Quanto a mim,
Lembro-me pouco
alguns avos,
retratos, vestidos rococo...
O que sei sao relatos
imagens de imagem,
fatos mascados e remascados
feito tabaco antigo
em muitas bocas
de puro, tenho essas visoes esporadicas
essas visoes ludicas
tiradas sabe-se la de que poroes,
baus, almas.
Me sinto meio culpado de invadir tantas vidas,
mas como impedi-las de invadir a minha?
O que me chega cortado,
foram vidas compactas,
paixoes, tristezas,
raiva, alegria,
frio...
nao este frio sensitivo,
este pobre frio de epidermes,
mas o frio despido de adjetivos,
unico.
( por vezes penso quantos e quantos
desses rostos, hoje inanimados,
nao fizeram pose para essas fotos
escuras, acidas, tao animadas
que chegam a ocupar os corredores)
Os jardins,
os morros,
a casa.
A casa tao limpa e tao enorme
parece engolir minha criança tao exposta
- tera engolido a deles?
por isso entao esse ar adulto
nas alcovas, nas salas, nas mesas...
A resposta estara nos espelhos,
ou na memoria que eles avivam?
- Maria ve Maria cem anos depois -
E os jogos?
Onde estao os jogos de cartas,
de xadrez, de aproximaçao?
guardados em que gaveta, comodo,
se ainda existem tantos risos na parede (?)
- Algum dia , inadvertidamente,
entrarei em um dialogo apaixonado,
desses muitos que pairam sobre nossas cabeças -
Ah! esses meus fantasmas,
tao hoje,
que chego a conjuga-los
no presente.
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