÊNICO -- 23/10/2006 - 11:42 (ANTONIO LUIZ MACÊDO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
LIMÃO TRANSGÊNICO
Antonio Luiz Macêdo

Seu Ocride era canavieiro e fruticultor famoso do sertão central do Ceará. Prosista de primeira linha, sempre trazia uma estória na ponta da língua. Alegre e acolhedor por natureza, tratava a todos quantos o procurassem com a mesma estima e consideração. Em suma: era um bom homem.
Nestes últimos dias andava cabisbaixo, meio fechado, triste... Acabrunhado. É a palavra certa: acabrunhado. Dona Hermelina percebeu.
-Que é isso Ocride, tu não é assim! Venho reparando teu comportamento desde ternontonte... Tu anda mei jururu. Conta logo!
-Né nada não, Hermelina. É só bestêra.
-Se fosse bestêra tu num tava assim. Diz logo! Conta!
-Foi as lagarta que acabaro os limoêral. Deixaro tudo peladim, peladim.
-Só purisso tu tá triste? Larga disso. Só num tem jeito pra morte.
Era tempo de moagem. O velho engenho ganhava vida. Caldo de cana, mel, alfinim, rapadura, batida, tachos, lenha, fogo, bagaço de cana, gente que ia e que vinha, cambiteiros, cheiro gostoso, apito indicando as horas das refeições... Era uma festa. Engenho grande! Três turnos de trabalho. Fonte de renda certa no período para os moradores da região.
Nem esta alegria fôra capaz de tocar a tristeza de seu Ocride. De vez em quando se pegava falando sozinho:
- Meus limoeiro... Um dia eu acabo cum a peste dessas lagarta. Eu juro qui eu acabo
Muito devoto do padre Cícero, certa noite pediu a graça de sonhar com alguma coisa que lhe desse a direção certa no cultivo dos limoeiros. Dormiu. Ao acordar sua fisionomia estava transformada. Levantou-se e correu gritando:
- Hermelina! Hermelina! Meu padim Ciço me atendeu. Eu sabia qui ele ia me atendê.
- E o que foi que ele dixe?
- Ele dixe preu fazê uma isperiença. É segredo só pra nóis dois. Oi lá! É segredo!
E passou a narrar o experimento. Hermelina arregalou os olhos e comentou:
- Tu acha mermo qui isso vai dá certo?!
Seu Ocride retirou-se sem resposta, dirigindo-se ao ex-limoeiral. Destruiu todo aquele hectare de plantas semi-mortas.Escolheu apenas um dos limoeiros para iniciar a experiência. Tudo planejado...
Todos os dias de madrugada, sem que ninguém o visse, seu Ocride transportava um balde de caldo de cana para regar o limoeiro. A seqüência interminável de dias causava um grande desgaste pela expectativa gerada no seu coração. Mesmo assim continuava o trabalho.
Após vários dias de percurso do engenho até o limoeiro, viu as primeiras folhas renascerem. Era um bom sinal.
Mais outro período de tempo e o limoeiro floresceu... Em alguns meses surgiram os primeiros frutos.
- Eu sabia, eu sabia! – seu Ocride era todo contentamento.
Hermelina veio à sua procura. Estava ansiosa também. Todos os dias era posta a par dos acontecimentos e do desenvolvimento daquela experiência inspirada do céu.
- E aí Ocride, já cortou algum limão?
- Tava esperando você.
Tomou a faca que carregava sempre à cintura, desembainhou-a, e com a outra mão pegou um limão. Seu coração disparava. Os olhos da mulher, fixados. Olhou a faca, olhou pro limão e... vapt! Levou até a boca uma banda e entregou a outra a Hermelina. De repente um grito só:
- Milagre! Milagre! Milagre!
Correram até o engenho – Ocride à frente e a mulhar atrás.
- O milagre aconteceu! O milagre aconteceu. Viva meu padim Ciço. Viva meu padim.
O pessoal se aproximava, fazia roda. A quantidade de pessoas foi aumentando, aumentando... De repente quase que todo o engenho estava ali. Mas ninguém entendia nada. Do meio da multidão surge a vos de seu Ocride.
- Meus limoeiro tava tudo morrendo pru causa das lagarta. Então eu fiz um pidido a meu padim. Quando drumi sonhei que ele se achegava junto de mim e dizia pra eu regar o limoeiro com garapa. Fiz Cuma ele mandou e ta aqui o resurtado.
- Cumpade Horáço, provaqui desse limão.
O cumpade provou do limão oferecido e ajuntou:
- É doce cumo mel! Cumé qui pode? Limão doce?! E o cumpade Ocride já ispiô as semente? Não?! É semente de rapadura. E se prantá nasce cana pra fazê garapa e pra regar muito limuêro puraí. O cumpade vai ficá rico.
- É cumpade Horaço, eu num sabia que garapa de cana fizesse limão... - cuma é que se diz mermo?
Meste Afonso gritou:
- Transgênico. Limão transgênico!
Seu Ocride complementou:
- Cum semente de rapadura. Ainda vai?
O limoeiro está lá pra quem quiser ver. Seu Ocride só não vende as sementes de rapadura.

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