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Diário do Dia a Dia
Intimidade Protegida
Qual é o ingrediente capaz de transformar cidadãos gentis em quase selvagens quando ao volante? “Ao entrar num carro - sobretudo nos veículos grandes -, a pessoa se sente como se estivesse numa cápsula, isolada do mundo e protegida de tudo”, descreve a psicóloga Marilda Novaes Lipp, Ph.D., diretora do Centro Psicológico de Controle do Stress, em Campinas. É por se sentir a salvo dos olhares alheios que algumas mulheres se maquiam no carro, outros motoristas dançam ao som da música do rádio, outros falam sozinhos ou choram, indiferentes aos olhares curiosos. Dentro do carro, diz a psicóloga Lídia Aratangy, de São Paulo, não temos nome ou rosto e estamos protegidos pelo anonimato. Isso dá uma falsa sensação de impunidade. Livres dos freios sociais, em momentos de tensão pessoas que não têm equilíbrio emocional se descontrolam e agridem.
Há outras razões para o mau comportamento. “O carro representa um poder muito grande e o poder exerce fascínio”, afirma o psicólogo clínico Salomão Rabinovich, diretor do Centro de Psicologia Aplicada ao Transito (Cepat), em São Paulo. “Quando o automóvel é ultrapassado, alguns se sentem como se o seu poder é que tivesse sido ultrapassado”, explica.
No caso dos homens, ao descontrole emocional soma-se uma agravante: o machismo. Quem garante é Jacob Pinheiro Goldberg, Ph.D. em Psicologia e Análise do Comportamento e autor do livro Psicologia da Agressividade. “Ao levar uma fechada, alguns homens sentem necessidade de mostrar ao outro que é ele quem manda.”
O sociólogo Rubens Adorno, da Universidade de São Paulo, vê mais um motivo para que as agressões no trânsito se multipliquem no Brasil. A educação individualista dos jovens de classe média e alta. “Esses jovens praticamente nascem num automóvel e quase não andam a pé, de ônibus ou de trem, onde precisam dividir o espaço com outros indivíduos.” Adorno soma a isso a desmoralização das autoridades públicas. “Quanto menos se respeita a autoridade pública, mais se têm autoridades particulares. E dentro de seus carros muitos acreditam que são autoridades.”
O artista plástico Marcos Moreira Campos de Paula, de 24 anos, de São Paulo, sabe como é isso. Ele perdeu quarenta dias de trabalho depois que um táxi bateu na traseira de seu carro. Marcos não se machucou na batida, mas teve o braço e um dedo da mão quebrados pelo taxista que a provocou. “Ele me chutou até que algumas pessoas o tiraram de cima de mim.” Muita gente assistiu à cena, mas ninguém quis testemunhar a seu favor na delegacia. Marcos foi desencorajado por policiais e advogados a continuar o caso. “Eles disseram que eu não conseguiria nada, além de mais aborrecimentos.”
Da Revista Claudia, set/97-Annamaria Marchesini e Claudia Fontoura).
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O homem procura pepitas olhando para o chão e, orgulhoso, depois de encontrá-las, passa a andar de cara para cima e, a partir de então, nunca mais voltará a encontrar riquezas (Gandhi).
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Tarciso Coelho, Crato (CE), 05.02.2021
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