Não adianta. Ainda que o domingo tenha sido ensolarado. Mesmo que o seu cunhado chato, pela primeira vez no ano tenha deixado de ir almoçar na sua casa para só sair de lá, bêbado, as nove da noite, deixando um rastro de bagunça pela casa inteira, inclusive vómito fora da bacia. Mesmo que os deuses dos estádios tenham abençoado seu time. Mesmo que sua filha adolescente tenha ido passar o domingo na casa de uma amiga, liberando a linha telefónica para você navegar, impetuoso, como um verdadeiro capitão, pelos sites eróticos da internet... não tem jeito. Segunda-feira só é suportável quando é feriado ou quando coincide com a data do pagamento. Pensando assim, dá para deduzir que o problema não é a segunda-feira em si, mas o recomeço da semana.
Recomeçar não é tarefa fácil. Experimente voltar a estudar depois de alguns anos afastado... as carteiras se tornam incómodas, os professores parecem beócios e os colegas de classe parecem ter saído do jardim de infància. Mas você, por força dos conselhos ameaçadores do chefe, comparece fielmente à s enfadonhas aulas. E, pior: faz o possível para parecer simpático.
A divisão dos dias da semana é ingrata com a segunda-feira, dia amaldiçoado por 8 entre 10 pessoas. Os outros dois são feirantes ou têm folga nesse dia. Ainda assim, sofrem da síndrome do dia-sem-amigos. Bilhar? Improvável arrumar um parceiro. Futebol com os amigos de infància? Impossível. Para os solteiros, arrumar namorada só se for para ficar perambulando pelos cinemas e ruas do Centro, a procura de uma infeliz que também desconheça o gostinho da folga no sábado ou domingo. Talvez fosse melhor se as semanas fossem subsequentes, sem interrupção. 2ª, 3ª, 4ª,
5ª... 9ª feira, e assim por diante. Já pensou? Não haveria recomeço, tampouco mau humor exagerado. As pessoas, simplesmente, se conformariam com o andar da carruagem. Nada de ansiedade para passar alguns dias a ver navios. Nada de suportar os programas televisivos do domingo. Nada de nada. Um mundo contínuo, ininterrupto, constante. Recomeçar seria um verbo excluído de todas as línguas, com o passar do tempo. Os espíritas não gostariam muito da idéia. Nem os japoneses. Muito menos aqueles que perderam algo na vida. Pensando bem, se não houvesse a possibilidade de recomeçar, a vida perderia seu charme. |
