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Cronicas-->1988 - Qué tabule -- 14/09/2009 - 14:55 (Jairo de A. Costa Jr.) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Fui ali na padóka Santa Isabel tomar um lanche, pão, mortadela, queijo, na chapa, café expresso com leite, bem preparados. Estava bom, exceto por estar sozinho sentado ao balcão. Nesta padóka tem um sistema de senhas, parecido com aqueles de laboratório, você puxa um número e fica olhando num painel até ser chamado. Uma aparente algazarra tomou conta do ambiente com a chegada de várias meninas-moças, das empresas das redondezas, cada uma pegou sua senha e juntas foram espiar o cardápio e assuntar sobre o que comer. Não as percebi mais, meu lanche chegou e comecei a pensar nos almoços de antanho, aqueles que, no ato, não damos bola, mas, depois nos lembramos e com certa saudade.
Foram vários, inúmeros, quem sabe incontáveis, mas, alguns deles ficaram marcados pelo inusitado e pelo nada a ver dos acontecimentos, engraçado, almocei com tanta gente, amizade, negócios, festivos, teretete, coisa e loisa. Fui do menos ruim ao mais do bom, do simples ao esnobe, várias cidades e estados, rápido e lento, com papo e sem papo, alguns, até com dor de estómago.
Em janeiro de mil novecentos e oitenta e oito entrei na Votorantim, bem na Praça Ramos, com todo aquele centro de cidade para explorar, todos aqueles restaurantes e, bem, lá, almoço jurídico era meio difícil, pelo horário e outros. Então, nós mesmos cuidávamos de nós, se os vales não dessem, tínhamos que por as mãos no bolso. Parte de uma leva de mudanças, a empresa quis trocar todo o departamento, os grupos começaram a ser formados. Entrou em fevereiro o Paulo, lá do abecê, cabelão, cheio de salamaleques, sempre ajeitando o cabelo, punha as mãos no pescoço e dava uma afofada. Conversa mole das boas, sorrisão e com muita arte para pedir ajuda, você sem perceber fazia o que era dele. Ele sorrindo. Ficamos no grupo do almoço e nas voltas pelas ruas Barão e Sete de Abril.
Jairão, vamos lá no Árabe hoje, chama o Carlão e aí, Cruzado, quer ir. Quero. Assim o Paulo, nessa altura já apelidado de Tigrinho, convocou o almoço e ainda cheio de ginga, nada de estresse, liderou a saída, pela Vinte e Quatro de Maio, sobe a Dom José, direita na Sete de Abril e chegamos. Sentamos e pedimos, charutinho, quibe, arroz assim, não-sei-o-que assado e o tabule. Tudo uma maravilha, o Tigrinho só ronronando. Chegaram os pratos...
Lado a lado, eu e o Paulo, em frente Carlão e Cruzado, começamos a nos servir, o Paulo - o Tigrinho pegou a tigela de tabule e deu uma demorada para se servir, assim meio, ficou segurando e não tirava, nunca soube o porque. E eu, sem saber o porquê também, pedi - passe aí o tabule... estão sentados... não é que o Paulo - o Tigrinho, aquele ser humano fofinho, uma jóia de pessoa, começou a bufar e a cafungar, olhou prá mim e alto - qué tabule, mais alto - quéé tabulleee, gritando - Quéé´Taaabbuullleeee. Jogou a metade da vasilha no meu prato e na mesa em redor. Qué tabule, toma aí o tabule. Agora come, pó...
A coisa ficou turva por instantes - o qué tabule impregnou o ar. Ainda bem que fiquei quieto ou melhor, travei, não reagi. O Cruzado e o Carlão me olharam, se entreolharam. Mais quietos ficaram. Jamais suscitaram aquele tabule. O Paulo - o Tigrinho, não sei, pois não mais o olhei. Cada um baixou os olhos e comeu. Eu, aquele monte de tabule me olhando. Dei umas mordidas e só. Fomos embora.
Toca o telefone - O meu, desculpa aí, num sei o que me deu. Levantei os olhos à voz, lá na direita do salão, era o Tigrinho, querendo me convencer da normalidade. - Vai, desculpa aí... Sorri, deixa prá lá. Eu deixei. Depois desse dia, o nosso chefe soube e deu um jeito no Paulo, nunca mais o vi. Deu um jeito por outras razões.
Mas, o "Qué Tabule" nunca mais me largou, evidente que a história andou, eu também contei prá muitos e o tal fato virou uma historinha da carochinha. Às vezes, eu conto e começo - Era uma vez... Sabe, não me magoei nadinha com o fato, acho que nunca o entendi ou não percebi o lado avesso do menino. Sei que, talvez pelo inusitado, marcou e permaneceu. Tenho almoçado ultimamente mais com os meus sócios, vez ou outra com a Iriana. Todos sabedores da história, hoje mais uma lenda. Às vezes, brincamos - qué tabule, ou qué salada, ou qué... alguma coisa e damos risadas. Que coisa não, o que não faz um tabule.
Qué Tabule...
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