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Contos-->AMIGOS, AMIGOS... -- 28/07/2001 - 15:41 (Luiz Carlos Amorim) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Diana era pequena, de nenhuma raça definida, bem vira-lata. Mas tinha graça. Era toda marron, tinha pelos espessos e não parava um segundo, a não ser quando lhe ofereciam comida ou carinho.
Era a mascote e a companhia de “seu” Fritz e de dona Hilda, casal já com alguma idade nas costas, ainda que fortes e trabalhadores. Diana ajudava a afastar a solidão e a saudade do campo dos dois.
Eles moravam na cidade, agora, porque o “seu” Fritz, apesar de forte, sofria do coração e não podia mais trabalhar no pesado. Tiveram que abandonar o campo, a roça, a criação de gado, porcos e aves, para viver na cidade. Não gostavam, mas tinham que obedecer as ordens médicas:
- O senhor não pode mais fazer tanto esforço. O trabalho do campo é muito puxado e o senhor precisa se cuidar.
A casa da cidade era confortável: branca e espaçosa, fazia-se cercada de canteiros, onde os dois podiam matar as saudades da roça, fazendo a sua horta e o seu jardim, os mais bonitos e viçosos do bairro.
O portão, de grades de ferro, dava aos velhinhos alguma sensação de prisão.
- Aqui na cidade a gente precisa de muro, de portão, de grades nas janelas... No sítio, não precisava de nada disso – respondia o “seu” Fritz, quando alguém comentava o capricho no cuidado da casa.
E foi por causa do portão de ferro que eu vim a conhecer Diana. Apesar de pequena, ela não passava pelas suas frestas. O espaço do quintal não era suficiente para a cadelinha: queria sair, correr pela rua, latir para os poucos carros que passavam em frente à casa, para o carteiro e para as crianças. Quando o portão se abria, por qualquer razão, záz! – lá ia Diana rua afora.
Para chamá-la, “seu” Fritz assobiava, o que depois de algum tempo já não funcionava mais. Um dia, ouvi os assobios insistentes do Alemão, como nós, da vizinhança, o chamávamos. Depois de cessados os assobios, um estrondo, seguido dos latidos assustados de Diana e do riso do Alemão.
Ele sabia que Diana tinha medo de trovão ou do estouro das bombinhas dos dias de festa ou de jogo de futebol. Então, soltava uma bombinha e não demorava um minuto para que a cadelinha aparecesse, espavorida, querendo entrar, tentando passar, sem sucesso, pelo espaço apertado entre uma barra de ferro e outra do portão.
“Seu” Fritz ria, abria o portão e passava-lhe uma descompostura.
- Se você viesse quando eu a chamei, não precisaria ter tanto medo – ria mais e depois fazia-lhe um carinho.
A despeito da atitude um tanto radical do Alemão, Diana não se emendava e a cena se repetia.
Até que “seu” Fritz teve problemas com o coração, foi para o hospital e voltou apenas para ser velado. Além de dona Hilda, quem mais sentia a morte do velho era Diana. Gania pelos cantos, rondava a porta da sala e chegou a entrar, choramingando ao pé do caixão, mas alguém a enxotou.
Diana nunca mais foi a mesma. Não ouvi mais seu latido alegre ou assustado, não a vi mais correr em disparada pela rua, não ficou mais entalada no portão. Talvez porque não houvesse mais o assobio para chamá-la, ou mesmo o estrondo da bombinha, a bronca do amigo e o carinho depois...



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