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Cronicas-->Tempos antigos versus tempos modernos -- 18/09/2009 - 15:16 (LUIZ ROBERTO TURATTI) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




Tempos antigos versus tempos modernos


Alcyr Matthiesen

A Segunda Grande Guerra havia terminado, mas as consequências ficaram. Tudo era muito pobre em Araras e no mundo. O trigo importado chegava em pequenas cotas e o pão não era de trigo puro, sendo necessário sua mistura com fécula de mandioca. Faltava óleo na cozinha e as donas de casa tinham de enfrentar longas filas na antiga Prefeitura, hoje Solar Quicha Lotto, levando os filhos para comprovar o tamanho da família, a fim de obter uma lata do produto frente à crise mundial. Gasolina era controlada a cada litro que vendiam, sendo necessário o uso de gasogênio nos automóveis, que adaptavam dois tambores na parte traseira e não rodavam mais de dez quilómetros por hora. A energia elétrica era escassa e havia queda na força várias vezes a cada hora. Não havia fornos microondas, poucos tinham ferro elétrico, os rádios de válvulas saíam fora do ar a todo momento e o Cine Santa Helena exibia filmes que se arrebentavam ou queimavam com os apagões. O número de automóveis era pequeno e todos importados, contudo, o número de carroças e montarias era maior que o dos nossos dias. Motocicletas eram raríssimas, pois hão havia fábricas nacionais, mas as bicicletas era em maior número em relação aos dias atuais, para os que dependiam desse veículo para locomover-se ao trabalho. Mas, com a chegada da década seguinte, a Lambretta italiana veio suprir tal necessidade - sobretudo, para os que tinham melhor poder aquisitivo. Festas em família somente nos aniversários dos primos e em fins de anos. Mesmo assim os Papais Noéis da Casa Zurita e São Jorge limitavam-se a entregar apenas um presente para cada criança, quando o pai conseguia adquiri-lo com muita economia. O plástico ainda não havia chegado, mas folhas de flandres, celulóide e papel machê eram os materiais básicos para a produção de carrinhos, trenzinhos, bonecas e cavalinhos-de-pau.


Quando entrei no Grupo Escolar Justiniano em 1946, um ano mais tarde, em relação à idade escolar padrão, tudo em meu mundo de criança que parecia branco e preto ficou colorido: a primeira professora, os novos colegas, o uniforme obrigatório com calça curta azul-marinho, camisa branca, meias soquete e lancheirinha a tiracolo. A cartilha chamava-se Caminho Suave, havia um caderno de caligrafia, um para desenho e o de lições era chamado Avante, que tinha uma capa colorida com escoteiros na frente e o Hino Nacional no verso. Caneta esferográfica não existia e a professora pedia para as mães comprarem pena de caneta modelo mosquitinho. A tinta para escrever era colocada em tinteiros fixos nas carteiras. Para lições de casa, lápis n.º 2 e comprava-se na Livraria Brasil ou na Odeon tinta em vidros de 30 ml. Quando o Seu António badalava um sino de bronze era o sinal para entrar numa fila de dirigir-se até a sala de aula junto à professora. Todos sentavam-se somente quando ela dava ordens.

Na frente da sala, um quadro-negro enorme (era negro mesmo, não como os de hoje, que são verde-oliva ou brancos). Raramente era usado giz colorido, mas lembro-me de um recurso audiovisual que até hoje ficou na minha memória: um álbum seriado com estampas coloridas em cartolina onde a professora folheava e pedia uma descrição. A disciplina era rígida e certos professores chegavam mesmo a bater no aluno nos casos de indisciplina. Quando o aluno não ia bem, a professora chamava a mãe e comentava o aproveitamento escolar, muitas vezes sugerindo que o filho tomasse umas aulas particulares. Eu mesmo tive algumas dessas aulas com a profª. Judith Ferrão Legaspe e, mais tarde com o prof. Padovani, que também preparava o aluno para o Exame de Admissão ao Ginásio (atual 5.ª série). Não havia DVD, videocassete, retroprojetor, slides e muito menos computador, mas a gente curtia cada imagem como se fosse a última novidade em imagem. Lembro-me de um cartaz onde um índio botocudo deitado de costas, segurava o arco com os pés apontando a flecha para aves voando. Os meninos estudavam de manhã e as meninas à tarde, mas eram os mestres que também davam aulas de ginástica e formavam grupos para jogar bola. No fim do ano havia uma exposição de trabalhos manuais e chegava-se mesmo a montar um presépio com a aproximação das férias às vésperas das festas de fim de ano. Quase não se compravam livros, todavia, emprestava-os da Biblioteca Municipal recém-criada no pavilhão direito do Coronel Justiniano.

Os anos vieram e tudo mudou; quem cursava o Ginásio tinha novas disciplinas: aritmética, português, história, geografia, francês, latim, inglês, ciências, trabalhos manuais, economia doméstica, desenho geométrico, canto orfeónico etc.

Hoje, minha netinha de seis anos, cursando a 1.ª série do Ensino Fundamental procurou-me e pediu: "Vó, eu tenho que fazer um trabalho na escola sobre dinossauros. Já aprendi o nome dos carnívoros e, agora, a professora quer uma foto de herbívoros. O pterossauro eu já aprendi, pois o senhor sabia que eles voavam? Agora eu preciso da figura de um brontossauro".

E, para encerrar, vem a outra de cinco anos pedindo: − O senhor tem uma figura de animais do Pólo Sul? Não pode ser urso polar, porque eles ficam no Pólo Norte. Precisa ser fotos de pinguins e leão-marinho! O senhor tem?

Bem... muita coisa mudou em 60 anos! A era digital teve início em 1990 e o tempo correu rápido demais. Como será daqui a 20 ou 30 anos?

Alcyr Matthiesen é biólogo, professor universitário aposentado e historiador de Araras, nossa cidade natal.

Fonte: OPINIÃO JORNAL, Araras (SP), Sexta-feira, 18/09/2009, Página 2A.


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"Fora da VERDADE não existe CARIDADE nem, muito menos, SALVAÇÃO!"

LUIZ ROBERTO TURATTI.



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