São 500 anos de contrastes, entre ricos e pobres, feios e bonitos, patriotas e traidores. De nome emprestou Brasil, de uma árvore já quase extinta, mas que teima em permanecer. De idioma, o português, em meio a tantos vizinhos "muchachos". De Deus, recebeu um mar generoso, piscoso e infinito.
Brasil, país das irreverências, nosso "país do futuro" e da "terra abençoada por Deus".
Há tanto a se lamentar, mas também há muito que comemorar. Se sofremos o desmatamento, a exploração, a incredulidade e a escravidão, podemos comemorar a Amazônia verde, o ouro de nossa terra, nossa religiosidade e nossa negritude. Comemoremos os mulatos, loiros, ruivos, morenos, amarelos e vermelhos. Nossos mestiços e nossa hospitalidade a todos os povos.
Nossas cores cantadas por Di Cavalcanti, Volpi, Pedro Américo e tantos outros pincéis. Nossas palavras pintadas por Castro Alves, Drummond, Guimarães Rosa, Jorge Amado, Vinícius, Lobato e uma multidão de outros tantos. E cantemos junto com Jobim, Villa-Lobos, Chico Buarque, Carlos Gomes, Cartola, Pixinguinha e tantos outros heróis nacionais.
A grandeza de nossas cidades que, mesmo mal-governadas, nos brindam com a beleza de suas praias, suas ruas, seus monumentos e museus, sua fauna e flora. E, sobretudo, brindemos aos nossos sotaques, que atravessam nossa pátria em todos os quadrantes.
A beleza do Rio de Janeiro, passando pelo Cristo e chegando às favelas. A impaciência dos paulistas, que amanhecem trabalhando. Do chimarrão à pororoca, o Brasil é feito de emoção e de trabalho. Das maresias às fumaças das chaminés e dos automóveis. Se lamentamos também louvamos.
Da revolução ao grito das "diretas já". Do descobrimento à independência. País dos gritos de "gol", dos murmúrios das greves e dos ritmos do carnaval.
Brasil, terra atemporal. Teu grito forte, bravo e retumbante vai ecoar pelos quatro cantos do mundo; e até nos quintos dos infernos.
Brasil, que nasceu na ignorância simples dos nossos índios; e que caminha a passos lentos, mas seguros, à mais plena liberdade.
Brasil do café, do açúcar e da borracha, que hoje caminha pelas estradas virtuais da Internet. Dos engenhos onde brotavam canaviais aos negros poços que escondeste no fundo do mar. Terra que abriga crianças sem nome e sem letras; que traz bravos cientistas entre as paredes dos laboratórios mal-equipados das universidades. Nação que se projeta no planeta com o suor de mentes brilhantes e músculos campeões. De Ruy Barbosa a Pelé, nós brindamos o mundo com tesouros que cruzaram todas as matizes do talento humano.
Se nos deste ditaduras e "impeachment", também nos abençoaste com um Tiradentes heróico. Se penetraste nos porões da corrupção e da iniqüidade, foste fértil em nos povoar com uma gente anônima e não menos heróica.
Pois esse mesmo povo oprimido nas filas, nas ruas, favelas, é o mesmo que ergue medalhas olímpicas nos estádios e no dia-a-dia dos lares.
Brasil, que lavas tua roupa suja nas janelas do mundo, ergue o véu das tuas belezas a todas as nações. Brasil que ainda aprende a ver-se belo.
Brasil de 500 anos, mas ainda tão jovem. Que forja nas escolas paupérrimas e nos colégios luxuosos a geração que prepara o teu futuro.
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