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cronicas-->Os gestos simples -- 08/09/2009 - 17:28 (paulino vergetti neto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Os gestos simples



Há mágoas que nos trazem bem! Não há melhor escola do que a vida - depreendida em seus pormenores cotidiànicos. O homem constrói sua biografia instante por instante, e o mundo apenas aprecia ileso os desejos humanos virarem fantasias e realidades. Quando um homem envelhece, ele passa a nutrir-se com as gorduras guardadas - bem acumuladas - de sua sabedoria hibernante. Eu sofro no àmago da alma quando vejo uma criança morrer por qualquer causa de morte. Houve aí um desserviço da vida.
Há gestos simples que alguém pode fazer e faz, vez em quando, que me alimentam a curiosidade na busca dos porquês motivadores de tais atos. Recentemente eu estava responsável por um plantão noturno em um hospital de uma cidade interiorana de Alagoas e presenciei um desses atos simplórios, mas pleno de sabedoria, talvez inexplicável ao olho humano comum. Estávamos próximos da madrugada de um sábado. Ouvi um alvoroço. Eu estava terminando de tecer um poema surreal. Parei com a atividade laboriosa e fui ver do que se tratava. Uma senhora de meia idade corria no corredor do hospital com uma criancinha nos braços. Quando o meu olhar encontrou o olhar dela, ouvi da mesma a seguinte indagação: "doutor, ele vai sobreviver?" Retirei a criança dos braços dela, deitei o pequenino corpo na maca e pude perceber logo que ali estava apenas o corpo. O sopro álmico já havia se distanciado dele. A morte era e estava presencial. Procedi com as manobras providenciais nesses casos, mais por um ato de respeito àquela mãe do que mesmo às exigências técnicas profissionais. Fi-lo completando-me de algo manso e firme que morava voluntariamente em minha alma. Para aquela mulher, tentar qualquer procedimento ressuscitatório no seu filho era um facho de esperança viva.
Mas eu volto agora ao que sinalizei no início desta crónica - os atos simples que impressionam nossas retinas várias vezes na vida. Acho que uns trinta minutos após a chegada da mãe e o corpo do seu filho de um ano, já estando a sala de emergência na penumbra e a mãe sentada a rezar na única cadeira da saleta, eis que uma técnica de enfermagem de meia idade, chamada Anunciada, após higienizar suas mãos, dirigiu-se ao corpinho daquele anjo morto, frio da vida dos comuns, deu-lhe um beijo na fronte e balbuciou algumas palavras em seu ouvido. Confesso que me emocionei ao ver aquele gesto tão lindo. Perguntei-lhe se tinha filhos ainda menores, ao que pude ouvir dela: "Nunca os pude ter. Meus filhos são os que me chegam aos plantões como este". Eu a olhei no profundo da alma e disse de mim para mais dentro de mim ainda: meu Deus, por que esta mulher tão doce não póde ser uma santa mãe? A resposta foi-me dada imediatamente: a vida parece mesmo ensinar aos doces o gosto da amargura e aos insensíveis a dor que a incompreensão pode ofertar.
Continuei a enxergar até o pór do sol nas outras faces que atendi, que a vida é mesmo esse moto contínuo, cheia de novidades áulicas. Cabe aos mais sábios traduzir o que veem, transformando as coisas boas em coisas melhores. Um beijo pode ser a tradução de uma distinta santidade comum aos incomuns.
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