O SEIO DIREITO DE NICOLE
Querida Nicole:
Sei que pode parecer um pouco brega escrever-te uma carta e, o que é muito pior, uma carta que pretende ser de amor. Inevitavelmente, em muitas ocasiões, a vida nos coloca em situações no mínimo complicadas. Aqui estou eu, bastante velho para essas batalhas amorosas, sem poder falar contigo e tentando esclarecer, pelo menos para minha mente, os acontecimentos que nos levaram a este momento de total desconforto.
Tudo começou naquela manhã, quando sem querer meu olhar descobriu, pela brecha maravilhosa do decote da tua blusa, um pedaço generoso do teu seio direito. Meus olhos focaram aquele contorno magnifico e o sangue ferveu instantaneamente. Foi um olhar tão intenso que me transmitiu até sensações de outros sentidos: cheiro e tato. Nossos olhares encontraram-se e acreditei ter descoberto em tuas pupilas certa cumplicidade, algo assim como uma aprovação para aquele maremoto de idéias que agitou minha alma. Por isso senti-me livre para olhar-te com mais intensidade, para buscar em teus olhos uma porta que me levasse até teu coração, por isso forcei encontros nos corredores, por isso te segui até a sala das fotocopias, fechando a porta e quase sem falar te abracei e procurei tua boca. Não esperava tua reação, não esperava teus gritos, não esperava a dureza das tuas palavras. Acreditava que entre nós existia um pacto não verbalizado, qualquer coisa que nos unisse e fizesse com que fossemos diferentes dos outros.
Depois foi como um torvelinho. Abriram a porta, alguns colegas entraram correndo e tu gritavas histérica, como se eu fosse um monstro. As vozes diferentes me deixaram confuso. Todos gritavam e alguém me empurrou com raiva. O gerente olhou nos meus olhos e me chamou de tarado, uma colega, tua amiga, repetia sem cessar : “ela é quase uma criança, louco”.
Que posso fazer? Teus gestos me deram uma esperança, teu olhar parecia dizer a toda hora que sim, que querias meu carinho, minhas mãos, meus beijos, meu amor. Não quero pedir desculpas. O amor não pede perdão; Sei que entenderás esse sentimento que me levou à loucura, que me fez perder o emprego e talvez me leve para a cadeia. Um amor tão decidido a enfrentar o sacrifício não pode deixar de ser correspondido, não pode cair em solo árido, deve crescer e frutificar. Pouco importa que tu tenhas dezesseis anos e eu sessenta e dois. O amor não tem idade.
Teu para sempre.
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