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Contos-->O TELEFONE -- 30/07/2001 - 17:50 (Carlos Higgie) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



O TELEFONE

Cada vez que passávamos por aquele pequeno comércio, Leandro ficava totalmente excitado. Mais ainda: maravilhado. Colava sua carinha travessa, repentinamente séria e absorta, no vidro sujo e, com expressão profunda e perdida, se deleitava olhando o telefone.
Eliana e eu, sempre com pressa, sempre preocupados com algo, sempre atrasados para algum compromisso, tratávamos de tirá-lo dali. Ele não chorava, porém seus olhos acompanhavam, enquanto nos afastávamos, o objeto que mexia com sua imaginação.
Era um aparelho aparentemente antigo. Branco marfim, com letras e números dourados. Um pouco maior que os usuais, dava a impressão de ser muito valioso.
Todos os dias a mesma estória. Quando íamos ao supermercado, à praça, ou simplesmente no ponto do ônibus, o menino escapava de nossos braços, de nossas mãos e apertava seu rosto, surpreendentemente adulto, contra a vitrine. O telefone o atraía. Era uma atração irresistível. Certa tarde, quando voltávamos do Correio, uma chuva intempestiva nos surpreendeu. Nos refugiamos embaixo da marquise da lojinha. O menino, como sempre, dirigiu-se para a vitrine. Chovia torrencialmente, caiam litros e litros d’água, em vez das tradicionais gotas. Decidi entrar e perguntar, por simples curiosidade, o preço do telefone. Custava muito menos do que eu imaginava.
Compramos o telefone. Era realmente interessante. Cativante. Parecia verdadeiro, pelo peso e pelos detalhes . Quando se discava produzia um som metálico, seco e prolongado. Aproximando o fone ao ouvido se escutava como som de ondas, vento forte o descarga de estática. Até eu me entusiasmei com o brinquedo.
Leandro mudou. Passava todo o dia discando e escutando. Discava e escutava. Parecia que buscava alguma coisa, que esperava algo. Os brinquedos ficaram abandonados no quartinho, a televisão dormia escura e silenciosa: o menino havia se desinteressado dos desenhos animados e dos programas infantis.
Discava e escutava. Ás vezes esboçava um tímido sorriso como se houvesse encontrado algo, depois ficava sério e absorto.
Nada disso me preocupou a princípio. Cada vez que o presenteávamos com algum brinquedo novo, se apegava a ele e o aproveitava ao máximo, até que se aborrecia e o deixava de lado. Com o telefone aconteceria o mesmo. Depois do encontro inicial o deixaria de lado e voltaria a sua vida normal, ambicionando outro objeto ou mergulhando nos desenhos animados.
Passavam-se os dias e ele preocupava-se cada vez mais em discar e escutar. Os dedinhos finos e brancos perdiam-se no marfim do telefone, enquanto discava com certa ansiedade. Seus olhares, que às vezes pareciam iluminarem-se, perdiam-se numa distância que ia muito além da parede da sala.
Uma madrugada acordei assustado. Escutei várias vezes o som penetrante do telefone de Leandro. Levantei e fui a seu quarto. O encontrei sentado na cama, com o aparelho entre as pernas, muito atento, conversando com um interlocutor imaginário, respondendo à perguntas que eu não escutava. Estava tão surpreso que o deixei ali, dono de seu mundo, e voltei para minha cama. Temi por sua saúde mental. Era tão pequeno e frágil que me dava medo vê-lo absorvido de tal maneira. Pensei em acordar minha mulher e conversar com ela. Perdi-me em pensamentos assustadores. Finalmente o sono me venceu.
Tive terríveis pesadelos. Acordei com os gritos de Eliana. O telefone havia desaparecido. E o menino também.
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