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Humor-->A semente de abacate -- 04/09/2006 - 20:18 (Jader Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A semente de abacate


A Vila de Água Doce estava esperando com ansiedade pela chegada da energia elétrica. Ao longo das ruas já estavam deitados os postes de madeira que receberiam os cabos e os braços de luz. Os comerciantes da minha rua, juntos com os poucos profissionais liberais que haviam, reuniam-se nos fins de tarde e ficavam sentados naqueles postes, a vigiá-los como se fossem seus, conversando sobre o futuro. Falavam das geladeiras e dos aparelhos de televisão que comprariam, eletrodomésticos que muitos deles sequer tinham visto. Numa dessas tardes de papo animado, eu e o meu irmão Vavá estávamos no bar prestes a fazer uma grande arte. Fizemos e depois nos arrependemos amargamente e agora conto como foi.
Tínhamos acabado de comer um saboroso abacate. Eu, que segurava a semente, pedi ao Vavá para que fosse até à rua e me indicasse a direção, o lado que seria melhor para jogar o caroço que já estava formigando nas minhas mãos. O "alvo" escolhido, segundo a intuição do Vavá, seria um grupo de senhores que conversavam no "poste dos Gevergi..." Desci para o quintal e, conforme a orientação do meu engenheiro de vôo, joguei a semente para o alto no rumo aconselhado por ele.
Viajando no ar, o pesado caroço ganhou vida própria e, como autônomo asteróide, seguiu sozinho na direção do grupo de senhores. Digo em minha defesa que não tive nenhuma culpa pelo estrago que a semente causaria no seu destino final, já que a minha pontaria nunca foi tão boa. Foi coisa de Deus ou arte do Demo. Ainda hoje, estou absolutamente convicto de que o caroço, embora tivesse sido jogado por mim, seguiu uma rota determinada pelas leis da física quântica para chegar com tamanha precisão naquele poste deitado, exatamente onde estavam os amigos do meu pai em papo animado. O mais incrível foi que, no exato momento em que o doutor Kiko Fernando —um dentista bochechudo— apreciava a beleza do céu, a semente de abacate chegava e colidia com sua gorda bochecha...
Os minutos seguintes foram dramáticos. A vítima ficou caída e inconsciente junto ao poste, a semente de abacate, —vinda do inferno, talvez—, pousada no chão ao seu lado sem que ninguém entendesse nada! Instalou-se o tumulto. As vítimas do asteróide e os autores da arte ficamos atônitos e incrédulos. Eu, porém, estava seguro, seguríssimo, de que jamais ninguém descobriria quem tinha jogado aquela semente. Esse era o meu desejo sincero!... Exceto se o Vavá desse com a língua nos dentes. Um mês depois, quando ninguém mais se lembrava do fato, e o dentista já com a sua bochecha devidamente recuperada e instalada no lugar veio ao nosso bar tomar um toddy, como sempre fazia. O Vavá, querendo ser esperto, e para meu desespero, perguntou ao homem: “Esse “vermelho" no seu rosto, doutor Kiko, o que foi que provocou?...”
Na verdade não havia "vermelho" nenhum, absolutamente, foi pura provocação do Vavá que queria provar a sua teoria de que a arte já fora esquecida. Mas ele não devia ter perguntado! Foi uma grande "bandeira". Afinal, o que poderia interessar a um menino de oito anos um fato lamentável acontecido havia mais de um mês? A proximidade da descoberta me apavorou e fugi para o quintal. Nem precisaram apertar muito. O Vavá acabou abrindo o bico e contou tudo. Contou como foi, quem foi, tudo direitinho e levou uma surra gigantesca, tão gigantesca e demorada quanto fora o atraso da descoberta. O pior de tudo é que ele não apanhou sozinho, eu também entrei na dança... Comer abacate, eu juro, nunca mais!...




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