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Contos-->A LUZ DOS MEUS OLHOS -- 31/07/2001 - 20:08 (Luiz Carlos Amorim) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Naquela tarde de verão, de sol, cores e brilhos, eu estava sozinho na praia de Enseada. Depois de um mergulho naquela água tépida, saí a caminhar pela areia, para ver se achava algum amigo mais chegado ou, quem sabe, para conhecer alguém. Nossas praias catarinas têm mulheres lindíssimas e há que admirá-las. Mas quem me chamou a atenção, mesmo, foi uma garota muito bonita a alguma distância da beira do mar, separada de todos, sentada numa cadeira, imóvel. Estava de óculos e parecia alheia ao que acontecia ao seu redor. Aproximei-me. Como não a conhecia, puxei conversa com aquele clichê já tão batido:
- Lindo dia, não? O que está achando da praia?
Ela não respondeu e também não se voltou.
- Desculpe incomodá-la, mas estava tão só que me permiti aproximar-me...
- Não faz mal, eu gosto de ter alguém com quem falar. Como está a praia? Há muita gente?
Então percebi: ela era cega. Fiquei chocado, mas não quis que percebesse.
- A praia está cheia, o mar está lindo. Com quem você veio?
- Vim com meus irmãos. Eles me trouxeram para não me deixar em casa, sozinha. Mas como não posso entrar na água...
- Sei que não devia falar nisso, mas... é congênito ou aconteceu algum acidente que lhe tirou a vista?
- Não, não é congênito. Há uns nove anos, sofri um acidente que inutilizou meus olhos e... Eu era garota, ainda. Mas tenho esperanças de voltar a enxergar, sabe? Estou inscrita no Banco de Olhos e espero chegar a minha vez em breve.
Achei que ela talvez não gostasse de falar daquilo.
- Nós já quase nos conhecemos e ainda não nos apresentamos. Meu nome é Carlos. E o seu?
- Estela. E é um prazer conhece-lo. Gosto de conversar e você parece bem falante.
- É, sou falador até demais. Você é daqui mesmo, de São Francisco do Sul?
- Sou. Estive fora vários anos, procurando saber o que poderia fazer para recuperar a visão. Voltei recentemente. Sei que a cidade tem mudado bastante, nesses últimos anos. Espero, em breve, poder vê-la como está agora,
- É verdade, há algumas mudanças. São Francisco do Sul estacionou, acho até que regrediu, depois de uma época cultural e comercial muito ativa. Mas o progresso chegou com força total: novas indústrias estão se instalando, o comércio está evoluindo, o movimento do porto aumentou, mas praias foram urbanizadas. O que você lembra das últimas coisas que viu?
- Muito pouco. Eu tinha apenas dez anos, quando perdi a vista. Lembro o porto, as praias, o centro da cidade com a Igreja Matriz, a estação ferroviária, parecida com uma igreja...
- Pois ouça: a área do porto está totalmente diferente. Você deve ter ouvido que o cais foi ampliado e ao seu lado foram construídos grandes armazéns e instalada uma grande indústria de óleo de soja. As praias estão, muitas delas, com as suas ruas asfaltadas, com toda a infra-estrutura e bem mais povoadas. Como esta aqui, a Enseada, que há algum tempo recebeu o terminal da Petrobrás. A estação ferroviária e a igreja matriz foram restauradas, assim como também o Mercado Municipal, que voltou a funcionar. Ainda não foram construídos arranha-céus, pelo menos no centro da cidade, que foi tombada como Patrimônio cultural.
- Quando eu voltar a ver, você bem que podia me acompanhar para ver todas essas mudanças, não é? Parece tão entusiasmado... Deve gostar muito daqui...
- Gosto, sim. E faço questão de mostrar-lhe tudo.
Tornamo-nos amigos e voltamos a nos encontrar. Meus olhos passaram a ser também os de Estela.
- O tempo passou e a amizade tornou-se mais do que isso. Estela não foi chamada pelo Banco de Olhos da cidade vizinha. Decidi, então, que eu cederia um de meus olhos a ela. Afinal, eu tinha dois e poderia muito bem enxergar com apenas um. Contatei o Banco de Olhos e encontrei resistência para fazer isso, mas cumpri todas as exigências legais para que fosse feito. Tudo estava encaminhado, mas não quis que se contasse a Estela que o doador seria eu. Dissemos-lhe, apenas, que o Banco de Olhos finalmente a chamara, que havia a possibilidade de que ela voltasse a ver. Ela foi preparada e o grande dia chegou.
Depois da cirurgia, passados alguns dias, ao retirar as ataduras, não queria que ela me visse de imediato. Mas não resisti. Acabei ficando na sala e presenciei toda a emoção e deslumbramento de Estela ao ver a luz novamente. E vendo as ataduras no lado esquerdo do meu rosto, entendeu.
- Obrigado, amor, pela luz dos seus olhos...



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