Está escurecendo. Já passam das seis horas (dezoito...) e estou no meu posto.
Sozinho, naturalmente.
Há poucos minutos fui obrigado a dar uma carreira num guri, que cismou de fazer caretas para mim.
Bem, o que levou-me a fazer novos apontamentos, hoje, foi uma criança, menina, de aproximadamente, quatro anos de idade.
Estavam, ela e uma companheira um pouco mais velha, a pularem dentro da valeta. Aproximei-me, tentando intimida-las com minha presença, mas não surtiu efeitos.
Vendo-as continuarem com a brincadeira, resolvi repreendê-las, dizendo-lhes para pararem de jogar terra na valeta. A pequena respondeu-me:
_ Mais num é prá enterrar mesmo? Repliquei:
_ Não agora. Ela retrucou:
_ Nós só tá brincano...
Levando o caso a sério, disse-lhes:
_ É muito feio mulheres saltando buracos.
_ É, respondeu ela, mas nós só tá brincano assim porquê num tem minino homi aqui perto. E aqui, onde nós tá, num tem pirigo, não.
Diante de tais argumentos fui obrigado a concordar que continuassem a brincadeira e ainda fui promovido a "guardião" delas, a pedido das mesmas, para protege-las da malícia dos meninos.
O Ronaldinho (aquele fã da Geocasta) chegou e foi aceito na brincadeira, que passou a ser em terra firme.
Após pararem de brincar vieram agradecer-me.
Gostei delas. Assim como o Ronaldinho que, por sinal, veio trazer-me café ao amanhecer do dia de hoje. Têm personalidade, as crianças. Sabem o que querem e lutam para consegui-lo.
Bem, já escureceu. (Num tá dano prá vê as linha do caderno. Iscrevo no rumo...).
22/03/1988 |