Não acredito em poeta, que vive trancado em seu mundo, no mundo da fantasia. E que do mundo real, sem magia, não fala bem e nem mal.
Não acredito em poeta, repito, que vive de fantasia, alheio, ao que tudo indica, à própria cidadania; indiferente ao real. Não acredito em poeta, que vive só de magia, no mundo da alegria, e que chora por covardia.
Não acredito em poeta, que insiste em escrever para dentro, deixando os outros de fora, sem entender quase nada. Não acredito em poeta, que dá valor mais à forma, do que ao próprio conteúdo. Que sobre a discórdia e a calúnia, já escreveu quase de tudo.
Escrever bem ou mal, não importa. Escrever é preciso. Abre porta. Por isso, sou a favor do tema. O tema é coisa mais importante. E disso não abro mão. Falo com sinceridade. Eu troco qualquer crase ou sinal de pontuação, por algo que seja profundo criativo. Elucidativo. Nem que sejam apenas vestígios; sinais de profundidade. Do que pareça eterno.
De que adianta falar sobre os espinhos da rosa, se no perfume não se toca; não se sente. E nem menção alguma fazer acerca da forma e do brilho? De que adianta falar dos seus dissabores? Sem conhecer os caminhos, seus autores? Caminhos que passam longe dos espinhos de todas as flores.
Não acredito em poeta, que não gosta de política. Política no bom sentido. Política que é poesia. Poesia do social. Do bem-estar, da fartura. Do alimento que cura. Da repartição, da cooperação, da fraternidade, que une e constrói com a força do coração.
Não acredito, portanto, e nem tanto, em poeta que implica. Que complica. Que conflita. Enquanto o povo padece. E a esperança esmorece. Lendo versos e versos. Sem cores e sem brilho. Versos que nos entristecem. Versos que só desinformam. Que deformam. Enganam e mentem. Versos sem harmonia. Versos sem estribilho. Que mascaram. Sem sofrimento.
Dessa gente tão carente. Desse povo maltrapilho. Que nem sequer sabe ler. Leitura do pensamento e da alma. Sem lápis e sem grafia. Leitura do dia-a-dia. Do analfabeto ou doutor.
Não acredito em poeta que vive a falar dos outros. Com palavras rancorosas. De corações petrificados. Que falam de amor e não convencem. Pedras atiradas. Seu fim a Deus pertence.
Falam de si e pra si. Sem saber. Acusam tudo que é gente. São vaidosos e arrogantes. Soberbos e ignorantes. São dignos de pena, enfim. Como se os outros fossem o não. E ele o único sim.
Não acredito em poetas, que não sabem ficar calados. Na hora que mais é preciso. Faltam-lhes bom senso. Ou faltam-lhes juízo. Não acredito nesse tipo de poeta. A menos que esteja doente. Pois o poeta é humano. Se bem que eu saiba ou não me engane. Fica doente também.
Seja por falta de crença. Que não acredita em ninguém. Seja pela indiferença, que é doença também. E aqui fica a pergunta. Será que o verdadeiro poeta adoece como a gente?
Se até a doença, em tese, ele transforma em remédio. Para o corpo e para a alma. Em gotas de belos versos. Para a alegria voltar. Dizendo que a dor ensina; que salva e determina a nossa hora final; trazendo a chance de volta; e reparar todo o mal; atravessando o portal. Chegando aos céus, afinal.
