Trechos do artigo de Víctor Lapuente Giné, professor de Ciência Política no Quality of Government Institute da Universidade de Gotemburgo (Suécia). (El País, 07/07)
1. O paradoxo é passar por uma crise económica gerada pela direita por excessos de mercado, mas os eleitores europeus estão castigando os partidos de esquerda. Por quê? Como adverte Paul Pierson, -nas sociedades pós-industriais de crescimento económico sustentado, mas modesto,e de carga tributária elevada, vivemos apertados em uma pinça. Por um lado o gasto social, que não pode aumentar neste contexto de austeridade, mas por outro lado, tampouco podem ser cortados devido a sua popularidade.
2. Como resultado, terão vantagem eleitoral os partidos que saibam tirar o máximo proveito dos recursos existentes. Em outras palavras: a batalha política sai do terreno do que deve fazer o governo, para o terreno de como deve o governo realizar estas políticas. E todos sabem que há muita margem de manobra em qualquer função de governo para isso. Os partidos de centro-direita entenderam que não podem pedir aos cidadãos exaustos de impostos, que paguem mais. Esta limitação paradoxalmente dá uma vantagem a esses partidos que se concentraram em uma batalha política tradicionalmente desdenhada, mas que a cada dia conta mais: como melhorar as políticas públicas existentes, com os mesmos recursos.
3. A esquerda se encontra ancorada no quixotesco trabalho de desenhar uma nova ideologia que outorgue um papel mais determinante à s instituições públicas, o que fica muito longe das preocupações cotidianas dos eleitores centradas em melhores escolas, hospitais, menos burocracia... Obama nos EUA e David Cameron no Reino Unido - políticos de signos diferentes apontam na direção do como melhor fazer.