`O mundo está acabando!´, dizia o velho sábio, empunhando uma mal acabada bengala de marfim, amarelada pelo tempo, apontando para o céu, onde nuvens negras se aproximam do pequeno vilarejo de Geraldina. É o prenúncio de tempestade e dor para aquele pequeno povo, judiado pela pobreza e pelo descaso de seus administradores.
Na vila, água potável não existe. Energia elétrica apenas quando cai um raio e o esgoto é a céu aberto. Não há nada, apenas aquelas pequenas crianças `remelentas´, de barriga inchada e que mal passam de um metro de altura, perambulando em meio à sujeira e aguardando o seu futuro incerto, mas tendo em mente a sua realidade, triste e quem sabe feliz. Feliz por ser criança, feliz por não ter ainda a consciência de adulto, feliz por não contar com o dia de amanhã. Feliz por ser natural em sua essência - ingênuo.
O vento aumenta a sua intensidade. O sol é encoberto por densas nuvens e um estrondo monstruoso é ouvido, sendo recebido em seguida por verdadeiros e literais baldes d´água. O vilarejo é invadido pelas águas de março. As vielas se transformam em poucos minutos, em verdadeiros rios. Os moradores da rua de baixo já vêem as suas casas se transformarem em verdadeiros aquários, tendo a sua vida entrando literalmente pelo ralo, que na hora do acontecimento não estava dando conta do volume d´água.
`O mundo está acabando!´, dizia novamente o velho sábio, sentado sobre a laje de uma casa, vendo apenas a desgraça dos moradores do pobre vilarejo.
O velho sábio é na verdade um espelho dos nossos governantes. Eles vêem todos os problemas existentes na sociedade e resolvem muito poucos, se é que resolvem. O mundo está acabando e, dentro de pouco tempo, nós aqui do Brasil estaremos embrenhados ao meio de uma guerra civil, se é que não estamos, já que apenas no fim de semana do dia 18 de março de 2001, 14 assassinatos foram registrados na região de Campinas. O mundo está acabando, assim como o futuro de nossas crianças. O mundo está acabando...
Mastró Figueira de Athayde é cronista e encanador
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